Durante a pandemia, o brasileiro aparece como o povo mais preocupado do mundo com a propagação de informações falsas e fake news (82%), diz a décima edição do Digital News Report, do Reuters Institute. O recém-lançado documento é a principal pesquisa mundial sobre a propagação de informação em ambientes digitais. Paralelamente, o nível de confiança na mídia e no jornalismo cresceu globalmente para 44% — à frente de todos está a Finlândia (65%). Na ponta oposta, aparecem os Estados Unidos (29%). No Brasil é de 54%, a dianteira entre os seis países latino-americanos do estudo: seguido por Colômbia e Peru (ambos 40%), México (37%) e, no fim da fila, Argentina e Chile (os dois com 36%).

A preocupação com a qualidade das notícias fez com que o número de entrevistados que afirmam pagar por conteúdo on-line crescesse para 17% da amostra, maior porcentual desde 2016. O índice chega a 30% na Suécia e a 45% na Noruega. Nos Estados Unidos, está em 21%, mas cai para menos da metade entre alemães (9%) e ingleses (8%). Nesse campo, as grandes marcas têm papel decisivo. No mercado americano, por exemplo, o trio The New York Times, The Washington Post e The Wall Street Journal responde por 45% das assinaturas digitais.

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Um dos principais achados do estudo é a constatação de que as pessoas desejam um jornalismo equilibrado e objetivo. “Numa era de grande polarização, a maioria apoia fortemente a busca por um jornalismo mais imparcial”, afirmam os autores do relatório. Para 74%, os veículos devem trazer a maior gama possível de pontos de vista e deixar que suas audiências decidam. Para 72%, todos os lados envolvidos em um tema deveriam ter o mesmo espaço para expor ideias. E 66% afirmam que os veículos de comunicação devem pelo menos tentar ser neutros ao tratar dos assuntos.

E aí o ambiente digital amplifica os temores ao multiplicar a desinformação: 28% dos entrevistados afirmaram ter encontrado informações incorretas sobre a Covid no Facebook, e 15% no WhatsApp – Brasil à frente de todos. O número cai para 7% nas buscas (como Google), e para 6% no Twitter e no YouTube. No Brasil esses números são de 35% (WhatsApp), 18% (Facebook), 6% em buscas (Google) e 4% no Twitter e no YouTube.

No caso brasileiro, alguns números chamam a atenção e fogem da média global. Num prazo de oito anos, entre as pesquisas de 2013 e 2021, o porcentual que utiliza redes sociais como fonte de informação saiu de 47% para 63% e hoje passa quem usa a TV (61%), ficando atrás apenas do ambiente digital como um todo (83%). O dispositivo favorito também mudou: o celular é usado para consumir notícias por 77% das pessoas – em 2013, eram 23%. Por fim, a principal rede social para consumo de informação é o Facebook, para 47% dos entrevistados, seguido pelo WhatsApp (43%). Além disso, um a cada dois brasileiros compartilha notícias por suas contas em redes sociais.