O executivo português Miguel Setas está no Brasil há mais de 10 anos e continua otimista com o País. À frente da EDP Brasil, companhia do setor elétrico com um faturamento de R$ 18 bilhões em 2017, ele acredita que 2019 será o ano em que o PIB voltará a crescer com vigor. “Independentemente do candidato que ganhar a eleição, a agenda de reformas é inevitável”, diz Setas. Em entrevista ao programa MOEDA FORTE na TV Dinheiro, que vai ao ar no próximo dia 15 de outubro, ele fala sobre os investimentos da companhia, tecnologia, inovação, entre outros assuntos. Acompanhe alguns trechos:

Qual é a posição da EDP no Brasil atualmente?
É uma empresa de energia elétrica com matriz em Portugal. Mas somos uma multinacional com presença em 14 países. Há quatro países muito importantes nos negócios da EDP: Portugal, Espanha, Estados Unidos e Brasil. O Brasil representa 20% dos resultados do grupo. Hoje a EDP tem presença em 12 Estados brasileiros, temos 15 usinas hidrelétricas, uma termoelétrica e atendemos cerca de 3 milhões de consumidores em São Paulo, no Espírito Santo e em Santa Catarina, onde temos distribuição.

Quais são os investimentos previstos para os próximos anos?
Vamos crescer muito nos negócios de transmissão. Investiremos cerca de R$ 3 bilhões, nos próximos quatro anos, nessa área em 1,3 mil quilômetros de linhas de transmissão. Hoje, olhando a empresa como um todo no Brasil, o nosso ativo é de R$ 20 bilhões.

Muito se fala ainda da privatização da Eletrobras. Está de olho em algum ativo?
A Eletrobras é nossa parceira em alguns ativos e temos interesse de comprar a participação da Eletrobras nesses ativos.

A EDP Brasil tem como regra atuar em Estados que possuem um bom ambiente de negócios. Como é essa estratégia?
Com 23 anos de Brasil, aprendemos a conhecer o País e aprendemos a ver onde nossas competências e o nosso modo de fazer negócios são bem recebidas. Portanto, temos muito cuidado na seleção dos mercados onde investimos. Por isso, estamos em São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina no mercado de distribuição.

Mas o que traduz um bom ambiente de negócios?
São ambientes de negócios do ponto de vista das regras, do funcionamento do judiciário, do licenciamento ambiental, do mercado de trabalho. Encontramos isso nos estados em que atuamos.

O Brasil ainda vive a incerteza com as eleições presidenciais. Como o senhor enxerga essa disputa?
O Brasil deu mostras de uma maturidade e mostrou a consolidação da democracia. Revelou uma intenção de renovação que os brasileiros levaram às urnas. E, ao contrário do que você perguntou, o cenário agora ganhou uma maior clareza. Creio que há condições para um quadro econômico mais estabilizado e esperamos o relançamento para o crescimento econômico. Esperamos que isso volte no começo do ano que vem, com a confiança dos investidores e o regresso do investimento estrangeiro.

Mas o senhor acredita que as agendas econômicas que têm sido propagas pelos candidatos serão colocadas em prática?
Independentemente do candidato que ganhar a eleição, a agenda de reformas é inevitável.

A EDP Brasil criou, em parceria com a BMW e a rede Ipiranga, o maior corredor de recarga de carros elétricos na Rodovia Dutra. De onde veio a ideia?
Este caminho da descarbonização do mundo, da substituição de carros com motores a combustão, é inevitável. Alguns estudos mostram que cerca de 30% da frota mundial de carros serão elétricos até 2040. Hoje, o Brasil conta com três mil carros elétricos e híbridos dentro de uma frota de 43 milhões de carros. Mas daqui a dez anos a previsão é ter 360 mil veículos elétricos e híbridos no País. Quisemos mostrar ao mercado que esta é a tecnologia do futuro e que a EDP é uma empresa que pretende estar na dianteira da inovação.

Recentemente, a EDP anunciou a criação de uma fazenda solar para abastecer 58 agências do Banco do Brasil em Minas Gerais. Há planos para fazer novos projetos?
Esse é um projeto grande, ocupa 15 campos de futebol. Mas temos outras em construção para outros clientes. Uma delas, por exemplo, vai ocupar 30 campos de futebol e está sendo construída para uma empresa de shopping center. É um negócio de evolução exponencial no Brasil.

(Nota publicada na Edição 1091 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Hugo Cilo)