O grupo brasileiro Vale anunciou nesta quarta-feira a venda de sua planta de níquel na Nova Caledônia a um consórcio neocaledônio e internacional, com participação da empresa Trafigura, que comercializa matérias-primas, o que gerou uma forte oposição do movimento independentista.

Vale adia venda da fábrica de níquel na Nova Caledônia

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“O consórcio liderado pela direção e os funcionários da Vale Nova Caledônia (…), com a Trafigura como acionista minoritário, tem o prazer de anunciar que concluiu um acordo para a compra das partes da Vale Nova Caledônia que pertencem a Vale Canada Limited, uma filial da Vale S.A”, informou em um comunicado a empresa local.

A Vale NC explica que “esta solução de compra garantirá a continuidade da exploração e do desenvolvimento da usina com o respeito de suas responsabilidades sociais e ao meio ambiente por uma nova empresa (que recebeu o nome) Prony Resources, na qual investidores locais controlam 50%”.

“O projeto de empresa Prony Resources permitirá garantir mais de 3.000 empregos diretos e indiretos”, declarou Antonin Beurrier, atual presidente da Vale NC.

Depois de perder bilhões de dólares, a Vale anunciou no fim do ano passado a intenção de deixar a Nova Caledônia, um território francês onde opera uma usina metalúrgica de níquel e cobalto, próxima à rico e estratégica jazida de Goro.

A usina, que enfrenta grandes dificuldades técnicas, foi redimensionada antes de ser colocada à venda e fabrica um produto intermediário chamado ‘Nickel Hydroxyde Cake’, (NHC) destinado ao mercado de baterias de carros elétricos.

A compra da fábrica é uma questão muito polêmica, que provoca tensões entre independentistas e não independentistas.

O anúncio da operação aconteceu depois de vários dias de bloqueios e confrontos com as forças de segurança devido à “oposição total” à presença da Trafigura por parte dos independentistas da FLNKS (Frente de Libertação Nacional Socialista Kanak), do grupo “Usine du sud: usine pays” e do fórum de negociação autóctone (ICAN).

Estas organizações, que defendem o nacionalismo da área de mineração, apoiavam uma oferta distinta, em associação com a Korea Zinc, que foi rejeitada pela Vale antes que o grupo coreano anunciasse na segunda-feira a saída da disputa.

Nesta quarta-feira, a violência aumentou com bloqueios nas estradas dos opositores à venda e contra-bloqueios em Paita, ao norte de Noumea.

Durante a noite, um posto de combustível foi incendiado em Mont-Dore e todos os postos permanecerão fechados na quinta-feira “para obrigar o Estado a manter a lei e a ordem”.

“Grupos armados atacaram de maneira reiterada as forças de segurança. Confrontos sucessivos aconteceram ao longo da noite e lamentamos lojas incendiadas, um parque saqueado e um ferido entre os bombeiros”, afirmou o prefeito de Mont-Dore, Eddie Lecourieux, em um comunicado.

Entre 500 e 1.000 pessoas que criticavam a inação do Estado se reuniram na terça-feira à noite em um ato convocado pelo ex-prefeito de Paita Harold Martin. Eles instalaram barreiras e convocaram “os cidadãos à defesa”.

Diante da escalada de distúrbios, o alto comissário Laurent Prévost proibiu o porte e o transporte de armas de fogo e armas brancas.

O ministro de Ultramar, Sébastien Lecornu, terá uma reunião na quinta-feira por videoconferência com os principais políticos da Nova Caledônia para abordar a questão, mas os independentistas anunciaram um boicote ao encontro.