Por Maggie Fick e Edward McAllister

SEKENANI, Quênia (Reuters) – Quando um grupo chegou à clínica de saúde de Sekenani, no interior do Quênia, para receber vacinas contra Covid-19 recentemente, funcionários disseram que as doses haviam acabado e que eles deveriam voltar em breve.

Para alguns, isto significava uma longa viagem a pé desperdiçada e um dia longe de seus rebanhos de gado.

Mas o condado de Narok, onde a clínica se localiza, não estava com escassez de vacinas, já que quase 14 mil doses esperavam em um refrigerador na cidade mais próxima, situada a 115 quilômetros de distância. Um mal entendido com autoridades do condado fez com que Sekenani não recebesse o suficiente, disseram dois profissionais da saúde.

O deslize no vilarejo localizado 270 quilômetros a sudoeste da capital Nairóbi ilustra os desafios que as nações africanas enfrentam no combate à Covid-19: embora os suprimentos de vacina finalmente estejam aumentando, administrá-las está se mostrando a parte difícil.

Campanhas de vacinação bem-sucedidas na África são vitais para acabar com a pandemia globalmente, dizem especialistas em saúde. As taxas de inoculação baixas do continente estimulam mutações virais, como a nova variante Ômicron que se dissemina pela África do Sul e que provoca uma nova onda de restrições de viagem internacionais.

Só 102 milhões de pessoas, ou 7,5% da população continental, estão totalmente vacinadas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que alertou que a desigualdade vacinal prolongará a pandemia.

Governos africanos estão apelando por mais suprimentos de vacina neste ano, mas problemas de produção e o armazenamento de países mais ricos limitavam a distribuição de forma séria até recentemente.

Uma escassez de fundos, pessoal e equipamento médico, além da desconfiança das vacinas, já estavam prejudicando campanhas de vacinação em algumas partes da África. A leva de milhões de doses esperada nas próximas semanas poderia expor estas fragilidades ainda mais, alertam especialistas.

Cerca de 40% das vacinas que já chegaram ao continente não foram usadas, de acordo com dados do centro de estudos Instituto Tony Blair para a Mudança Global.

A taxa de uso das vacinas terá que quadruplicar para acompanhar as remessas nos próximos meses, disse o instituto.

As taxas de vacinação variam amplamente no continente de mais de 1 bilhão de pessoas, e alguns sistemas de saúde de países relativamente pequenos do norte da África estão tendo mais sucesso.

(Reportagem adicional de Francesco Guarascio em Bruxelas)

((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447759))

REUTERS ES

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