Os líderes da União Europeia (UE), no segundo dia da cúpula em Bruxelas estenderam a mão, nesta sexta-feira (20), à primeira-ministra britânica, Theresa May, sob pressão no Reino Unido para avançar nas negociações estagnadas sobre o Brexit.

“Os rumores de um bloqueio entre UE e Reino Unido são exagerados”, garantiu o presidente do Conselho europeu, Donald Tusk, depois de dois dias de reunião.

Os 27 líderes da UE deram “luz verde”, nesta sexta, para começar “internamente” a segunda fase das negociações, que se concentrará nas futuras relações entre as duas partes, especialmente comerciais, bem como em uma possível fase de transição após a data oficial do Brexit, prevista para 29 de março de 2019.

Os colegas de May ratificaram a falta de “avanços suficientes” nas negociações de divórcio, que começaram em junho, em três áreas prioritárias: o direito de cidadãos expatriados, a Irlanda e sua fronteira e o acerto financeiro.

Os progressos insuficientes “não significam que não há avanço algum”, destacou Tusk. “Eu espero que possamos passar à fase seguinte em dezembro”, data da próxima cúpula em Bruxelas, afirmou.

– ‘Ganhando tempo’ –

Isso permitirá “ganhar tempo”, assegurou uma fonte europeia. “A ideia é que os dirigentes estejam prontos para decidir em dezembro um mandato de negociações [para uma segunda fase], se forem constatados progressos suficientes”, disse ela.

Diante da estagnação das discussões, alguns começaram a temer um Brexit sem acordo de saída.

Mas a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que não houve “indicação” de um fracasso futuro.

“Ao contrário do que às vezes escreve a imprensa britânica, o processo avança passo a passo”, comentou Merkel. “Ainda que se prolongue (…), isso não nos impede de trabalhar duro para alcançar a segunda fase”, afirmou o chanceler.

Tusk elogiou a primeira-ministra pela dinâmica criada por seu discurso-chave em Florença, na Itália, em 22 de setembro, que deu um novo fôlego às negociações, e que será levado em conta pelos 27, garantiu o polonês.

May fez duas propostas na ocasião: uma contribuição de seu país no atual orçamento europeu, que expira dois anos depois do Brexit, com 20 bilhões de euros e um período de transição de dois anos após a saída do Reino Unido.

Nesta quinta, ela se reuniu com os colegas europeus para encontrar um acordo “que possam sustentar e defender diante de nossos cidadãos”, antes de um reecontro com Tusk nesta sexta. Nesta manhã, ela deixou os 27 reunidos entre si.

“O que foi importante, para mim e May, ontem (quinta) e hoje (sexta), foi a reconstrução dessa atmosfera de confiança e boa vontade, e acredito que fomos bem sucedidos”, celebrou Tusk.

– ‘Longe da conta’ –

O “sinal verde” não foi dado sem críticas dos europeus, que lamentam a ausência de propostas concretas de Londres, incluindo o acerto das contas, o principal ponto de disputa entre os dois campos.

“O acerto completo e final fará parte do acordo final que faremos” e que incluirá a relação futura entre Reino Unido e UE, respondeu May nesta sexta.

Mas, para o presidente francês, Emmanuel Macron, o Reino Unido ainda está “longe da conta” quanto aos seus compromissos financeiros. Ele acredita que o esforço para nesta área deve ser mais “consistente”.

“Se ficarmos sabendo, em dezembro, quanto a Grã-Bretanha está comprometida, concordaremos com este tema (…), mas ainda não temos números exatos. Concordo que devemos avançar nisso”, disse o primeiro-ministro de Luxemburgo Xavier Bettel.

Pouco antes de discutirem o Brexit, os líderes concordaram com os novos métodos de trabalho propostos por Tusk para melhorar as cúpulas europeias.

Tusk traçou um roteiro para os próximos dois anos que inclui um programa de 13 cúpulas para dar vida nova à UE após o choque de Brexit, aproveitando o novo ímpeto de integração europeia promovido pela França de Emmanuel Macron.