Os vaga-lumes gostam de brilhar à noite, mas têm dificuldade em acasalar quando a luz artificial é muito forte, revela um estudo divulgado nesta quarta-feira (10) que alerta para os efeitos da poluição luminosa em alguns insetos.

O impacto das lâmpadas no comportamento de muitos animais noturnos já foi comprovado. É o caso da mariposa noturna, que confunde a luz elétrica com a Lua e acaba morrendo de exaustão.

Mas é difícil prever o impacto da luz artificial cada vez mais invasiva à noite – sua intensidade quase dobrou nos últimos 25 anos – em animais acostumados à escuridão por milênios: as espécies expostas se adaptarão, encontrarão refúgio em céus mais escuros, ou declinarão?

Para compreender melhor a situação, os cientistas analisaram os vaga-lumes, algumas espécies (há mais de 2.000) são consideradas em declínio de acordo com a lista vermelha de espécies ameaçadas da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), embora faltem dados para avaliar isso. Em causa: perda de habitat, pesticidas… e poluição luminosa.

Dois pesquisadores da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, mediram diretamente os efeitos da luz artificial à noite no acasalamento desses coleópteros bioluminescentes.

Desta vez, os especialistas focaram na família Photinus, vaga-lumes muito presentes na América do Norte.

Os vaga-lumes emitem luz (uma reação química no abdômen) para encontrar um parceiro.

Machos adultos piscam flashes, aos quais as fêmeas interessadas respondem.

Os cientistas usaram minúsculas lâmpadas LED para imitar os sinais luminosos das fêmeas ao anoitecer, nas proximidades de uma floresta.

O resultado foi que 28 dos 29 machos que detectaram esses sinais se aproximaram dessas “falsas” fêmeas, explica o estudo publicado na revista científica Royal Society Open Science.

A experiência foi reproduzida em campo aberto, com 34 pares de outra espécie de Photinus.

O observador posicionado com uma lâmpada lançava sinais luminosos a um macho em busca de uma parceira, ou deixava os insetos para que acasalasse no escuro.

A iluminação artificial afetou significativamente os insetos vítimas da armadilha.

Em laboratório, os biólogos conseguiram reproduzir o experimento, com medições precisas.

Com um crepúsculo natural, 45% dos casais copularam com sucesso – ou seja, até a liberação do espermatóforo permitindo a reprodução. Idem sob luz artificial fraca (3 lux, a unidade que mede a renderização da iluminação). Mas a 30 lux, nenhum dos 20 pares conseguiu acasalar.

O estudo conclui que a poluição luminosa necessariamente contribui para o declínio de algumas espécies de vaga-lumes – mas não de todas – e recomenda estender esse tipo de pesquisa para melhor direcionar os esforços para proteger espécies ameaçadas.