União de gigantes que tem gerado resultados igualmente imensos. Marcelo Cohen, da Belvitur (Be), comprou a tradicional Flytur (Fly) em setembro de 2021 e de lá para cá vem ganhando mercado com outras aquisições, que já somam 34 empresas na holdind de turismo. A mais recente delas a startup Ligaí, plataforma que atua no setor de integração de sistemas e inteligência artificial, com objetivo de eliminar o trabalho manual repetitivo e burocrático no setor de turismo. A intenção é integrar as companhias do grupo, ao cruzar seus próprios dados, e gerar insights para aumentar as vendas. A projeção e saltar em 20% o faturamento, de R$ 8,3 bilhões em 2022 para R$ 10 bilhões ao final deste ano, com emissão de 700 mil bilhetes por mês. “A Ligaí vai resolver 75% dos nossos problemas [de integração]. Além de organizar nosso ecossistema, vai empoderar o agente de viagem com tecnologia”, disse Marcelo Cohen à DINHEIRO. “Queremos que uma empresa que vende R$ 500 mil por mês possa brigar nas mesmas condições, com a mesma tecnologia, que uma que comercialize R$ 40 milhões mensais.”

TRAJETÓRIA Marcelo Cohen passou de uma empresa familiar em Minas Gerais para comandar um conglomerado de turismo que tem 34 companhias. E não vai parar por aí. (Crédito:Divulgação)

Para chegar ao atual momento, com crescimento meteórico e receita bilionária, o empresário passou por altos e baixos. Foi em momento de queda, durante a pandemia, que seu lado empreendedor aflorou para dar um passo importante. Sua empresa familiar, a Belvitur, estava consolidada há quase 60 anos principalmente no mercado de Minas Gerais. Faturava entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões por mês — algo em torno de R$ 700 milhões por ano — quando o mundo parou no início de 2020 com a disseminação da Covid-19. As vendas caíram para apenas 5% do que era antes. “Me desesperei, assim como o mercado de maneira geral”, disse Coehn. Mas a empresa estava capitalizada. Nas “vacas gordas”, fazia caixa para passar por crises e depressões financeiras. Comprou a parte dos familiares na Belvitur e resolveu adquirir outras companhias do segmento para formar um grupo forte, com portfólio diversificado. Aparecerem “as oportunidades”: uma série de empresas que estavam passando por dificuldades durante as “vacas magras” provocadas pelas restrições de deslocamentos em decorrência do coronavírus. A maior aquisição foi a Flytur, que já era uma das grandes do setor. Depois veio a Queensberry, de experiências de luxo. E não parou mais “Hoje somos um dos maiores grupos privados de agenciamento de viagem da América Latina”, afirmou o CEO da BeFly. “Enquanto algumas de capital aberto têm sofrido no mercado”, disse o executivo, sem citar o nome da CVC, que trabalha para sanar uma dívida de R$ 900 milhões e tem se recuperado. As operações financeiras de M&A da Befly, que somaram R$ 400 milhões em investimentos, segundo Cohen, foram apoiadas pelo Banco Master e pelo escritório Ribeiro Cabral Advogados.

PARA TODOS Agência Vai Voando democratiza o turismo com passagens pré-pagas. (Crédito:Divulgação)

Entre as 34 empresas que atualmente fazem parte da holdind, tem de tudo. A Queensberry, por exemplo, tem ticket s que chegam a R$ 100 mil. Na outra ponta dos negócios está a Vai Voando, que “democratizou” o turismo para as classes C, D e E. dez anos atrás, a companhia criou um sistema de pagamento em até 12 vezes no boleto, sem consulta ao SPC e Serasa, para clientes sem conta em banco. Um modelo de viagem pré-paga. Em 2019 se tornou uma franqueadora e posteriormente foi comprada por Cohen. “Hoje temos 260 lojas espalhados nas comunidades do Brasil inteiro”, disse o CEO, que tem como sócio Celso Athayde, fundador da Favela Holding, e que entrou no negócio em agosto de 2022. O ticket médio gira em torno de R$ 800,00. O faturamento registrado antes da pandemia, em 2019, foi de R$ 82 milhões e caiu nos anos seguintes: R$ 61 milhões em 2020 e R$ 46 milhões em 2021. A expectativa é de que este ano supere os resultados pré-pandêmicos.

Cohen disse ver “com bons olhos” a iniciativa do governo federal, anunciada pelo ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, de lançar – sem data definida – um programa de passagens aéreas a R$ 200,00, principalmente para aposentados, servidores públicos e estudantes beneficiários do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). “Queremos ajudar o governo no fomento a turismo. E a empresa mais preparada para isso é a Vai Voando”, afirmou empresário.

PARA POUCOS Turquia, com passagem pela Capadócia, é um dos destinos operados pela Queensberry. (Crédito:Istock)

Outras empresas do grupo BeFly são Qualitours, 3sixty, OpenTrips, além de outras soluções para lazer, negócios, organização e produção de eventos. E Cohen não quer parar por aí. Analisa outras 20 empresas neste momento, com cinco em boas condições de serem adquiridas nas próximas semanas. Expansão internacional também está nos planos, especialmente para Europa, Estados Unidos e América Latina. “Vamos buscar novos mercados, mas primeiro estamos consolidando a nossa posição por aqui, melhorando nossa tração e deixando nosso backoffice 100% automatizado”, disse Cohen.

OTIMISMO Enquanto a BeFly atua para ampliar sua atuação e abocanhar fatia maior do segmento, o mercado apresenta expectativa de crescimento. Segundo a Fecomércio, o setor de turismo deve faturar 53,6% a mais neste ano, em comparação com o ano passado. Para Luiz Moura, conselheiro de turismo na FecomércioSP e cofundador da VOLL, agência de viagens corporativas, os dados são animadores, diante de nove feriados em dias úteis em 2023. “O que tem feito com que não apenas os turistas convencionais, mas também os gestores de viagens corporativas já tenham, na prática, desafios em relação a reservas para datas específicas, o que tem impulsionado ainda mais a procura por suporte profissional ao planejar uma viagem”, disse Moura.