Em um mundo predominantemente analógico em meados da década de 1970, repleto de máquinas de escrever em empresas e residências, Bill Gates enxergava em um futuro próximo uma sociedade em que cada estação de trabalho e cada casa teriam um computador. Poucos depois, nos anos 1980, o Brasil enfrentava o processo de reserva de mercado do setor da informática, ao dificultar a importação de produtos para proteger e incentivar a indústria nacional. Em termos legais, o processo de digitalização do País engatinhava. Os avanços ocorriam pelo obscuro mercado de softwares e hardwares piratas, que à época chegavam a 90% dos itens comercializados.

Mesmo diante de um cenário aparentemente desanimador, Jorge Sukarie, que havia acabado de se formar em administração na Fundação Getulio Vargas em São Paulo, decidiu abrir em 1987 a Brasoftware, para ser um representante oficial dos softwares das companhias estrangeiras, principalmente a americana Microsoft. Bancos como Bradesco e Itaú e empresas como a Xerox estavam em transformação e tornaram-se clientes. Trinta e quatro anos depois e após algumas evoluções no modelo de negócio, hoje muito baseado em cloud, a Brasoftware busca ultrapassar a marca dos R$ 2 bilhões, após receita de R$ 1,9 bilhão ano passado, 34% superior ao registrado em 2019.

Agora, sua expansão está ancorada em soluções digitais de work analytics e bots de assistentes virtuais, que tiveram alta demanda durante a pandemia. “Muitos projetos estavam engavetados pelas empresas e foram revistos. Agora estão em andamento e geram oportunidades para provedores de tecnologia como nós”, afirmou Eduardo Sukarie, irmão de Jorge, que ingressou na Brasoftware em 1990 aos 16 anos e atualmente é diretor comercial da empresa. “Para este ano nossa expectativa é de 15% de crescimento [percentual que garantiria faturamento na casa de R$ 2,2 bilhões]”, disse. Segundo ele, a empresa tem um bom pipeline. “Há desafios econômicos a serem superados no País, mas entendo que o mercado de tecnologia terá aceleração importante até o fim do ano.”

Crescimento exponencial ocorreu nos últimos três anos. Enquanto a empresa demorou três décadas para alcançar a receita de R$ 1 bilhão, o outro R$ 1 bilhão será alcançado em quatro anos – período que será encerrado neste ano. Muito em razão da segunda grande transformação pela qual a companhia passou em seus 34 anos de história. Na primeira, no ano 2000, se transformou de uma vendedora de licenças de software para oferecer também serviços de consultoria para implementação de aplicações necessárias a cada cliente. E a segunda evolução ocorreu a partir de 2009, quando entrou no ramo de serviços de programação baseados em nuvem.

PRODUTIVIDADE Tribunal de Justiça de São Paulo, uma das maiores instituições judiciais do mundo, migrou dados e contas de milhares de colaboradores para o Office 365.

PILARES São dois principais pilares as fontes de receita da empresa. Um deles é de contratos de serviços gerenciados, em que apoia clientes na gestão e otimização da nuvem utilizada, na maioria das vezes cobrada pelo tempo de uso. “É uma conta para as empresas, como de energia elétrica. Se esquecer a luz ligada durante uma viagem, vai sentir distorção na conta. Se o cliente sai às 18h e deixa o servidor ligado, vai gastar desnecessariamente, porque a volumetria aumenta”, afirmou Eduardo Sukarie. O outro pilar é o de inovação. A Brasoftware trabalha com importantes parcerias, como a Microsoft (desde a fundação em 1987), Adobe, Autodesk, Citrix e recentemente a Veeam, e personaliza as soluções dessas corporações às necessidades de seus clientes.

Um dos clientes da Brasoftware é o Tribunal de Justiça de São Paulo. Uma das maiores instituições judiciais do mundo, com 2,5 mil magistrados, 40 mil funcionários e 320 comarcas no estado, migrou dados e contas dos colaboradores para a plataforma em nuvem da Microsoft para gerar maior mobilidade e produtividade. A TV Bandeirantes é outra contratante da Brasoftware, que implementou solução para auxiliar o processo de hiperdigitalização dos processos de negócio do grupo, entre eles o de gestão contratual, com o Adobe Sign, que permite enviar e assinar documentos eletronicamente a partir de qualquer dispositivo, navegador ou aplicativo. São dois exemplos que mostram que a transformação digital passa por todos os setores, seja comunicação, judiciário e o da própria tecnologia, como fez a Brasoftware. Vencer a barreira de receita dos R$ 2 bilhões neste ano será mais um recomeço.