26/10/2018 - 11:00
No dia seguinte à queda de 4,43% da Nasdaq, o maior recuo diário da bolsa eletrônica dos Estados Unidos em mais de sete anos, a empresa brasileira de pagamentos Stone mostrou que os investidores ainda estão com apetite para bons negócios. Na manhã de quinta-feira 25, a companhia criada por André Street e Eduardo Pontes estreou com força no mercado de capitais americano. A oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da Stone foi antecipada em um dia em razão da alta demanda pelas ações. Mesmo com o aumento de US$ 1 no preço do papel, para US$ 24, a procura superava em 20 vezes a oferta. A captação foi de US$ 1,5 bilhão. Entre as 11 horas, quando a campainha foi acionada dando início às negociações, e as 13 horas, o papel acumulava alta de cerca de 30%. O seu valor de mercado chega a quase US$ 7 bilhões – cerca de R$ 26 bilhões.
O sucesso do IPO da Stone reflete a aposta de um grupo renomado de investidores no negócio. A oferta foi ancorada pelo megainvestidor americano Warren Buffett, sócio-fundador da Berkshire Hathaway, que investiu cerca de US$ 315 milhões. O bilionário chinês Jack Ma, dono da gigante asiática de e-commerce Alibaba, desembolsou US$ 100 milhões. Além deles, a gestora Madrone Capital, que administra a herança da família herdeira do Walmart e já era acionista da companhia, aproveitou a oportunidade para aumentar a sua participação na empresa. “Isso é fruto do relacionamento dos fundadores da empresa com investidores estrangeiros”, diz Rafael Passos, analista da Guide Investimentos. “Essa aproximação se deu por meio de Jorge Paulo Lemann, que fez o meio de campo entre os brasileiros e Buffett.”
O bom relacionamento dos sócios da Stone com investidores renomados não explica toda a força do negócio. Foi o potencial de crescimento da empresa de meios eletrônicos de pagamento que atraiu Buffet e Ma. No primeiro semestre deste ano, a Stone gerou R$ 635,7 milhões em receita, o que significa um aumento de 91,6% em relação ao faturamento do ano passado, que foi de R$ 331,8 milhões. “A companhia se diferencia da concorrência ao oferecer produtos customizados para médias e pequenas empresas”, diz Leonardo Montenegro, presidente da consultoria de tecnologia 4ward. Para Rodrigo Dantas, CEO da plataforma de pagamentos online Vindi, a abertura de capital da Stone deve seguir um caminho similar ao da PagSeguro. “Há um movimento de migração de investidores para esse setor”, diz.
Criada em 2012 pelos executivos cariocas Street, de 34 anos, e Pontes, de 39, a Stone segue os passos da concorrente PagSeguro, pertencente à família Frias, e que também estreou em Nova York neste ano. Ao captar US$ 2,3 bilhões com a sua oferta pública inicial em janeiro, a empresa ganhou o selo de maior IPO de uma companhia brasileira desde 2013. O apetite dos investidores foi grande. No dia da oferta, a demanda pelo papel da empresa foi dez vezes maior do que o total de ações vendido na operação. A empresa fechou aquele dia negociada a US$ 29,20, com uma forte alta de 35,8%. Na quarta-feira 24, a ação da PagSeguro estava sendo negociada a US$ 29,75 e o valor de mercado, em US$ 9,4 bilhões.
A Stone não foi o primeiro negócio de Street e Pontes nos meios de pagamento. A primeira empreitada de sucesso da dupla foi a empresa de soluções de pagamento online Braspag, fundada em 2004 e vendida ao Grupo Silvio Santos. “Na época, tínhamos uma história de 12 anos em fundar, investir e vender uma série de negócios relacionados a pagamentos digitais no Brasil”, escreveram eles, no prospecto de abertura de capital. Nesses últimos 14 anos, muita coisa mudou no mercado. As gigantes Cielo e Rede, que dominavam a adquirência de cartões de crédito e débito, ganharam concorrência.
Em outubro de 2013, o Banco Central promulgou uma regra que permitiu a entrada de novos players. Foi o que deu força à Stone e aos demais concorrentes. “Estamos caminhando para uma fase de maquininhas mais simples, uma realidade que favorece a entrada de mais empresas na disputa por uma fatia do setor”, diz Boanerges Ramos Freire, presidente da consultoria em varejo financeiro Boanerges & Cia. “É um fenômeno que ainda está em crescimento.” Enquanto as novatas buscam mais espaço, a Cielo está perto de definir o nome de seu novo presidente, cargo vago desde que Eduardo Gouvêa deixou a posição em julho deste ano. Paulo Caffarelli, presidente do Banco do Brasil, foi convidado para o posto.