Não se faz o conserto geral de um avião em pleno vôo, mas sim de uma companhia inteira com 83 mil funcionários, 1,8 mil decolagens/dia, 65 milhões de passageiros/ano, 580 aparelhos com valor médio de US$ 150 milhões cada e prejuízo de US$ 2 bilhões previsto para 2002. É o que está acontecendo na United Airlines, segunda maior companhia de aviação do planeta, cujo processo de reorganização de rotas, cortes de cargos e salários e renegociação de dívidas se dá em meio à maior turbulência financeira de sua história de 75 anos. A principal manobra é o pedido de empréstimo de US$ 1,8 bilhão pousado em Washington sobre as mesas dos executivos da ATSB, a agência criada pelo governo americano para socorrer as companhias aéreas que entraram em crise depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Dois meses atrás, o executivo Glenn Tilton aceitou trocar a presidência da Texaco pelo comando da United com a missão de obter o socorro federal, cortar custos e convencer os sindicatos de funcionários de que é isso ou concordata. Se não conseguir, tudo está pronto para que a companhia use o famoso ?chapter 11?, capítulo da legislação do país que regula a suspensão de pagamentos de dívidas.

?Não temos medo do futuro?, diz Laurence Hughes, diretor geral da companhia no Brasil. ?Concorrentes como a Continental Airlines já entraram no ?chapter 11? duas vezes e conseguiram sair?. Desde os atentados de 11 de setembro, a United reduziu suas decolagens de 2,2 mil por dia, antes, para 1,8 mil hoje. Foram feitas 23 mil demissões. Está nos planos a redução, ao longo do próximo ano, de mais 10% de pessoal. O número de passageiros transportados diminuiu 15 milhões em um ano, para os atuais 65 milhões. No deserto de Nevada, na Califórnia, a companhia mantém 10 Boeings 777-400 de última geração, avaliados cada um em US$ 190 milhões, pousados à espera de dias melhores. O balanço do terceiro trimestre de 2002 acusou um prejuízo de US$ 800 milhões.

Altos salários de funcionários também pesam contra a companhia. Pilotos de Boeings 777 ganham até US$ 265 mil anuais. Eles conseguiram ótimos acordos salariais nos anos 90, quando a aviação comercial estava acima das turbulências atuais. Na semana passada, com o presidente Tilton à frente, a United fechou um acordo para a redução de 15% nos vencimentos deles. Os comissários de bordo aceitaram um corte 6%. Do total de ações da empresa, 55% estão em poder dos funcionários. Ao mesmo tempo, o banco alemão KMP, credor de US$ 500 milhões a vencerem em dezembro, realinhou os pagamentos para até 2007. Mesmo assim, se o empréstimo de
US$ 1,8 bilhão tratado pela companhia com o governo americano
não sair, a concordata é certa.

No movimento geral de rearrumação da empresa, a seção brasileira descobriu um atalho que, em seus primeiros dias de utilização, se mostra seguro. Trata-se do vôo diário São Paulo?Washington, que liga os aeroportos de Cumbica e Dulles, onde existem a cada 24 horas 280 conexões para diferentes cidades americanas. Inaugurado na quarta-feira 30 de outubro, com 72% da lotação dos 206 assentos do Boeing 767-300 ER, ele substituiu o antigo vôo São Paulo?Nova York. ?Assim como a American Airlines concentra suas operações no aeroporto JFK, de Nova York, nós estamos aumentando nossa base em Washington. O vôo veio para ficar. Atinge nossos objetivos e está sendo aprovado pelo público?, diz o executivo Hughes. É assim, com essa e as outras correções, que a United voa para sair da crise.