Um empresário como Abilio Diniz não põe um banco dentro de sua organização à toa. Ao entregar a gestão de sua carteira de 3,3 milhões de clientes com cartões dos supermercados do grupo Pão de Açúcar ao Itaú, tal como anunciado na terça-feira 27, o maior varejista do Brasil importou know how ? e ainda recebeu uma bolada por isso. O Itaú investirá um total de R$ 455 milhões para pôr de pé a financeira do Pão de Açúcar, que oferecerá cartões e empréstimos pessoais aos clientes da rede lojas e poderá atuar como banco no futuro. As imagens de um sorridente Roberto Setubal no dia do evento corroboram, porém, a avaliação de que o banqueiro preencheu o cheque com gosto, tirando um peso de suas costas. Depois de perder a briga pela financeira Losango para o HSBC e ver o Bradesco comprar a Zogbi, o Itaú era o único entre os gigantes brasileiros fora do crédito popular ? o segmento bancário com maior retorno e potencial de crescimento. ?Esta operação coloca agora o Itaú de vez no mercado de crédito ao consumidor?, comemora José Francisco Canepa, diretor do banco.

Dito de outro modo, o banco de Setubal entra na disputa pelo atendimento financeiro ao público de baixa renda ? universo de clientes individualmente pouco lucrativos, mas capazes de garantir escala em operações de crédito ao consumidor. ?Para o Itaú faz todo o sentido. Surpreendente é a decisão do Pão de Açúcar de delegar a gestão dessa carteira de clientes ao banco?, avalia um consultor que prefere não ser identificado. Há, no entanto, um precedente interessante que ajuda a entender esta opção. O Pão de Açúcar já teve um banco. Abriu em 1988, fechou três anos depois e deixou más lembranças. É natural, portanto, que busque companhia para a nova empreitada. E o Itaú surge como uma escolha óbvia, uma vez que já era parceiro do varejista na disputa pela rede Bompreço, vencida pela dupla Wal-Mart/Unibanco. ?Nós temos a expertise na venda de bens de consumo. Eles têm a competência em serviços financeiros. Juntos somos mais fortes?, diz Fernando Tracanella, diretor do Pão de Açúcar. É, pelo menos no papel, uma daquelas relações que os consultores de empresas gostam de chamar de ?ganha-ganha?.

O PORTE DOS PARCEIROS

PÃO DE AÇÚCAR

Transações na rede: 40 milhões/mês
Número de lojas: 555
Contratos de crédito: 580 mil
Cartões próprios: 3,3 milhões
Vendas anuais: R$ 15 bilhões

BANCO ITAÚ

Clientes ativos: 9,1 milhões
Agências e postos: 3.146
Crédito ao consumidor: R$ 5,465 bilhões
Cartões de crédito: R$ 2,959 bilhões
Ativo total (2003): R$ 118,7 bilhões