São números grandiosos. Presença em 82 países, 99 mil funcionários, receitas de US$ 34 bilhões e 116 anos de história. São igualmente problemas grandiosos. Afinal, na economia millenial não há dilema maior para uma corporação do que crescer de forma consistente e, ao mesmo tempo, manter-se ágil e inovadora. “A evolução tecnológica obrigou muitas empresas a deixar de atuar apenas como indústrias e começar a transformação digital, por demanda do mercado”, afirmou à DINHEIRO o presidente e CEO da Honeywell América Latina, Manuel Macedo. “Com a gente também foi assim. A diferença foi que em vez de acompanhar os mercados sempre tentamos prever as necessidades deles.”

Esse é o desafio. Estar sempre um passo à frente. Em 2021 o grupo passou por uma alteração emblemática ao transferir as negociações de seus papéis da Bolsa de Nova York (NYSE) para a Nasdaq. Alicerçada em quatro grandes verticais, com inúmeras subdivisões, a companhia é uma marca mais conhecido por players de todos os segmentos do que propriamente pelo consumidor final. Essas grandes matrizes têm em comum um mundo pós-Covid com projeções otimistas. No primeiro segmento, o Aeroespacial (responsável por US$ 11 bilhões das receitas líquidas de 2021, ou 32% do total), a Honeywell vê “aceleração da atividade de voos e aumento dos negócios”, segundo o Relatório de Relações com Investidores da empresa.

No segmento de Materiais & Tecnologias de Alto Desempenho (que soma US$ 10 bilhões, ou 29,1% das receitas), a companhia também espera uma retomada e para se posicionar como “o principal parceiro de nossos clientes para que realizem a transição energética”. A terceira vertical, de Soluções de Segurança & Produtividade (US$ 7,8 bilhões, 22,7% do faturamento líquido), é outra que sabe que gargalos de demanda no mundo todo precisarão de soluções de produtividade. Por fim, a macroárea de Tecnologias de Edifícios (US$ 5,5 bilhões, 16,2% das receitas) prevê um retorno cada vez mais intensivo ao presencial, em escolas e escritórios, o que levará a uma busca por “edifícios saudáveis”.

Para manter um pipeline tão agressivo, em frentes amplas, um fator é decisivo. Investimentos em inovação. Os recursos aplicados em P&D somaram globalmente US$1,33 bilhão em 2021. “Arriscaria dizer que se não fosse o grande DNA de inovação da empresa, seria difícil ter o nosso sucesso”, afirmou Macedo. Do total da força de trabalho, há 18 mil engenheiros. Isso representa 19% dos empregados. Eles são estimulados a criar. A Honeywell afirma ter mais de 35 mil patentes registradas ou em aprovação Nesse quesito, Thea Feyereisen é uma referência global.

Uma espécie de popstar da Honeywell. Engenheira sênior da área Aeroespacial, ela atua na companhia desde 1995, na planta de Minneapolis. Sua primeira patente foi em interfaces de planejamento de rotas para veículos para “ajudar os operadores a planejar rotas que facilitam evitar áreas perigosas e não desejáveis ao longo do caminho”. Hoje, ela tem mais de 50 no currículo.

Essa obsessão por soluções tecnológicas e inovação faz parte de uma transformação rumo à nova jornada vivida na companhia, reforçando a transição de uma corporação industrial para uma gigante de software. Ou, como diz Macedo, “uma empresa de software industrial” que, por meio de “internet das coisas (IoT) e inteligência artificial apresenta soluções que permitem maior eficiência e produtividade”. Nessa revolução, um elemento decisivo é a aposta na computação quântica. No fim do ano passado, a divisão de soluções para esta área de conhecimento da Honeywell (a Honeywell Quantum Solution) e a Cambridge Quantum Computing tomaram a decisão de iniciar uma fusão para se tornar a maior empresa de computação quântica do mundo, a Quantinuum.

A norte-americana tem participação majoritária na nova empresa, que deve escalar essa tecnologia disruptiva mais rapidamente, graças à fusão das duas. A tecnologia responderá à demanda por computação aprimorada em diversas áreas, incluindo cibersegurança, descoberta e entrega de medicamentos, ciência de materiais, finanças e otimização para mercados industriais. Em nota, a Cambridge firmou que “a combinação dos principais talentos da indústria quântica com tecnologia mais abrangente nos posicionará extremamente bem para o crescimento futuro”. Segundo informações do relatório da McKinsey, esse mercado recebeu somente em 2021, US$ 1,7 bilhão em investimento, mais que o dobro em 2020.

ESG Como se fosse pouco construir os drives de crescimento a partir de tecnologia de alta gama, a companhia pauta toda a sua estratégia tendo como elemento-chave a Sustentabilidade, com inicial maiúscula mesmo. Todas as operações do grupo precisam estar lastreadas em cinco pilares – Responsabilidade, Eficiência, Resiliência, Circularidade e Carbono Zero – e essa soma levar ao compromisso com a Sustentabilidade, que evidentemente não é apenas ambiental, mas também social e financeira.

Hoje, 60% do investimento em P&D é focado em produzir soluções que melhoram a performance dos clientes em seus objetivos ESG (ambiental, social e governança). “A sustentabilidade é uma questão de vida ou morte”, disse Macedo. “Queremos chegar a 2035 com 0% de contribuição para as emissões de carbono na atmosfera.”

Atualmente, no mundo, são 825 instalações, incluindo plantas, escritórios, laboratórios de desenvolvimento e centros de serviços. Só na América Latina, a companhia soma 12 fábricas, sendo duas delas brasileiras, em Itajubá e Monte Claros, ambas no estado de Minas Gerais, além dos centros de desenvolvimento tecnológico, tendo cliente de peso como Embraer e Petrobras. “Olhamos para o Brasil como o grande país que é”, disse o executivo. “Os pilares da transformação digital e da sustentabilidade colocam o Brasil numa posição fundamental no futuro do mundo. O importante é saber aproveitar esse papel.”