Os primeiros dias de setembro serão lembrados em Wall Street como a época do crash que não houve. Nos dois pregões imediatamente anteriores e no pregão posterior ao feriado americano do Dia do Trabalho, que coincidiu com o nosso 7 de setembro, o índice de ações Nasdaq amargou uma queda de 10%. Na quarta-feira (9), a alta foi de quase 3%. E não se descartam novos solavancos dessa magnitude nos próximos dias. Fim dos tempos?

Resposta rápida: não. A queda teve uma causa específica: a correção de ações que haviam subido demais. O que agitou o mercado foram as oscilações abruptas das expectativas dos investidores com relação às empresas de tecnologia. Daí os solavancos no Nasdaq, onde elas são mais importantes. Os papéis do Facebook, da Amazon e da Netflix, entre outras, recuaram fortemente.

Essas ações vinham sendo as queridinhas dos investidores após a pandemia, mas perderam muitos e variados pontos na preferência dos investidores com a percepção que seus preços estão elevados e que o cenário que motivou a alta pode estar mudando. Também houve o impacto não recorrente da não inclusão das ações da Tesla do índice S&P 500. As ações da fabricante de automóveis de Elon Musk recuaram pouco mais de 21% na terça-feira (8), o que retirou 80 bilhões de dólares em valor de mercado da empresa. É mais do que valem as montadoras Ford e General Motors – somadas.

US$ 80 Bilhões Elon Musk, fundador da Tesla: frustração com não inclusão das ações no S&P 500 custa mais do que Ford e GM somadas. (Crédito: Win McNamee)

NORMALIDADE No entanto, apesar de um cenário aparentemente tenebroso, é possível entender as causas da queda e as razões para a alta dentro da mais perfeita normalidade do mercado. Amazon, Facebook e Netflix vinham sendo as mais beneficiadas pelas medidas de contenção da pandemia. Com consumidores retidos em casa ou em home office, a tendência é de crescimento das compras on-line, do tempo passado conversando nas redes sociais, ou assistindo a filmes e maratonas de séries. As perspectivas de relaxamento das medidas de contenção e da volta de algo mais próximo da situação anterior à pandemia dispararam uma correção nas cotações. E como essas ações vinham sustentando recordes sucessivos no Nasdaq e nos demais índices, muitos investidores aproveitaram para colocar dinheiro no bolso.

Vai subir ou vai cair? O cenário de fundo para a alta da bolsa permanece presente. A reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), marcada para terça-feira (15) e quarta (16), não deverá trazer nenhuma surpresa. O Fed deve confirmar as inúmeras declarações de Jerome Powell e dos demais executivos, de que os juros baixos e as medidas de estímulo econômico pela generosa injeção de liquidez vieram para ficar.

Portanto, apesar da baixa acentuada nos pregões da primeira semana de setembro e do tombo de 4,1% no índice Nasdaq da terça-feira (8), o cenário para o mercado acionário americano permanece sendo de alta, e muitos investidores ao redor do mundo deverão aproveitar o momento de liquidação para ir às compras. E sempre é bom lembrar: apesar de todos os solavancos, o Ibovespa encerrou a terça-feira acima do nível psicológico de 100 mil pontos, mostrando a resiliência das cotações por aqui também.