O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, disse nesta terça-feira, 16, que a companhia não se lançará em aventuras de compras de empresas sem necessidade. “Empresas do setor têm histórico de mau uso de caixa. No superciclo, geraram US$ 1,2 trilhão de caixa livre e gastaram grande parte disso em aquisições. Não nos lançaremos em aventuras de compras de empresas, porque a Vale não precisa”, afirmou, ao participar da abertura do FT Commodities Americas Summit, evento realizado no Rio pelo Financial Times.

De acordo com Schvartsman, o fluxo de caixa livre este ano será de US$ 10 bilhões, sem contar os desinvestimentos, que já superaram a meta estipulada para 2018. Com isso, a questão da dívida da companhia saiu do horizonte. O maior uso do caixa, porém, será na política de dividendos e de recompra de ações, garantiu.

“Temos perspectiva de aquisição em minério de ferro ou metais base no Brasil de pequena escala. Serão aquisições de pequenas montas. Temos excesso de caixa. Nesse momento provaremos que queremos focar no retorno ao acionista”, afirmou o executivo.

Ele conta que 80% da produção é de minério de alta qualidade, cuja demanda continua forte devido às exigências da China para reduzir poluição. Segundo o executivo, embora o setor viva um momento de elevada volatilidade por conta da guerra comercial entre Estados Unidos e China, a mineradora brasileira experimenta um bom momento. “Temos posição privilegiada na China, pela qualidade do nosso minério.”

O presidente da mineradora destacou a infraestrutura que dispõe na Ásia para atender esse mercado e ressaltou o incremento nos prêmios do minério de ferro de maior qualidade. “Temos 16 portos na China e cobrimos a costa chinesa inteira com capacidade de blendagem, que alcança 120 milhões de toneladas.”

Ainda de acordo com Schvartsman, desde 2016, a Vale teve incremento US$ 7 de prêmio pela qualidade em 400 milhões de toneladas de minério de ferro, completou.

Confiança sobre preço

O presidente da Vale disse estar confiante que a cotação do minério de ferro se manterá na casa de US$ 65 a tonelada e que não cairá de patamar.

“O preço está subindo quase diariamente, em função do consumo. A demanda existe. Muitos investimentos em infraestrutura estão ocorrendo agora. Além disso, temos a questão da qualidade, que está destacando a Vale da outras mineradoras. Assim, estamos em posição privilegiadíssima na China”, afirmou o executivo.

Em sua palestra, Schvartsman destacou que 80% do portfólio de minério de ferro da Vale é de alta qualidade, o que garante uma posição vantajosa em relação à concorrência.

Níquel

O presidente da Vale disse ainda que a companhia concilia um momento excepcional do mercado de minério com um potencial muito bom no mercado de níquel. A empresa enfrenta, porém, o desafio de reduzir custos na exploração de níquel.

Segundo ele, o negócio de níquel não era integrado e a Vale tinha pouca interferência no que acontecia na operação no Canadá. Agora, ele garante que a empresa tem total responsabilidade no que acontecerá e que poderá reduzir em bilhões de dólares os custos.

Para Schvartsman, o crescimento do mercado de níquel é importante para a Vale porque a empresa possui as maiores reservas do mundo para uso em baterias para carros elétricos. Mesmo assim, ele disse que mantém a “decisão consciente” de aguardar o melhor momento de preços. A empresa definiu como parâmetro para intensificar a produção o valor de US$ 20 mil/t e a cotação hoje está em torno de US$ 13 mil/t.

Declarações sobre Bolsonaro

Questionado sobre as manifestações do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, em relação aos interesses da China no Brasil, o presidente da Vale disse que tem esperança de que o eleito receba informações sobre a complementaridade entre as economias chinesa e brasileira. Segundo ele, a companhia tomou cuidado de não conversar com nenhum dos candidatos durante a disputa, mas pretende buscar a aproximação após a eleição.

“O que a China precisa é o que o Brasil tem e o que o Brasil precisa é o que a China tem”, disse ele, frisando que a preocupação da Vale com a guerra comercial entre China e Estados Unidos é pequena, mas que disputas comerciais não são boas de uma forma geral. “Para a Vale, preocupação é pequena, tendo em vista mútua dependência Vale-China, mas disputas não são boas para ninguém”, completou.

Questionado sobre suas expectativas em um eventual governo de Bolsonaro, Schvartsman disse ter expectativas positivas sobre quem quer que seja o presidente. “Não é diferente com Bolsonaro. Estava na hora de uma mudança. Brasil quis mudar e mudança levará a alguma coisa melhor”, afirmou.