08/04/2021 - 15:18
A desconfiança em relação à vacina AstraZeneca cresce apesar dos esforços de governos e autoridades internacionais, enquanto a Índia anunciou um recorde de infecções por coronavírus nesta quinta-feira(8).
Vários países anunciaram nesta quinta-feira que vão limitar o uso da vacina da AstraZeneca, um dia depois de vários relatórios terem confirmado uma ligação entre ela e casos de coágulos sanguíneos muito raros detectados em pacientes que a receberam.
As Filipinas suspenderam seu uso para menores de 60 anos e a Austrália, para menores de 50 anos.
Na véspera, Itália e Espanha anunciaram que o imunizante do laboratório anglo-sueco só será usado em maiores de 60 anos, enquanto a Bélgica reservou para maiores de 55 e o Reino Unido, para maiores de 30 anos.
França e Alemanha já haviam tomado medidas semelhantes. No entanto, a região espanhola de Castela e Leão (noroeste) decidiu suspender completamente o seu uso, como fez a Dinamarca.
Algumas decisões tomadas apesar da comissária europeia para a Saúde, Stella Kyriakides, apelar aos 27 países da União Europeia (UE) para “falarem a uma só voz” para não suscitarem a desconfiança em relação à vacina, com a qual Bruxelas conta em uma boa parte de sua campanha, atrasada em relação aos Estados Unidos e ao Reino Unido.
– Alemanha discute sobre a Sputnik V –
A Alemanha anunciou nesta quinta-feira que quer conversar com Moscou sobre as possíveis entregas de sua vacina Sputnik V, sem esperar a autorização da UE.
“Expliquei ao Conselho de Ministros da Saúde da UE que discutiríamos bilateralmente com a Rússia, para saber quando e quais quantidades poderiam ser entregues”, disse o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, que também disse que a Comissão Europeia não quer negociar a compra do Sputnik V em nome do bloco comunitário.
A UE não é a única preocupada com os atrasos em sua campanha, já que a Indonésia relatou atrasos nas entregas de mais de 100 milhões de doses da vacina AstraZeneca, principalmente devido à imposição de restrições à exportação pela Índia.
Nova Delhi, que abriga o maior fabricante mundial de vacinas (IBS), decidiu priorizar a vacinação de sua população.
Nas últimas 24 horas, na Índia (1.300 milhões de habitantes) foram registrados mais de 126.000 novos casos de covid-19, enquanto até o momento apenas 87 milhões de doses da vacina foram administradas. Segundo a mídia local, há escassez do precioso soro em vários estados, como Maharashtra, onde fica Bombaim.
Pelo menos 708,4 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 foram administradas em todo o mundo, de acordo com uma contagem da AFP baseada em fontes oficiais.
O programa Covax, que visa garantir o acesso às vacinas anticovid para os países mais pobres, expressou seu apoio à AstraZeneca e ficou satisfeito por ter levado a vacinação para mais de 100 territórios ou países ao redor do mundo.
– Desigualdades de acesso –
No entanto, existem fortes desigualdades entre os países de “alta renda”, segundo os termos do Banco Mundial, onde se concentram mais da metade das doses administradas, e os países de “baixa renda”, onde foram administradas apenas 0,1%. doses.
A África continua “à margem”, com apenas “2% das vacinas administradas no mundo”, denunciou nesta quinta-feira o diretor para a África da Organização Mundial de Saúde (OMS), Matshidiso Moeti.
Em contrapartida, nos Estados Unidos, o país mais sofrido pela pandemia, com cerca de 560 mil mortes, foram injetadas 3 milhões de doses diárias em média na última semana e a previsão é de que a partir de 19 de abril todos os adultos possam ser vacinados.
A pandemia já causou 2,89 milhões de mortes no mundo, segundo balanço da AFP.
– Situação “preocupante” na América Latina –
Na América Latina, onde a pandemia causou 811.360 mortes e mais de 25,6 milhões de infecções, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou na quarta-feira que a situação é “preocupante”, pois “os casos [de covid-19] aumentam em quase todos os países.”
Neste contexto, a Argentina anunciou um toque de recolher noturno a partir de sexta-feira, por três semanas. Cuba aplicará sanções e campanhas com mais rigor, depois que o vírus deixou registros diários de mais de 1.000 casos na última semana.
O coronavírus também bate recorde no Brasil (212 milhões de habitantes), segundo país do mundo mais atingido pela pandemia em termos absolutos, com 340.776 mortes.
O prestigioso instituto brasileiro de pesquisas Fiocruz alertou que, sem o “remédio amargo” das medidas de confinamento, “a pandemia pode permanecer em níveis críticos em abril”.
Mas o presidente Jair Bolsonaro, que se opõe às medidas restritivas que alegam danos à economia, descartou: “Não haverá lockdown nacional”, disse ele.