Diz um velho ditado que a união faz a força. Mas a concorrência no mundo dos negócios sempre levou o empresariado a desconfiar de tal “união”. Acontece que esse conceito não está sendo seguido à risca por um grupo de empresários do ramo de alimentação de Mogi-Mirim, a 164 quilômetros de São Paulo. Com o apoio do Sebrae, eles criaram, em 2007, um Polo Gastronômico, formado por bares, restaurantes e lanchonetes. Mas somente neste ano, depois de muito treinamento, elas se juntaram para comprar matéria-prima, suprimentos e serviços. Um grupo de 20 empresas aderiu ao projeto. “O primeiro contrato foi fechado em agosto com a Repsol para a compra de 17 toneladas de gás mensalmente pelo prazo de 60 meses. 

 

Até o fim do contrato, a economia será de R$ 300 mil”, informa Carlos Eduardo Brandino, analista do Sebrae que acompanhou a implantação do Polo Gastronômico. As 14 empresas que adotaram primeiro o modelo vendem, por mês, 98 mil refeições e seis mil pizzas. Cálculos preliminares apontam que juntas elas compram cerca de 13 toneladas/mês de insumos para produção de refeições, pizzas e lanches. “A quantidade enche os olhos de qualquer fornecedor”, comenta Brandino. 

 

69.jpg

 

No começo não foi fácil, por causa da desconfiança. “Depois eles perceberam que há muitas vantagens. A economia é a mais visível, mas a compra conjunta também influencia diretamente na qualidade. Uma empresa sozinha não tem o mesmo poder de negociação”, explica Brandino. E quem participou não pensa em recuar da decisão. 

 

Para Solon Vedovato Pissinatti Júnior, gerente de dois estabelecimentos, a iniciativa valeu a pena. “Teve gente que economizou 60% na negociação do gás. No meu caso, a redução foi de 30% no custo”, afirma. Segundo Pissinatti, o grupo agora partiu para a compra de arroz e só na primeira negociação o custo caiu 17% para a empresa dele.

 

A compra conjunta é vantajosa também para quem fornece. “Na forma tradicional seriam dezenas ou centenas de visitas individuais a clientes para conseguir o mesmo resultado”, diz a assessora comercial da Repsol, Naiara Bonfim, responsável pelas vendas na região de Campinas. “Estamos de olho nesse nicho de mercado. É interessante para nós”, completa o gerente de marketing da empresa, Marcelo Pereira. 

 

Proprietária da Pizzaria Colônia Italiana, Luciana Lopes Lourenço está empolgada. Segundo ela, o grupo de negociação tem um estatuto que impede os participantes de gerar um leilão para a aquisição de insumos. “A ideia é ter bom preço atrelado à qualidade do produto e confiabilidade na entrega. “Preço, somente, não basta. Queremos qualidade no serviço”, afirma ela. 

 

70.jpg

Fábio Macedo: pizzaria de Carapicuíba (SP) aderiu a uma associação para
poder receber entregas noturnas de grandes fornecedores

 

Fábio Macedo é dono da Pizzaria Fioretta, localizada em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Ele comenta que sempre estranhou o fato de grandes fornecedores jamais aceitarem fazer entregas noturnas em seu estabelecimento, embora fizessem em outras casas do mesmo porte. Foi pesquisar e descobriu que tal facilidade era concedida apenas para quem comprava conjuntamente. 

 

Macedo então se integrou a uma associação chamada Pizzarias Unidas, que atua na zona oeste de São Paulo e em cidades próximas, como Osasco e Carapicuíba. A entidade conta com cerca de 60 associados. Para Carlos Dezan, consultor regional da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo), esse modelo de negócio é uma tendência entre pequenos empresários. 

 

Dezan conduziu a formação de um núcleo automotivo na região de São José do Rio Preto (SP). O núcleo envolve oficinas mecânicas, funilarias e autoelétricas. Das 144 empresas, 64 só participam do modelo de compras conjuntas. “Elas consumiram R$ 4,06 milhões em compras nos últimos 12 meses, com economia média entre 10% e 15%”, afirma o consultor.