Com apenas 7,5 mil habitantes, Itobi, a 220km da capital paulista, ainda não se tornou uma referência em vinhos finos. Mas isso está mudando. Se há pouco mais de uma década nem parreiras havia na região, desde 2016 nada menos que 12 prêmios foram concedidos por concursos no Brasil e no exterior a alguns dos rótulos elaborados com uvas colhidas ali e na vizinha São José do Rio Pardo. Os méritos são do produtor Marcio Verrone, que vislumbrou o potencial de variedades como syrah e chardonnay na região. “Começou como um sonho, alimentado pela minha paixão por vinhos”, disse Verrone. “Quando colhemos a primeira safra pudemos perceber que a qualidade havia superado as expectativas.”

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Seu Speciale Chardonnay 2015 foi eleito o melhor da variedade na Grande Prova Vinhos do Brasil de 2016. No ano seguinte, um tinto com as uvas cabernet franc e cabernet sauvignon, também da safra 2015, repetiu a façanha. Seguiram-se medalhas de ouro no Brazil Wine Challenge, gran ouro no Concurso Mundial de Bruxelas (edição Brasil) e várias recomendações do Decanter World Wine Awards.

DUPLA PODA Técnica disseminada pelo pesquisador da Epamig Murillo de Albuquerque Regina, que se tornou o principal consultor dos produtores de uva e de vinhos de inverno no País, a dupla poda consiste em mudar a época de colheita da uva, normalmente feita no verão. A colheita de inverno tem ajudado a elevar significativamente o nível do vinho do Sudeste brasileiro. É o caso dos já consagrados rótulos da vinícola Guaspari, de Espírito Santo do Pinhal (SP), e também dos promissores Primeira Estrada, de Três Corações (MG), e Brandina, de São Bento do Sapucaí (SP). Encravada entre as montanhas da Serra do Cervo, um braço da Mantiqueira, Itobi tem clima favorável ao emprego da dupla poda. “No inverno, seco, massas de ar polar limpam o céu e derrubam a temperatura”, afirmou Verrone. A diferença entre o calor do dia e o frio da madrugada favorece a concentração de açúcar e polifenóis nas uvas, resultando em vinhos elegantes, com aromas complexos e mais estruturados.

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“Logo que colhemos a primeira safra pudemos perceber que a qualidade havia superado as expectativas” Marcio Verrone produtor de vinhos.

Há cerca de um mês, a Casa Verrone passou a oferecer não só vinhos, mas experiências enogastronômicas. Foi quando abriram-se as portas de seu restaurante com menu completo (a R$ 150). Os pratos valorizam harmonizações com os vinhos próprios (entre R$ 60 e R$ 200). Como Itobi ainda não tem opções de hospedagem à altura de seus vinhos, o melhor é pernoitar na cidade vizinha, Casa Branca. A dica é o Espaço Bambu, restaurante e escola de gastronomia que virou pousada. Assim, a experiência fica completa.