Quinta maior cidade do Brasil, Fortaleza é também um dos principais cartões postais do País. Das belas praias a pontos como o Mercado Central, o Theatro José de Alencar, o Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar e mesmo o Beach Park, na vizinha Aquiraz, não são poucos os passeios que atraem os turistas brasileiros e do exterior. A capital cearense esconde, no entanto, outro “encanto”. Graças à privilegiada localização geográfica, o município se consolidou como um dos roteiros preferidos das companhias de cabos submarinos de fibra óptica, responsáveis por parte da transmissão de dados da internet. Com doze estruturas, Fortaleza é hoje o segundo maior centro global dessas redes, atrás apenas de Fujairah, nos Emirados Árabes. A Angola Cables, fruto de uma parceria entre as cinco maiores operadores angolanas, é uma das empresas do setor que escolheu navegar por essas águas — e que acaba de reforçar sua presença na região.

Depois de firmar uma parceria público-privada com a prefeitura local, a companhia inaugurou neste mês seu data center na cidade. Instalado na Praia do Futuro, em uma área de 3 mil m2, o centro de dados prevê outras quatro fases de expansão, dentro de um terreno que tem três vezes essa área. O projeto é parte de um investimento de mais de US$ 300 milhões da empresa. O montante comporta ainda dois cabos submarinos de fibra ótica, já em operação. Batizado de Monet, o primeiro deles tem mais de 10 mil quilômetros de extensão e interliga a Fortaleza, Santos e Miami (EUA), em uma parceria com o Google e a brasileira Algar Telecom. O segundo recebeu o nome de SACS e liga a capital cearense a Luanda, em Angola, por meio de uma rede de 6 mil quilômetros. “Com a estrutura, Fortaleza deixa de ser um ponto de passagem de telecomunicações para se ser um hub digital”, diz Antônio Nunes, CEO da Angola Cables.

Uma das apostas por trás do aporte milionário é estabelecer uma rota alternativa de transmissão de dados. Atualmente, as conexões globais passam, necessariamente, pela América do Norte ou Europa. Nesse contexto, a estrutura construída pela Angola Cables abre caminho, por exemplo, para a ligação direta entre Brasil e mercados como África, Estados Unidos e, no futuro, Ásia. Há outros benefícios nessa trilha. “A chegada desses novos cabos está reduzindo o preço de transporte, o que acaba estimulando o crescimento da banda e da velocidade de internet no Brasil”, observa Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.

Hub: o data center de Fortaleza quer atrair quem produz conteúdo, provedores de internet e até empresas concorrentes (Crédito:Rogerio Lima)

Último componente do projeto a entrar em operação, o data center permite que a Angola Cables explore outra vertente, com o auxílio dos dois cabos submarinos da companhia. Entre outras questões, esse pacote promete trazer ganhos consideráveis quanto à latência (nome técnico do tempo de resposta) das aplicações. Na prática, o carregamento de uma página na internet torna-se muito mais veloz. Segundo a empresa, o que o cabo entre Fortaleza e Luanda transporta em 63 milissegundos, gasta quase seis vezes mais tempo na transmissão via satélite: 360 milissegundos.

A partir dessa estrutura, o plano é tornar o data center de Fortaleza um polo de hospedagem e disseminação de conteúdos digitais. Na largada, o projeto já conta com clientes como Globo.com, Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e o próprio governo cearense. A estratégia é atrair desde provedores de internet e produtores de conteúdo até concorrentes da companhia em cabos submarinos. Entre os mercados no alvo dessa estratégia de usar o data center como um hub é a própria região Nordeste. O principal ponto, porém, é a exportação de conteúdos e serviços digitais para o continente africano, especialmente para os países de língua portuguesa. “Queremos ser essa ponte digital para promover negócios entre Brasil e África”, afirma Nunes. A Angola Cables já mantém conversações com desenvolvedores e produtores de conteúdo para concretizar esse plano.

Entre os exemplos em potencial está a área de saúde, com um aplicativo que monitora e prevê a incidência de epidemias, além de recursos de telemedicina. Já no setor de educação, uma possibilidade é uma plataforma de educação a distância com cursos gratuitos em segmentos como enfermagem e mecânica. O mercado de games também é apontado como extremamente promissor por Nunes. “A digitalização e as telecomunicações são uma grande oportunidade para reduzir a enorme distância entre a infraestrutura de mercados desenvolvidos e a de economias como Brasil e Angola”, afirma o executivo. “Se apanharmos essa onda que ainda está se formando, vamos fechar essa lacuna.”