Gustavo Coelho tem 26 anos e há quatro se livrou de virar “escravo” da rede hoteleira de Pernambuco. As palavras são do próprio Coelho, morador de Porto de Galinhas, a 70 quilômetros da capital, Recife, que hoje supervisiona o movimento de cargas pesadas no estaleiro Atlântico Sul, em Suape, ganhando oito vezes mais do que receberia em um hotel. Multiplique a história desse jovem por 40 mil – considerando apenas as pessoas que trabalham no complexo industrial – e você terá uma ideia aproximada do que levou o governador Eduardo Campos a ser reeleito com 82,8% dos votos válidos, tornando-se o candidato de maior votação proporcional do País. 

 

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Eduardo Campos 82% dos votos: o governador mais votado do Brasil teve como grande trunfo o crescimento de

Pernambuco acima da média nacional. O Estado criou empregos de qualidade nos setores naval e petrolífero

 

“Meus primos estão empregados e meus funcionários conseguem comprar apartamento e carro. Não poderia votar em outro”, atesta Coelho, que começou como auxiliar administrativo no estaleiro. Pernambuco é provavelmente o Estado mais beneficiado pela política de promoção do Nordeste do governo Lula, com crescimento bem acima da média brasileira. Só neste ano, o Estado deve crescer 11%, mais do que os 7% previstos para o País. 

 

“O tempo bom de Pernambuco ainda está por vir. Vamos multiplicar por três o nosso PIB nos próximos 15 anos”, disse à DINHEIRO o governador Eduardo Campos, no Palácio do Campo das Princesas, antes de ser reeleito. 

 

Pernambuco passou por uma grande transformação nas mãos de Campos. Desde 2007, a política de promoção de incentivos fiscais e logísticos implementada pelo Programa de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco atraiu 300 empresas para as cidades do interior e mais 200 projetos de distribuição. 

 

São grupos como Sadia, Metalfrio e AmBev, que se instalaram em Vitória de Santo Antão, Moreno e Cabo de Santo Agostinho, respectivamente, respeitando o mapa de potencialidades elaborado pela Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper) no início do governo. 

 

A AD Diper dividiu o Estado em 12 regiões, com base em suas principais atividades econômicas. O planejamento fez com que a Batavo, por exemplo, instalasse uma fábrica no município de Bom Conselho, localizado numa região de pecuária leiteira, no agreste meridional. 

 

“Pernambuco sempre teve uma localização privilegiada, mas durante muitos anos ficamos de fora da disputa dos investimentos”, avalia Jenner Guimarães do Rêgo, diretor presidente da AD Diper. “O governo percebeu que era preciso que o investimento público ditasse o caminho do investimento privado. 

 

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Construindo navios: Mônica Lira e Gustavo Coelho trabalham no estaleiro Atlântico Sul. Foi o primeiro

emprego dela com carteira. Ele, por sua vez, conseguiu escapar do setor turístico

 

Esses empreendimentos não fariam diferença no Sul, mas são determinantes aqui”, completa. Resultado: até 2007, Suape tinha recebido, em 30 anos de existência, R$ 500 milhões em investimentos governamentais. 

 

Nos últimos quatro anos, o volume foi de R$ 1,2 bilhão. Outro indicativo da mudança é a atuação do BNDES. Nos últimos três anos, o volume de operações triplicou e os desembolsos aumentaram 22 vezes, alcançando R$ 13 bilhões. 

 

A mesma lógica do investimento federal levou o governo local a priorizar o desenvolvimento de municípios do interior. “Usando ferramentas de gestão utilizadas pelas empresas, conseguimos aliar a participação da população com a eficiência no gasto público”, resume Campos. 

 

“A ordem do governo é cobrar e apresentar resultados”, confirma Sidnei Aires, vice-presidente de Suape. Neto de Miguel Arraes, que governou Pernambuco três vezes, Campos bateu, nesta eleição, aquele que é considerado o maior adversário político do avô. 

 

A derrota de Jarbas Vasconcelos ganhou ares de vingança no Recife, mas Campos não enxerga a vitória desse modo. “Nunca alimentei atitude de vingança, sempre fui conciliador”, diz o governador, que é taxado de oligarca e autoritário pelos opositores, mas se estabeleceu quase como unanimidade no Estado. Pudera. 

 

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Durante seu governo, foram criados 157 mil empregos. Na Região Metropolitana do Recife, os homicídios caíram 23,8% entre 2006 e 2009 (na capital, a queda foi de 27,5%) e 1,5 milhão de pessoas deixaram de sofrer com racionamento de água. 

 

As melhorias ainda não foram suficientes, contudo, para vencer todos os problemas estabelecidos por décadas de descaso. A taxa de analfabetismo do Estado é de 17,9% e o racionamento de água ainda atinge 3,1 milhões de pessoas. Apesar dos problemas, o horizonte de Pernambuco não poderia ser mais promissor.  Suape, o maior polo de desenvolvimento do Brasil, tem o porto mais bem avaliado do País e abriga os três maiores empreendimentos do Estado: o estaleiro, a refinaria Abreu e Lima e o Polo Petroquímico. 

 

O centro industrial ainda vai receber um novo estaleiro e vem se preparando para inaugurar, a partir de 2011, três terminais de carga, com investimento de R$ 2,5 bilhões. Os planos antecipam a transformação que deve ocorrer nos próximos anos com a conclusão da Ferrovia Transnordestina, que vai ligar os portos de Pecém, no Ceará, a Suape, e do Canal do Sertão, o maior projeto de irrigação do Nordeste. 

 

Para solucionar a falta de mão de obra qualificada – outra limitação grave –, o governo convida as empresas que pretendem se instalar no Estado a apresentar uma relação das formações profissionais de que vai precisar nos próximos anos e, com base nela, investe em capacitação. 

 

Graças a essa política, os filhos de Mônica Patrícia de Lira, 33 anos, moradora de Cabo do Santo Agostinho, terão uma vida mais confortável que a da mãe. Depois de passar a noite na fila de candidatos a emprego em Suape, há dois anos, a hoje soldadora passou por um curso técnico e se especializou numa profissão. 

 

“Agora posso pagar os cursos dos meus filhos de 13 anos e 15 anos. Antes de Suape, eu nunca tinha trabalhado num emprego por mais de dois meses”, lembra. Um tempo que começa a ficar para trás e que coloca Campos no páreo de outra disputa: a sucessão presidencial de 2014.

 

 

“Gerimos o Estado como uma empresa”

 

O sr. esperava um resultado eleitoral tão retumbante?

Tínhamos consciência de que havia apoio social ao nosso governo. Construímos uma pauta e uma forma nova de governar. Derrotamos um modo de fazer política em Pernambuco.

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Qual é o novo modo?

Sem agressões ou tentativas de desqualificar adversários. Nós qualificamos a nossa ação e as nossas propostas. Gerimos o Estado como uma empresa, e ele quase multiplicou por quatro o volume de investimento.

 

Qual o papel do governo federal nessas melhorias?

O governo Lula foi muito importante para o Brasil, mas foi ainda mais para o Nordeste. E Pernambuco tem, em Lula, o maior presidente de toda a história. 

 

Pernambuco contou com um olhar carinhoso de Lula?

Acho que todos os Estados nordestinos foram tratados da mesma forma. Nós aproveitamos todas as oportunidades e criamos outras.

 

O resultado das urnas o anima a alçar outros voos?

Esta é uma hora de focar o trabalho em Pernambuco. Quem recebe uma votação como essa tem de ter responsabilidade.

Enviado do Recife