Por mais que nos últimos anos as mulheres tenham conquistado um importante espaço no mercado de trabalho, a indústria automobilística ainda parece resistir à presença feminina. Dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) indicam que, do total dos empregados do setor, elas são menos de 10%.
 

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Cena comum: Denise, em uma reunião da GM: menos de 10% dos empregados de montadoras são do sexo feminino 
 

Nos Estados Unidos, país da General Motors e Ford, a participação das funcionárias não chega a 15%. Por isso mesmo não é exagero afirmar que a GM provocou enorme surpresa ao anunciar a americana Denise C. Johnson como sua nova presidente no Brasil. Desde o início do século XX, quando as primeiras fabricantes de carros começaram a chegar por aqui, jamais uma mulher comandou uma montadora. Entre as mudanças comunicadas pela GM, está também a promoção de Jaime Ardila, atual presidente da operação brasileira, que passará a chefiar a empresa na América do Sul. “A prioridade é muito clara: manter o plano de renovação da linha de produtos e continuar a média de crescimento de 50 mil unidades ao ano, volume que vem sendo conquistado ininterruptamente desde 2007”, disse Ardila à DINHEIRO. Segundo a GM, Denise, que responderá diretamente a Ardila, só vai se pronunciar a partir de quinta-feira 1º, quando inicia seu trabalho no Brasil.

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Aos 43 anos, Denise está acostumada a trabalhar em uma área dominada pela ala masculina. Formada em engenharia mecânica e administração de empresas pelo conceituado Massachusetts Institute of Technology (MIT), ingressou na GM logo depois de formada. Na empresa há 21 anos, ocupou cargos nos departamentos de engenharia, manufatura e planejamento. O curioso é que a executiva sempre trabalhou nos Estados Unidos. Segundo a GM, ela nunca veio ao Brasil – pelos menos a trabalho.

Seu atual cargo é o de vice-presidente de relações trabalhistas, posição que certamente provocou certo desgaste nestes dias turbulentos vividos pela montadora. No ano passado, a gigante pediu concordata nos Estados Unidos e só sobreviveu graças a empréstimos feitos pelos cofres públicos. Nesse período, Denise teve de enfrentar o descontentamento de funcionários, temerosos em perder o emprego – muitos, de fato, perderam. Como passou no teste de fogo, foi designada para ocupar aquele que é hoje um dos cargos mais estratégicos para a companhia.

“O Brasil ganhou ainda mais importância dentro da GM mundial após a crise e deve colocar Denise em evidência dentro do grupo”, diz André Beer, ex-vice-presidente da GM por 18 anos e atualmente consultor da área automotiva. A executiva chega ao Brasil em um momento favorável. Enquanto a operação da GM nos Estados Unidos acumulou prejuízos de mais de US$ 80 bilhões nos últimos seis anos, os negócios brasileiros nunca estiveram tão bem. Em 2009, a GM do Brasil obteve seu melhor desempenho na história, com o emplacamento de 595.536 veículos.

O desempenho colocou a operação brasileira no terceiro lugar entre todos os países onde a GM está presente, atrás apenas de Estados Unidos e China. Esse destaque fez inclusive com que a multinacional revisse sua decisão de concentrar todo o comando internacional da GM na China. A partir de agora, a América do Sul, sob a liderança de Ardila, terá mais peso nas decisões globais da empresa. Em meio a essas mudanças, o Brasil ganhou o diferencial de ser presidido por uma mulher. É mais uma lição que o País pode dar para a indústria automotiva mundial.