A moda é parte intrínseca das redes sociais. Do “Arrume-se comigo” aos “Fashion hauls”, as plataformas permitem a afirmação de estilo, ao mesmo tempo que ajudam a ditar tendências de consumo. Com a evolução dos algoritmos e a possibilidade de alcançar um público cada vez mais globalizado, muitas marcas surgem para atender a um perfil de pessoas que desejam roupas do momento de forma quase instantânea e por preços baixos. Nesse cenário nasceu a Urbanic, marca nativa digital pensada para um público consumidor em ascensão: a geração Z, que domina as redes sociais.

Com quatro anos de operação e faturamento de US$ 400 milhões em 2021, ela espera chegar a US$ 10 bilhões nos próximos cinco anos. E o Brasil é parte importante dessa estratégia. Os planos de investimento no País são de US$ 80 milhões até 2023 e incluem a fabricação em território nacional.

A Urbanic nasceu em Londres mas não vende nada para os ingleses e nem para outros países desenvolvidos. Seu público de interesse é outro: os emergentes, como Brasil, Índia e México. Tendo a tecnologia como base para a sua operação, pode ser considerada uma empresa do segmento que vende roupas. Os algoritmos definem o que será produzido, em qual escala e o que será oferecido no feed do aplicativo para seus mais de 10 milhões de usuários. Para direcionar a compra, aprendem os gostos dos clientes e sugerem produtos alinhados às suas vontades.

Claudio Gatti

“Não demora muito para identificarmos uma tendência e produzir o que acreditamos ser bons designs” James Wellwood sócio da Urbanic.

Esse modelo de operação digital garante a velocidade necessária que a moda exige, especialmente quando o segmento é o fast fashion. O espaço de tempo entre aquilo que é desfilado nas passarelas e a absorção das tendências pelas marcas populares e sua consequente viralização nas redes sociais está cada vez menor. Com isso, ter a capacidade de prever tendências e produtos que serão mais requisitados é essencial para sobreviver em um mercado competitivo. De acordo com a consultora em gestão de negócios da moda Francine Pacheco, esse movimento se encaixa na era de velocidade e facilidade de informação. “O ciclo de vida do produto é muito mais curto e voltado para lançamentos. O público quer novidades a todo momento”, afirmou.

Como setembro é o mês das principais semanas de moda, é bem provável que as próximas peças da Urbanic se baseiem nas cores verde ou laranja que predominaram nos desfiles de Londres e Nova York. “É muito rápido. Não demora muito para identificarmos uma tendência e produzir o que acreditamos ser bons designs”, disse o sócio e líder de desenvolvimento de negócios da Urbanic, James Wellwood. No aplicativo da Urbanic há também releituras da moda dos anos 2000 e elementos que marcaram o mundo fashion ao longo do ano, caso do Pink PP da grife Valentino, encontrado em diversas peças.

SUSTENTABILIDADE Como fast fashion e sustentabilidade são conceitos opostos, as empresas do setor têm feito investimentos para contornar o problema, criando soluções para uma produção mais responsável e com menos resíduos. Na Urbanic, o modelo é operar sem estoque, além de priorizar embalagens biodegradáveis e diminuir a pegada de carbono aproximando mais a operação de seus mercados consumidores. O grande desafio, porém, se dá no próprio modelo de negócio, baseado no consumo excessivo de produtos com data de validade curta. Segundo Wellwood, a Urbanic entende que oferecer produtos para os consumidores baseados nos gostos de cada um ajuda a diminuir essa compra por impulso. “A tecnologia é a chave para a sustentabilidade”, disse. Ele também afirmou que a marca “não passa perto” de fábricas cujas condições de trabalho sejam precárias, algo comum no segmento.

No Brasil desde 2021, a Urbanic inaugurou em agosto um centro de distribuição em Carapicuíba (SP), com área de 20 mil m2 e capacidade de armazenamento de 2 milhões de itens. O espaço garante a diminuição do tempo de entrega de 22 dias para apenas sete. A nacionalização da produção ainda não tem data certa, embora Wellwood afirme que será em breve. Atualmente, 300 fábricas na Ásia atendem à demanda.

Dominando a fórmula de comunicação com o público mais jovem e agregando tecnologia para escalar o negócio, a Urbanic tem feito sucesso como opção acessível de moda e estilo. Desde que foi criada, a marca vem crescendo entre 200% e 300% ao ano, em média. O que mantém o otimismo dos sócios para chegar à cifra de US$ 10 bilhões em vendas até 2027. “Se fizermos um bom trabalho, não há motivo para não alcançarmos”, disse Wellwood.