Os uzbeques votaram neste domingo em eleições legislativas que podem marcar o início da transição democrática após 30 anos de governo autoritário, que foi instalado no país após a dissolução da União Soviética.

O presidente Shavkat Mirziyoyev lançou uma política de reformas e abertura após a morte em 2016 de seu brutal antecessor Islam Karimov.

A votação foi encerrada às 20h00 (12h00 de Brasília) nesta antiga república soviética, e os resultados serão anunciados segunda-feira.

As opções de voto foram limitadas a cinco partidos oficiais, e nenhum opositor ou partido independente foi autorizado a participar. A novidade é que o presidente incentivou essas formações a competir entre si.

Estes foram o Partido Liberal Democrático, a principal formação pró-governo, o Partido Nacional para a Renovação Democrática, o Partido Popular Democrático, o Partido Social Democrata e o Movimento Ecológico do Uzbequistão.

São disputadas 150 cadeiras na câmara baixa do parlamento, onde a principal força é, com 52 legisladores, o Partido Liberal Democrático, que ungiu Mirziyoyev.

Uma novidade das eleições é que os cidadãos se atreveram a expressar suas expectativas, em um país com problemas de acesso a eletricidade e gás devido a infraestruturas obsoletas. Também estão preocupados com o custo de vida.

O presidente Mirziyoyev votou por volta do meio dia em uma escola em Tashkent, onde chegou com sua família, incluindo sua filha Saida Mirziyoyev, nomeada em abril a um alto cargo no governo.

“Estamos fazendo história e as pessoas sabem”, disse o presidente após depositar sua cédula e parabenizou os partidos por debaterem durante a campanha.

Duas horas antes do fechamento das assembleias de voto, a taxa de participação era de 68%, segundo a comissão eleitoral.

Abdusamant Yuldashev, de 20 anos, explicou à AFP que votou “por justiça e equidade na sociedade uzbeque”. “Quero que nosso padrão de vida aumente, nossa educação melhore”, acrescentou este jovem que votou no Partido Social Democrata.

Mamura Mirzajmedova, aposentada de 69 anos, disse que não votaria e expressou sua raiva contra “os preços subindo em todos os lugares”.

Uma recente reforma econômica causou uma aceleração da inflação.

Expressar opiniões publicamente era quase inconcebível sob o mandato de Islam Karimov, cujo regime fez reinar o medo.

Shavkat Mirziyoyev, que assumiu o poder em 2016 após a morte de seu antecessor, convocou os candidatos à campanha para se encontrarem com os eleitores e criticou a passividade dos deputados cessantes.

Depois de quase três décadas de regime brutal, o ex-primeiro-ministro do falecido chefe de Estado adotou uma política de reforma prudente, abrindo o país ao turismo e ao investimento.

Entre suas medidas: gestos tímidos de liberalização do sistema político, com a libertação de cerca de trinta opositores da prisão e os primeiros passos para erradicar a tortura.

Os observadores eleitorais da OSCE estimam que ainda existem muitas características do regime anterior e viram “poucos sinais de campanha” nas eleições.