A geração de energia usando o carvão mineral como combustível no Brasil passou a ser bancada com dinheiro chinês. Sem o apoio do BNDES para financiar seus projetos, a Eletrobrás recorreu ao China Development Bank (CDB) para financiar a reforma de sua usina Candiota 3, no Rio Grande do Sul.

Paralelamente, a empresas também fechou um contrato de R$ 230 milhões, sem licitação, com a empresa chinesa Citic Guo Hua International, que fará a revisão geral da usina. Trata-se de um valor bem acima dos R$ 130 milhões que a empresa havia estimado para o serviço dois anos atrás.

O banco estatal CDB, que atua como uma espécie de BNDES chinês, passou a ser mais acionado desde outubro de 2016, quando o banco brasileiro de fomento mudou suas condições de financiamento à energia elétrica, dando prioridade às fontes alternativas, como a solar, e extinguiu o apoio a térmicas a carvão e a óleo. O plano de renovação de Candiota 3, usina que tem 350 megawatts de potência, prevê que a planta fique paralisada por 90 dias.

A reportagem questionou a Eletrobrás sobre a decisão de contratar uma companhia de outro país com dispensa de licitação e se outras empresas foram consultadas. Por meio de nota, a estatal informou que se trata de um “fornecedor que detém a expertise desta usina” e que a planta “opera com alto teor de cinzas”.

Sobre o valor do contrato, a Eletrobrás declarou que o custo “foi avaliado através de análise de razoabilidade de preços baseada em propostas de fornecedores similares, para efeito comparativo com os preços dos equipamentos originais que foram projetados para esta usina”. Quanto ao financiamento chinês, a estatal lembrou que o BNDES acabou com o apoio às térmicas a carvão e óleo. A decisão foi anunciada pelo banco em outubro de 2016.

A reforma geral da usina, conhecida no setor pelo jargão de “overhaul”, está programada para ser feita até o fim deste ano.

Política. Representantes do setor de carvão esperam que o BNDES reveja sua política de financiamento, para que volte a bancar ao menos a renovação de projetos que estão em andamento. Nas contas da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), há cerca de 1,3 mil megawatts de geração que podem ser alvos desses projetos, envolvendo investimentos da ordem de US$ 5 bilhões. “O apoio do BNDES é vital para o setor. Temos demonstrado ao banco a relevância dessa parceria”, disse o presidente da ABCM, Fernando Luiz Zancan. O assunto foi tema de uma reunião recente entre agentes do setor e representantes do banco.

Perguntado sobre o assunto, o BNDES confirmou que recebeu uma delegação de empresas ligadas à produção de carvão mineral, além de representantes da própria ABCM, solicitando que o banco volte a financiar usinas termoelétricas a carvão mineral. “Porém, atualmente esse investimento não é financiável, de acordo com as políticas operacionais do BNDES”, declarou.

Sobre a criação de um programa de apoio à renovação desses projetos, o banco foi taxativo ao declarar que, “no momento, o BNDES não avalia isso”.

A energia a carvão, considerada mais poluente, vem perdendo espaço em todo o mundo. No mês passado, o presidente da estatal norueguesa Statkraft, Christian Rynning-Toennesen, disse esperar uma transição mais rápida para energias renováveis no mundo, uma vez que o custo de novas usinas solares e eólicas deverá cair e se tornar mais baixo que a geração a carvão na próxima década, mesmo sem subsídios. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.