A Philip Morris International, uma das maiores fabricantes globais de cigarro, dona de marcas como Marlboro, L&M e Chesterfield, começou 2019 com uma inusitada resolução de ano-novo. No Reino Unido, a companhia lançou uma campanha contra seus próprios produtos, pedindo para que os britânicos deixem de fumar. “Você pode ajudar a antecipar o dia em que todo o Reino Unido não terá mais fumaça”, diziam os anúncios estampados em jornais, revistas e outdoors. Por trás do anti-marketing havia um produto: o cigarro eletrônico. A empresa desembolsou mais de US$ 6 bilhões nos últimos 15 anos para desenvolver dispositivos que, segundo estudos independentes, reduzem em até 95% as substâncias que fazem mal à saúde. Suas concorrentes, como a Souza Cruz, do grupo British American Tobacco (BAT), fizeram o mesmo, cientes de que a os e-cigaretts são fundamentais para a saúde e sobrevivência da indústria do tabaco. Grandes países consumidores como Estados Unidos, no entanto, proibiam a comercialização, mas isso começa a mudar.

Na última semana, a Food and Drugs Administration (FDA), agência de vigilância sanitária americana, liberou a venda do Iqos, sistema de tabaco eletricamente aquecido da Philip Morris. Depois de três anos de análise e mais de 400 mil páginas de laudos científicos, o departamento considerou que a tecnologia que aquece o tabaco – sem atingir a combustão – é apropriada como forma de reduzir os estragos do à saúde pública.

Saúde para os negócios: a Souza Cruz, sob comando do presidente Liel Miranda (à dir.) e a Philip Morris, do executivo Fernando Vieira, pressionam para que a Anvisa retome o processo de análise e liberação dos novos dispositivos (Crédito:Claudio Gatti)

O sistema Iqos é o primeiro produto de tabaco aquecido eletricamente a ser autorizado para venda nos EUA e deve abrir caminho para que produtos semelhantes de outros fabricantes também sejam liberados. “A decisão da FDA de autorizar o Iqos nos EUA é um passo importante para os cerca de 40 milhões de homens e mulheres americanos que fumam. Alguns vão parar. A maioria, não. Para eles, a Iqos oferece uma alternativa livre de fumaça”, diz André Calantzopoulos, CEO da Philip Morris. “Em apenas dois anos, 7,3 milhões de pessoas em todo o mundo abandonaram os cigarros e mudaram completamente para o Iqos. Estamos determinados a substituir os cigarros por alternativas sem fumaça que combinem tecnologia sofisticada e validação científica intensiva. O anúncio da FDA é um marco histórico”.

No Brasil, os cigarros eletrônicos seguem proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O processo de análise está parado lá há dez anos. O órgão alega que, embora estudos indiquem que o produto gere menos danos à saúde, não existe comprovação quanto à segurança da utilização. “A vedação atual ao cigarro eletrônico no Brasil está baseada nos dados então disponíveis e nos argumentos apresentados pelas autoridades de saúde. Um deles é a preocupação com a alegação de que o cigarro eletrônico traz menos risco à saúde sem que isto tenha sido demonstrado de forma clara em estudos”, informou a Anvisa, em nota. “Essa afirmação transmite a falsa sensação de segurança e pode induzir não fumantes a aderirem ao cigarro eletrônico.”

Fumo liberad: o Iqos, da Philip Morris, aquece o tabaco para liberação da nicotina, mas sem gerar combustão (Crédito:Divulgação)

A aprovação do Iqos nos Estados Unidos deve, no entanto, contribuir para que os técnicos da Anvisa mudem sua posição, segundo o diretor de assuntos corporativos da Philip Morris no Brasil, Fernando Vieira. “Estamos confiantes que a Anvisa irá retomar o cronograma do processo regulatório e voltar a debater o tema”, afirma o executivo. “Sabemos que a inovação vem sempre antes da regulamentação.”