Os advogados Antônio de Azevedo Sodré e Rogério Lessa moram em casas localizadas na mesma praça no bairro do Morumbi, em São Paulo. Ali, há anos, quase todos os dias pela manhã, os dois se encontram para caminhar juntos ao redor na região. Nessas ocasiões, as conversas giravam em torno de assuntos amenos. Nos últimos sete meses, porém, um único tema dominou as caminhadas matinais: a fusão de seus escritórios de advocacia. Como o nome indica, Sodré é o principal acionista do Azevedo Sodré Advogados, banca que participou de importantes processos de vendas de estatais do Brasil. Lessa é um dos sócios do Demarest & Almeida, um dos grandalhões do setor. Em final de maio, eles anunciaram a concretização do negócio. ?A idéia não surgiu nas andanças pela praça, mas amadureceu bastante durante elas?, diz Lessa.

Da união, surgiu um escritório com mais de dois mil clientes e 306 advogados espalhados por sete filiais no Brasil e uma em Nova York, capaz de ombrear, em tamanho, importância e prestígio, com o Pinheiro Neto, uma das mais conceituadas firmas do setor no País e na América Latina. Nos últimos 10 anos, os dois estiveram envolvidos em transações que somaram US$ 50 bilhões.

O Demarest era maior do que seu parceiro e, por isso, seu nome prevaleceu na empresa que emergiu da associação. Dos 31 sócios do novo escritório, apenas três são oriundos do Azevedo Sodré. Mas este traz para a sociedade um dote bem maior do que o número de advogados. Os Azevedo Sodré tornou-se um dos maiores especialistas em processos de privatização, fusão e aquisições no Brasil. Por suas mesas, passaram negócios como a venda da Rede Ferroviária Federal e de 12 empresas do setor elétrico. ?Hoje, os setores de infra-estrutura são fundamentais em qualquer escritório de advocacia?, diz Sodré. ?E nós desenvolvemos uma importante competência na área.? O Demarest, por sua vez, tornou-se ao longo de 53 anos de existência uma das principais empresas de assessoria jurídica, com força nas áreas de contencioso e fiscal. ?Temos especializações complementares?, diz Lessa.

A associação entre as duas bancas não é um caso pontual. O setor passa por uma fase de concentração, que deve se acentuar nos próximos tempos. Recentemente, dois outros conhecidos escritórios, o Castro, Barros, Sobral e Gomes Advogados e o Vidigal Advogados Associados, também decidiram unir forças. Assim como ocorre em outros setores da economia, o estímulo para esses casamentos vem da globalização e da necessidade de investimentos em tecnologia.

Grandes firmas de outros países, principalmente da Inglaterra, têm desembarcado em território brasileiro. Muitos dos clientes dessas empresas querem que seus assessores jurídicos os acompanhem pelo mundo afora. Além disso, hoje cerca de 3% do faturamento de uma banca de advocacia são consumidos em investimentos em sistemas de informação. Outro tanto é destinado ao treinamento e desenvolvimento de pessoal. O Demarest tem cerca de 240 estagiários e banca despesas de cursos e temporadas no exterior para seus advogados.

Pressionados pela chegada da concorrência externa, as bancas brasileiras também procuram fincar bandeiras no exterior. Além da filial em Nova York, a Demarest mantém uma associação com a Marval, O?Farrel e Mairal, maior companhia do setor na Argentina, com 240 advogados. Atualmente, mantém conversas com escritórios na Inglaterra, França, Espanha e Portugal para uma possível parceria européia. ?Se não ganharmos musculatura, não competiremos com os gigantes?, afirma Lessa. Por isso, a fusão de seu escritório com o de Azevedo Sodré foi, além de uma união legal, uma questão de sobrevivência.