O empresário Antonio Carbonari Netto é obcecado por cálculos. Principalmente contas de multiplicação. O ex-professor de matemática da PUC-Campinas fundou, em 1994, a Anhanguera Educacional, um dos maiores grupos de formação universitária do País. Vinte anos depois, em 2014, à frente de uma companhia avaliada em R$ 8 bilhões e com meio milhão de alunos, ele recebeu uma proposta de fusão com a Kroton. Fez as contas e aceitou. A soma das duas empresas criou um gigante de R$ 24,5 bilhões, que viria a se tornar o que hoje é a Cogna Educação — maior grupo do setor no País. Mas a equação de Carbonari ainda não estava fechada. Ele quis vender sua fatia, em uma operação avaliada à época em cerca de R$ 5 bilhões, envolvendo troca de ações e parte em dinheiro. Assinou um acordo de não-concorrência por dez anos e decidiu investir na multiplicação de seus cavalos da raça Quarto de Milha, no haras da família entre Louveira e Itatiba, no interior paulista. “Matemática e cavalo são as minhas paixões. Durante 28 anos consecutivos, visitei exposições no Texas e em Oklahoma”, disse o empresário, em entrevista à DINHEIRO. “Fora da gestão da Anhanguera, minha ocupação era comprar terrenos e expandir minhas criações.”

Engordar a manada e adquirir lotes ocupava o tempo, mas não fechava a conta da satisfação pessoal, segundo ele. A nova fórmula da multiplicação de Carbonari é a Must University, sediada em Boca Raton, nos arredores da cidade americana de Miami. Embora tenha sido criada em 2017, só nos últimos 12 meses que a instituição dedicada a educação continuada decolou. Com foco no público latino, hoje a Must tem 2,6 mil alunos de 13 países — com aulas on-line — e 15 cursos de mestrado que vão desde Administração em Cuidados da Saúde e Psicologia até Marketing Digital e Negócios Internacionais. No ano que vem, a Must pretende lançar o primeiro doutorado em Tecnologias Emergentes. Pelos cálculos de Carbonari, a empresa vai fechar o ano com faturamento de R$ 20 milhões, o dobro do ano passado e a metade do esperado para 2023.

DA FLÓRIDA PARA O MUNDO Os cursos de mestrado e doutorado, a partir de 2023, serão oferecidos em espanhol, inglês e português. (Crédito:Divulgação)

A estratégia de expansão exponencial da Must, segundo o executivo, inclui ter operações no México, Colômbia, Equador e outros mercados da América Latina e de língua portuguesa na África (como Angola, Moçambique e Guiné Bissau). A estrutura para o mercado mexicano já está em fase avançada e, com parceiro local, deverá ser anunciada nos próximos meses. As aulas são oferecidas em espanhol, inglês ou português, com professores gringos e docentes de universidades brasileiras como USP, Unifesp e Unicamp. “Todos têm doutorado porque seguimos os altíssimos padrões de ensino exigidos pelos Estados Unidos”, afirmou o empresário. “Porque somos uma universidade americana feita para brasileiros e latinos”, disse. O processo de validação dos diplomas no Brasil é intermediado pela própria Must, em parceria com instituições brasileiras de ensino universitário.

Seja dentro ou fora do País, não há dúvidas de que o potencial do mercado de formação profissional ganhou novas proporções durante e depois da pandemia. Alguns levantamentos chancelam esse horizonte de crescimento. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), quase todas as marcas franqueadoras na área educacional oferecem a opção de ensino on-line para seus franqueados. Na avaliação de Sylvia de Moraes Barros, coordenadora da Comissão de Educação da ABF, as redes de educação se adaptaram rapidamente à nova realidade, ganharam eficiência nesse período pandêmico e passaram a oferecer seus serviços pelos diferentes meios, seja virtual, presencial, remoto ou híbrido.

IMPÉRIO DO ENSINO A Anhanguera foi incorporada pela Kroton em 2014, antes de formar a Cogna, o maior grupo de educação superior do País. (Crédito:Anderson Prado)

O levantamento da associação mostra ainda que a oferta de cursos aos alunos via meios digitais é a que mais cresce. A entrega somente on-line pelas franquias subiu de 7,8% para 36% entre 2018-2020 e 2020-2021, enquanto entre aquelas que têm intenção de implementá-la saltou de 7,4% para 43%. Já o formato somente híbrido adotado pelas escolas passou de 23,5% para 45% no mesmo período e aumentou de 48,1% para 52% entre aquelas que têm planos de implementar.

É com todos esses números que Carbonari quer amplificar os resultados da Must. Dentro de três ou quatro anos, a ideia é abrir capital na bolsa de Nova York e atrair dinheiro de investidores para turbinar o crescimento. Carbonari ainda não fechou o cálculo de quanto poderá captar e nem qual será o valuation da companhia no ano do IPO, mas aposta que as cifras têm potencial de bilhões dada a capacidade de alcance de novos mercados com as ferramentas de ensino a distância. “A pandemia acelerou todas as tecnologias e processos que permitem oferecer aulas de qualidade em qualquer lugar do planeta”, disse o empresário. “Não tenho a pretensão de construir uma nova Anhanguera, mas sim uma referência de formação com padrão global. Com a digitalização do ensino, o mundo ficou pequeno.”