Na semana passada, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou que a safra de grãos 2009/2010 deve atingir a marca de 146,31 milhões de toneladas. Caso as previsões se confirmem, esta será a maior colheita da história do Brasil. Se, por um lado, a safra recorde mostra o potencial produtivo do País, por outro, evidencia um problema que há anos assola o campo: a falta de estrutura para a armazenagem dos grãos. E é essa brecha que a gaúcha Kepler Weber, dona de 50% do mercado brasileiro de silos, pretende ocupar.
 

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“No Paraná existem produtores estocando seus grãos em lugares impensáveis, como ginásios poliesportivos”
Anastácio Fernandes Filho
, presidente da Kepler Weber

Com um faturamento de R$ 250 milhões em 2009, 33% menos do que em 2008, a empresa quer recuperar o tempo perdido e já começa a mostrar as suas garras. Recentemente, vendeu dois dos maiores silos do Brasil, com capacidade para 18 mil toneladas cada, para a Vale do Rio do Doce. Nos últimos sete meses, suas ações na Bovespa registraram alta de quase 300%. Os executivos, por sua vez, são mais cautelosos. ?Estamos conservadoramente otimistas. Hoje estamos bem, mas não sabemos como será a próxima safra?, sentencia Anastácio Fernandes Filho, presidente da Kepler Weber.

A cautela é justificada pelo histórico da empresa. Em 2004, um dos anos recorde de safra, a companhia viveu uma euforia semelhante e quase quebrou. No ano seguinte, fez uma série de investimentos para aumentar sua capacidade produtiva, mas, diante de problemas inesperados, como a seca nas lavouras, queda dos preços dos grãos e desvalorização cambial, viu suas vendas despencar.

A dívida junto a seus credores chegou aos R$ 500 milhões. A situação estava insustentável. Ante a falta de perspectivas, os acionistas, entre eles o Banco do Brasil e a Previ, com 17,5% cada, trouxeram o executivo Anastácio Fernandes Filho, especialista em reestruturação de empresas em dificuldades.
 

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Fernandes Filho mudou radicalmente a diretoria e implementou um plano de recuperação que reduziu o número de funcionários em 12%. ?Também tivemos que negociar com os principais credores. Ainda temos R$ 140 milhões em dívidas, mas elas já estão equacionadas. Temos prazo de 13 anos para quitar tudo?, conta Fernandes Filho.

Com a casa em ordem, era hora de voltar a brigar pelo mercado perdido ? sua participação no mercado brasileiro de silos chegou a cair de 60%, nos tempos áureos, para 20%. Nos últimos anos, porém, a empresa recuperou a liderança e viu seu market share subir para 50%. Agora, com uma safra recorde, a expectativa é de obter o melhor desempenho dos últimos dez anos.

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De acordo com especialistas, hoje existe um déficit de 15% na capacidade instalada para armazenagem no Brasil. Se levarmos em consideração os números da safra 2009/2010, seria o equivalente a 25 milhões de toneladas. ?Existe um apagão logístico no Brasil. Diante da safra recorde, vai faltar lugar para estocar os grãos”, afirma Francis Kinder, da consultoria Agra FNP.

?A demanda por silos será forte nos próximos anos, pois existe a pressão do campo?, continua o analista. O problema já atinge muitas regiões. ?No Paraná, por exemplo, existem fazendeiros estocando a produção em locais impensáveis, como ginásios poliesportivos?, diz Fernandes Filho. A Kepler Weber quer, de fato, entrar com força nesse jogo.

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