Crise energética, dólar em alta, petróleo caro. Cenário pior não poderia existir para a indústria petroquímica, cujos preços das principais matérias-primas (a nafta e a energia elétrica) causarão boas dores de cabeça em 2001. As perspectivas são tão sombrias que a Unipar, tradicional grupo da família Geyer e controlador da Petroquímica União, em São Paulo, tomou uma decisão radical: reconduziu à presidência do conselho o empresário Paulo Geyer, 79 anos, que recentemente sofreu um enfarte. A mudança fez com que o empreendedor deixasse a tranqüilidade da vida de mecenato para substituir justamente o lugar de Alberto Geyer, um dos seus cinco filhos. O assunto é delicado, ninguém quer comentá-lo na Unipar. Mas a decisão visa fortalecer o grupo num momento em que as empresas de derivados de petróleo começam a sentir os primeiros danos dos novos tempos. ?No primeiro trimestre já registramos uma queda de faturamento bem acima de 20% sobre 1999, devido à alta dos custos da nafta com a variação cambial?, declara o presidente da Polibrasil, Marcel Batsleer, cuja empresa atingiu uma receita de R$ 35 milhões em 2000.

A Unipar fatura muito mais, quase R$ 1 bilhão, e tem planos ambiciosos pela frente. Daí a necessidade urgente de se prevenir contra as nuvens negras que se aproximam. Geyer passa agora a ser o comandante da estratégia planejada há mais de três anos de tornar o conglomerado no maior fornecedor de produtos químicos, como polietilenos e ácido clorídrico, da região Sudeste. O objetivo do grupo é impedir que poderosos rivais, como a Odebrecht e Ipiranga, tenham grandes bases instaladas próximas a São Paulo e Rio de Janeiro, os dois principais centros de consumo do País. Os dois concorrentes devem continuar a concentrar seus negócios petroquímicos nos pólos de Camaçari, na Bahia, e de Triunfo, no Rio Grande do Sul.

A briga industrial, complexa e enfadonha, é totalmente diferente dos prazeres que Geyer usufruía até poucas semanas atrás no bairro do Cosme Velho, onde administrava os trabalhos de transformação de sua mansão em um filial do Museu Imperial de Petrópolis. Ele já havia inclusive doado o acervo de 4 mil peças de arte para a entidade. Agora troca os quadros pelos entendimentos com o governo e agências de financiamento. E a estratégia parece estar dando certo. O Eximbank dos Estados Unidos e a agência de fomento espanhola Sace liberaram há 10 dias cerca de US$ 300 milhões para a construção do complexo petroquímico de Rio Polímeros, a ser erguido até 2004 em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

A liberação da verba ocorreu 15 dias após Geyer ser reconduzido à presidência, em reunião realizada em 27 de abril. A Unipar e seus sócios Suzano e Petrobras pretendem investir US$ 1 bilhão no projeto. A produção inicial da empresa, que pode ter também verbas do BNDES, deve ser da ordem de 500 mil toneladas de eteno e polietileno. Vale lembrar que a nova fase do comando de Geyer ocorre quatro anos depois de o empresário Edson Vaz Musa, ex-presidente da Rhodia, ter sido chamado para reestruturar a Unipar. Os trabalhos não agradaram o conselho, Alberto Geyer assumiu a presidência e delegou poderes para executivos de confiança, como Roberto Garcia. No ano passado, a receita do grupo cresceu 25%, passando de R$ 775 milhões para R$ 945 milhões. Os lucros caíram de R$ 191 milhões para R$ 113 milhões, mas, segundo sua assessoria, devido à venda de ativos há dois anos, o que teria provocado distorções no balanço. Em 2001, porém, as ações já tiveram uma pequena queda de 3,6%. Dona Maria Cecília, mulher de Paulo Geyer e verdadeira herdeira da Unipar, não titubeou. Deu plenos poderes ao marido. Que a força esteja com ele.