A União Europeia, enfraquecida pelo referendo a favor do Brexit e pela ascensão dos movimentos eurocéticos da extrema-direita no bloco, busca ganhar força com a vitória de Emmanuel Macron, um europeísta convencido, na eleição presidencial francesa.

“Feliz com o fato de os franceses terem escolhido um futuro europeu”, tuitou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que desejou uma colaboração frutífera com o novo presidente por “uma Europa que proteja e defenda” seus cidadãos.

Uma visão compartilhada por seu colega da Eurocâmara, Antonio Tajani, que, em declarações à AFP, convocou a trabalhar imediatamente para mudar o bloco e não subestimar o fato de que muitos eleitores votaram na candidata ultradireitista Marine Le Pen.

“O trabalho não será fácil”, reconhece em uma nota Charles Lichfield, analista do Eurasia Group, num momento em que a UE busca dar um novo impulso ao bloco após o divórcio com o Reino Unido, provavelmente no fim de março de 2019.

Lichfield explica que a vitória coloca Macron em uma posição vulnerável. “Ele se rebelou contra os ataques de Le Pen contra a globalização, a UE e a abertura. Agora tem a responsabilidade de demonstrar que isso valia a pena”, acrescenta.

Neste sentido, para o pesquisador do European Policy Centre Robin Huguenot-Noël, o presidente eleito da França deverá demonstrar que a adesão à UE “também pode ser uma ferramenta eficaz para administrar as forças negativas da globalização”.

– Uma Europa protetora –

O jovem futuro chefe de Estado francês parece ter levado em conta o crescente ceticismo da opinião pública contra o liberalismo econômico, manifestado durante a negociação e assinatura do acordo de livre comércio entre a UE e o Canadá (CETA).

Assim, Macron propõe incluir em todos os acordos comerciais do bloco “um ponto de cooperação fiscal, assim como cláusulas sociais e ambientais vinculantes”.

Além disso, promete que exigirá a implementação de uma base de direitos sociais europeus que defina “os padrões mínimos em matéria de direitos à formação, de cobertura de saúde, seguro-desemprego ou salário mínimo”.

E, embora rejeite o protecionismo, o presidente eleito defende “uma Europa que proteja da globalização”, defendendo, por exemplo, reforçar os instrumentos antidumping contra o aço chinês.

Para a cientista política Amandine Crespy, do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Livre de Bruxelas, seu programa europeu propõe “sobretudo se aprofundar naquilo que já existe e que poderia, segundo ele, permitir que a UE funcione melhor”.

A lógica de Macron, para quem a França deve ser economicamente forte para poder ser politicamente forte e atuar como contrapeso no seio da UE em colaboração com a Alemanha, convence muitos de seus sócios europeus, afirma.

– Uma França e uma UE mais fortes –

“É um programa de reformas em adequação quase perfeita com o âmbito europeu. É por isso que sua eleição tranquiliza”, afirma Crespy, para quem, assim como já fizeram outros países, “a França realizará suas reformas fiscais, de seu sistema social, de seu mercado de trabalho” que lhe permitam, especialmente, “paliar o programa do desemprego”.

O programa de Emmanuel Macron em matéria energética, digital e inclusive suas propostas de criar um Fundo Europeu de Defesa ou um quartel-general europeu permanente retomam ideias que já flutuam no ambiente de Bruxelas.

Sua vontade de cumprir com o Pacto de Crescimento e Estabilidade Europeia deveria satisfazer também as instituições.

Sua proposta mais revolucionária é a ideia de criar um orçamento, um parlamento e um ministro da Economia e Finanças para a zona do euro. “É a ideia de um governo econômico real”, afirma Crespey, que afirma que sua capacidade “para impô-lo realmente” é uma mudança “muito incerta”.

Para Robin Huguenot-Noël, as ambições de Emmanuel Macron podem se chocar com seus sócios europeus, que têm outras prioridades na cabeça, como a imigração ou a segurança.

Mas “a Alemanha e outros governos pró-UE poderiam estar tentados a ajudar Macron a realizar estes pontos de seu programa de reformas”, afirma este investigador.

No entanto, esta ajuda, para Huguenot-Noël, “não (seria) por solidariedade à França, mas por interesse próprio, para garantir o futuro da integração europeia”.