O mercado brasileiro para seguros de grandes riscos – apólices que cobrem obras de infraestrutura, como usinas hidrelétricas, rodovias e pontes – é um dos mais promissores do mundo para os próximos anos. Os investimentos da Olimpíada de 2016 deverão demandar obras de R$ 250 bilhões.

Os projetos das Fases 1 e 2 do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) preveem investimentos de R$ 1,59 trilhão, dos quais R$ 500 bilhões apenas em 2010. Somando todos os programas, o mercado potencial de grandes riscos representa R$ 1,9 trilhão, o que pode responder por prêmios superiores a R$ 4,2 bilhões.

Isso faz seguradoras como a americana Liberty elegerem o Brasil como prioridade. “O mercado brasileiro deverá dobrar de tamanho nos próximos dez anos”, diz Gordon McBurney, presidente global da Liberty International Underwriters, unidade da empresa que cuida desse segmento.
 

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Investimentos – Usina de Itaipu: grandes obras de infraestrutura vão tornar o Brasil 
um mercado atrativo para as seguradoras internacionais

 

A seguradora, uma das maiores dos Estados Unidos e que tem escritórios espalhados por 17 países, faturou US$ 4,5 bilhões com grandes riscos no ano passado. A fatia brasileira desse bolo bilionário ainda é modesta. Foram apenas US$ 10 milhões em prêmios de seguros de grandes riscos em 2009, mas o valor superou com folga as estimativas da Liberty para o ano passado. “Se continuarmos assim, vamos chegar a US$ 100 milhões nos próximos cinco anos”, diz Thais Kirschner, vice-presidente da Liberty responsável pelas operações da América Latina e Caribe.

O resultado do primeiro semestre permite à Liberty manter o otimismo. A empresa havia fechado 50 contratos durante todo o ano de 2009 e já superou esse número no primeiro semestre de 2010, protegendo atividades de empresas como Vale, Braskem, CCR e MPX. Um dos contratos deste ano protege o transporte de parte das turbinas e subestações que serão usadas na construção da hidrelétrica de Jirau, uma das obras do PAC.
 

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Na mira – Cohen, Thais e McBurney (da esq. para a dir.): contratos assinados 
no primeiro semestre de 2010 superam todos os fechados em 2009

A apólice valerá por dois anos e dez meses e prevê cobertura de US$ 335 milhões para danos ocorridos no transporte das peças, vindas da China e Coreia. O prêmio previsto é de US$ 1,1 milhão. “Os prêmios oscilam entre 0,15% e 0,30% do valor a ser coberto,” afirma Thais Kirschner.

A meta é crescer 50% ao ano até 2015, acima da meta para o setor no Brasil. Segundo os profissionais do mercado, o faturamento total das seguradoras com grandes riscos deverá acompanhar o crescimento da economia brasileira, oscilando entre 3% e 5% ao ano.
A Liberty não está sozinha.

Seguradoras nacionais como Bradesco, Itaú Unibanco, J. Malucelli e Sul América, além das internacionais Mapfre e Allianz já atuam nesse mercado. Outras como Fairfax e Ace, que até 2008 não apareciam no mercado brasileiro, já arregaçaram as mangas e disputam seu espaço por aqui. Não serão as únicas.
 

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“Estamos sendo procurados por seguradoras que ainda não estão no País, pois as empresas lá de fora já perceberam que o Brasil é um mercado em expansão”, diz Paulo dos Santos, principal executivo da Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia estatal que regula o setor.

A animação das seguradoras não vem apenas dos prognósticos de crescimento da economia, mas da liberação do mercado brasileiro, especialmente a quebra do monopólio do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re). “A liberação abriu muitas portas e oferece algumas oportunidades reais de crescimento”, diz McBurney.

À medida que a demanda crescer, a ideia é adicionar novos serviços, como o seguro de responsabilidade civil (D&O) para profissionais liberais. Esse tipo de apólice, oferecido para executivos de grandes empresas, protege os diretores contra processos. Os seguros ambientais também estão entre as prioridades da empresa.

Essas apólices estão em evidência depois de catástrofes como a provocada pela petrolífera British Petroleum no Golfo do México. “É uma questão de tempo para o governo brasileiro começar a exigir este tipo de seguro”, diz David Cohen, presidente da LIU nos Estados Unidos. “E nós vamos fazer.”