O desempenho do varejo em janeiro indica que o consumo segue em recuperação, após os dados fracos do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre. Contudo, esse processo ainda é moderado, de acordo com os economistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Os especialistas afirmam que a expectativa é positiva para o comércio varejista em função da esperada queda do desemprego, além da inflação e do juro baixos. Assim, o volume de vendas deve crescer em torno de 3% no caso do varejo restrito e de 4% no ampliado este ano.

A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou aumento de 0,9% no varejo restrito em janeiro ante dezembro com ajuste sazonal. O dado superou a mediana de 0,50% do Projeções Broadcast, mas ficou dentro do intervalo de zero a 2,30%. No caso do varejo ampliado, houve leve queda de 0,1%, que ficou abaixo da mediana de alta de 0,05%, com as expectativas indo de -2,20% a 1,70%.

Mesmo o segundo recuo seguido no varejo ampliado não indica uma suspensão da recuperação do consumo, avalia o economista Alejandro Padron, da 4E Consultoria, uma vez que quase todos os componentes da pesquisa cresceram na comparação com janeiro de 2017. Segundo ele, não houve surpresa com o declínio na margem porque eram esperados ajustes após a alta forte de 2,4% em novembro.

“Essas taxas perto da estabilidade e oscilando não surpreendem. Não esperamos um boom para o consumo este ano. Os dados do varejo também não mudam a trajetória de retomada”, acrescenta Padron.

Os dados do varejo em janeiro ainda foram influenciados pela revisão realizada nos resultados anteriores, lembra Isabela Tavares, analista da Tendências Consultoria Integrada. Em dezembro, a queda do varejo restrito passou de 1,5% para 0,5%, enquanto no varejo ampliado houve mudança de -0,8% para -0,4%.

De acordo com Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, as revisões foram motivadas pelo ajuste sazonal e pela entrada de novas informações fornecidas pelos participantes da pesquisa, especialmente os da atividade de supermercados.

“Se não fosse a revisão, o número de janeiro poderia ter sido maior, diz a analista da Tendências, ponderando que a primeira taxa de 2018 já compensou o resultado fraco de dezembro. “A decepção com os dados do quarto trimestre, principalmente com dezembro, está sendo compensada, o que traz alívio que o consumo continua em recuperação no início deste ano.” A consultoria espera avanço de 3,2% do varejo restrito e de 4,7% do varejo ampliado em 2018.

No Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre, o consumo das famílias cresceu apenas 0,1% ante o terceiro trimestre, representando uma desaceleração das taxas de 1,1% e 1,2% registradas nos trimestres imediatamente anteriores.

Para o PIB do primeiro trimestre ante o período de outubro a dezembro, o economista-sênior do Haitong, Flávio Serrano, estima que a inclusão de novas informações na PMC pode contribuir para um melhor desempenho do consumo das famílias.

Segundo Serrano, a PMC de janeiro não mudou o quadro da atividade, que é de recuperação moderada. Porém, Serrano diz que, com a queda do desemprego e consequente aumento da massa de rendimentos, além do efeito da redução dos juros, os segmentos “começam a esboçar crescimento mais consistente”.

De maneira geral, o varejo ampliado ainda está 14% abaixo do pico alcançando em agosto de 2012, segundo o economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Já o varejo restrito está 8,9% abaixo do pico atingido em outubro de 2014.

“Apesar das leituras relativamente fracas em dezembro/janeiro, a perspectiva para o consumo e para as vendas do varejo permanecem positivas”, avalia Ramos, citando a inflação de alimentos e em geral comportada, a crescente ocupação, as melhores condições de crédito e a confiança do consumidor.