O anúncio de negociação para uma combinação de negócios entre a americana Boeing e a Embraer fez as ações da companhia brasileira dispararem nesta quinta-feira, 21, na B3 (nova denominação da Bolsa paulista). Com o salto de 22,5% ao fim do pregão, para R$ 20,20, o valor de mercado da Embraer superou R$ 15 bilhões, ou R$ 3 bilhões a mais do que na véspera. Na máxima, o papel chegou a R$ 23, com valorização de 40%.

O grande interesse da Boeing na Embraer reside no segmento de aviação regional, atendido por aeronaves com cerca de cem lugares, disse André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company e especialista em aviação. “Embora a Embraer tenha bons produtos de uso militar, a Boeing é um colosso no setor”, disse. “Os aviões da Embraer no setor são mais de transporte e treinamento do que, propriamente, de combate, o que fez o Brasil comprar caças suecos.”

O movimento da Boeing também seria uma forma de a americana se proteger do acordo firmado entre a franco-alemã Airbus e a canadense Bombardier, nesse mesmo segmento, em outubro. Conversas nesse sentido foram noticiadas pela colunista Sonia Racy em 21 de outubro, logo após o acordo entre Bombardier e Airbus. Para Jorge Leal, especialista em aviação e professor da USP, a Embraer teria menor necessidade de formar uma parceria do gênero. “A Embraer vem se dando melhor no mercado do que a Bombardier”, disse.

Na visão de analistas de mercado, a potencial união com a gigante americana poderia ser benéfica à Embraer. O BTG Pactual calculou que o prêmio ante a avaliação atual da empresa brasileira poderia chegar a 50% e estimou o negócio em US$ 15 bilhões (mais de R$ 50 bilhões).

O BTG lembrou, porém, que as ações da Embraer vinham sendo negociadas em patamar bastante baixo. Com as dificuldades enfrentadas no ano passado, a empresa viu o preço de seu papel perder quase 50% – saindo de R$ 29,19, ao fim de 2015, para R$ 15,54, em dezembro de 2016. Ao longo deste ano, mesmo com a melhora dos dados do balanço, o ânimo dos investidores com o papel foi bem limitado.

Entre 1.º de janeiro e 20 de dezembro de 2017, o papel ON da Embraer havia avançado 6,11%, para R$ 16,49, uma alta de pouco mais de 6%. O desempenho da fabricante ficou bem abaixo do Ibovespa, que acumulava ganho de mais de 20% até quarta-feira.

Prós e contras. Ao se associar à Boeing, a Embraer ganharia acesso a clientes e a capital mais barato para seus aviões de médio porte, segundo Castellini, da Bain & Company. No entanto, o especialista ressalvou que, qualquer que seja o desenho do acordo – aquisição de todo o negócio ou parceria específica na aviação regional -, a fabricante colocaria em risco uma de suas principais vantagens: a agilidade. “A Embraer é vista como uma empresa capaz de trazer bons produtos de forma rápida ao mercado”, explicou. “Ao se tornar subsidiária de uma gigante, esse poder de decisão seria reduzido.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.