Há dois anos, o fundo 3G Capital, do bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann, concretizou uma das tacadas mais agressivas de seu longo histórico de aquisições ao orquestrar a fusão de US$ 40 bilhões entre os grupos Kraft Food e Heinz. Na sexta-feira 17, a Kraft Heinz, gigante de bens de consumo resultante da operação, anunciou um passo ainda mais ousado. O grupo fez uma oferta de US$ 143 bilhões pela Unilever, dona de marcas como Hellmann’s, Dove e Omo, e de uma receita € 52,7 bilhões.

O acordo, a princípio, não seduziu a Unilever. Em comunicado, o grupo afirmou que a oferta de US$ 50 por ação representa um prêmio de 18% sobre o valor de fechamento dos seus papéis na quinta 16, na Bolsa de Londres, o que “subvaloriza” a companhia. E acrescentou que rejeitou a proposta porque não enxerga “qualquer mérito, financeiro ou estratégico”, para os seus acionistas. “A Unilever não vê qualquer base para discussões futuras”, escreveu a empresa.

A Kraft Heinz, por sua vez, disse em nota que a proposta ainda não representa uma intenção firme de compra e que “continua a trabalhar para chegar a um acordo sobre os termos de uma transação”. Pela legislação britânica, o grupo tem até 17 de março para formalizar a oferta. Às 13h da sexta-feira (horário de Brasília), as ações da Unilever registravam alta de 6,72% na Nasdaq. Na mesma toada, os papeis da Kraft Heinz subiam 12,11%.

A recusa da Unilever, no entanto, faz parte de um movimento natural no mundo das megafusões e aquisições. As primeiras propostas, quase sempre, não são aceitas, com o objetivo de subir o preço e aumentar o retorno para seus acionistas. Lemann e seus sócios da 3G ouviram não, inicialmente, quando tentaram comprar a Kraft Foods ou a cervejaria Budweiser. Ambas acabaram adquiridas. Segundo dados da consultoria Euromonitor International, se concretizado, o acordo desbancaria a Nestlé e criaria uma nova líder global em alimentos, com uma participação de cerca de 3%.

Atualmente, Unilever e Kraft Heinz ocupam a quarta e quinta posição no ranking, respectivamente. Na América Latina, a nova operação superaria a Danone e a Arcor, com uma fatia de 2,38%. “É pouco provável que a Unilever aceite essa oferta inicial”, afirmou, em relatório, Raphael Moreau, analista de alimentos da Euromonitor. Ele destacou, no entanto, que o apetite da Kraft Heinz e do 3G Capital pode levar a companhia a vender algumas marcas, em busca de reduções de custo.