No dia seguinte à queda de 4,43% da Nasdaq, o maior recuo diário da bolsa eletrônica dos Estados Unidos em mais de sete anos, a empresa brasileira de pagamentos Stone mostrou que os investidores ainda estão com apetite para bons negócios. Na manhã de quinta-feira 25, a companhia criada por André Street e Eduardo Pontes estreou com força no mercado de capitais americano. A oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da Stone foi antecipada em um dia em razão da alta demanda pelas ações. Mesmo com o aumento de US$ 1 no preço do papel, para US$ 24, a procura superava em 20 vezes a oferta. A captação foi de US$ 1,5 bilhão. Entre as 11 horas, quando a campainha foi acionada dando início às negociações, e as 13 horas, o papel acumulava alta de cerca de 30%. O seu valor de mercado chega a quase US$ 7 bilhões – cerca de R$ 26 bilhões.

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O sucesso do IPO da Stone reflete a aposta de um grupo renomado de investidores no negócio. A oferta foi ancorada pelo megainvestidor americano Warren Buffett, sócio-fundador da Berkshire Hathaway, que investiu cerca de US$ 315 milhões. O bilionário chinês Jack Ma, dono da gigante asiática de e-commerce Alibaba, desembolsou US$ 100 milhões. Além deles, a gestora Madrone Capital, que administra a herança da família herdeira do Walmart e já era acionista da companhia, aproveitou a oportunidade para aumentar a sua participação na empresa. “Isso é fruto do relacionamento dos fundadores da empresa com investidores estrangeiros”, diz Rafael Passos, analista da Guide Investimentos. “Essa aproximação se deu por meio de Jorge Paulo Lemann, que fez o meio de campo entre os brasileiros e Buffett.”

O bom relacionamento dos sócios da Stone com investidores renomados não explica toda a força do negócio. Foi o potencial de crescimento da empresa de meios eletrônicos de pagamento que atraiu Buffet e Ma. No primeiro semestre deste ano, a Stone gerou R$ 635,7 milhões em receita, o que significa um aumento de 91,6% em relação ao faturamento do ano passado, que foi de R$ 331,8 milhões. “A companhia se diferencia da concorrência ao oferecer produtos customizados para médias e pequenas empresas”, diz Leonardo Montenegro, presidente da consultoria de tecnologia 4ward. Para Rodrigo Dantas, CEO da plataforma de pagamentos online Vindi, a abertura de capital da Stone deve seguir um caminho similar ao da PagSeguro. “Há um movimento de migração de investidores para esse setor”, diz.

Warren Buffett: o megainvestidor sinalizou interesse em comprar um terço das ações da Stone (Crédito:AFP/Arquivo)

Criada em 2012 pelos executivos cariocas Street, de 34 anos, e Pontes, de 39, a Stone segue os passos da concorrente PagSeguro, pertencente à família Frias, e que também estreou em Nova York neste ano. Ao captar US$ 2,3 bilhões com a sua oferta pública inicial em janeiro, a empresa ganhou o selo de maior IPO de uma companhia brasileira desde 2013. O apetite dos investidores foi grande. No dia da oferta, a demanda pelo papel da empresa foi dez vezes maior do que o total de ações vendido na operação. A empresa fechou aquele dia negociada a US$ 29,20, com uma forte alta de 35,8%. Na quarta-feira 24, a ação da PagSeguro estava sendo negociada a US$ 29,75 e o valor de mercado, em US$ 9,4 bilhões.

A Stone não foi o primeiro negócio de Street e Pontes nos meios de pagamento. A primeira empreitada de sucesso da dupla foi a empresa de soluções de pagamento online Braspag, fundada em 2004 e vendida ao Grupo Silvio Santos. “Na época, tínhamos uma história de 12 anos em fundar, investir e vender uma série de negócios relacionados a pagamentos digitais no Brasil”, escreveram eles, no prospecto de abertura de capital. Nesses últimos 14 anos, muita coisa mudou no mercado. As gigantes Cielo e Rede, que dominavam a adquirência de cartões de crédito e débito, ganharam concorrência.

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Em outubro de 2013, o Banco Central promulgou uma regra que permitiu a entrada de novos players. Foi o que deu força à Stone e aos demais concorrentes. “Estamos caminhando para uma fase de maquininhas mais simples, uma realidade que favorece a entrada de mais empresas na disputa por uma fatia do setor”, diz Boanerges Ramos Freire, presidente da consultoria em varejo financeiro Boanerges & Cia. “É um fenômeno que ainda está em crescimento.” Enquanto as novatas buscam mais espaço, a Cielo está perto de definir o nome de seu novo presidente, cargo vago desde que Eduardo Gouvêa deixou a posição em julho deste ano. Paulo Caffarelli, presidente do Banco do Brasil, foi convidado para o posto.