Desde sua elaboração, a vacina da farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca, criada por cientistas da universidade britânica de Oxford, acumula tropeços e críticas.

– Testes alterados –

Em 9 de setembro de 2020, foi anunciada uma “pausa” nos testes clínicos dessa vacina feita a partir de um adenovírus de chimpanzé, após o surgimento de uma doença inexplicada em um voluntário.

Após análise e verificação, os testes de fase 3, conduzidos em dezenas de milhares de voluntários no Reino Unido e no exterior, foram reiniciados dias depois.

– Erro de dosificação –

Nos resultados intermediários, o laboratório anunciou em novembro que sua vacina era em média 70% eficaz, em comparação aos mais de 90% de eficácia obtida pelas da Pfizer-BioNTech e Moderna.

Mas sua eficácia foi de 90% nos voluntários que receberam metade da dose e, em seguida, uma dose completa um mês depois, e 62% naqueles que receberam as duas doses regulares.

Mas a meia dose foi um erro, causando críticas, preocupação e desconfiança, o que levou o laboratório a realizar um estudo complementar para verificar os resultados.

– Desconfiança europeia –

Aprovada em 30 de dezembro pela British Medicines Agency (MHRA), essa vacina mais barata, fácil de armazenar e transportar, começou a ser usada massivamente em janeiro no Reino Unido.

Porém, na União Europeia causou mais desconfiança: a eficácia da vacina em pessoas com mais de 65 anos foi questionada e vários países suspenderam temporariamente as aplicações nesses grupos de risco antes que novos estudos explicassem as incertezas.

Em estudo realizado na Inglaterra, a vacina apresentou uma proteção entre 60% e 73% perante as formas sintomáticas em pessoas acima dos 70 anos com dose única.

– Atraso nos insumos –

No continente europeu, os atrasos nos insumos das vacinas geraram fortes críticas quando a empresa forneceu ao Reino Unido as doses prometidas (100 milhões).

A empresa reconheceu em janeiro que poderia fornecer apenas um terço das 120 milhões de doses prometidas aos 27 estados membros da UE no primeiro trimestre.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, levantou a voz e ressaltou que a AstraZeneca forneceu “menos de 10%” das doses encomendadas entre dezembro e março. a UE criou um mecanismo europeu de controle das exportações de vacinas produzidas no bloco.

Como primeira medida desse mecanismo, a Itália anunciou em 5 de março que bloqueou a exportação para a Austrália de 250.000 doses de vacinas da AstraZeneca, mencionando uma “escassez persistente” e “atrasos no fornecimento” em seu território.

No domingo, a gigante farmacêutica informou uma nova redução no fornecimento para a União Europeia, citando restrições às exportações.

– Alergias graves –

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) anunciou em 12 de março que as alergias graves deveriam ser adicionadas à lista de possíveis efeitos colaterais da vacina AstraZeneca após a identificação de tais reações no Reino Unido.

Este anúncio foi feito após o “exame de 41 notificações de possível anafilaxia (reação alérgica aguda, NDLR) observada entre cerca de 5 milhões de vacinações no Reino Unido”, informou a agência com sede em Amsterdã.

– Coágulos sanguíneos suspeitos –

Após a suspensão de lotes específicos da vacina em alguns países, a Dinamarca suspendeu a vacina em 11 de março depois de obter “relatos de casos graves de coágulos sanguíneos” em pessoas vacinadas.

Vários países, incluindo França, Itália, Alemanha e Espanha, suspenderam a vacina de forma preventiva, após registros de “possíveis” efeitos colaterais, mas sem relação comprovada até o momento.

A EMA realizará reunião extraordinária na quinta-feira para decidir se as medidas são “necessárias” em relação à vacina e garantir que seu uso continue seguro.

A OMS, que se reunirá com seu grupo de especialistas na terça-feira, também recomendou a continuidade do uso da vacina AstraZeneca.

O grupo farmacêutico anglo-sueco afirmou, por sua vez, que “não há evidências de risco sério” de um coágulo sanguíneo causado pela vacina.