É briga de matar ou morrer a que vai sendo travada em Americana, a 120 quilômetros de São Paulo, em torno da construção da maior usina termoelétrica já vista no País. Atende pelo nome de Carioba II, será movida a gás natural, vai custar US$ 600 milhões e com sua potência superior a mil megawatts estará incluída dentro de três anos no rol das dez mais fortes do planeta. Os investidores, Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), controlada pelos grupos Votarantim, Bradesco e Camargo Corrêa, e Intergen, braço para o setor de energia da Shell, garantem que ela é menos poluidora do que a velha unidade que irá substituir, Carioba I, construída nos anos 50 e alimentada a óleo diesel. Meia centena de grupos ecológicos, porém, asseguram que a nova usina irá sugar a água do Rio Piracicaba, com a qual terá de resfriar suas oito turbinas e provocar chuvas ácidas pelo lançamento de enxofre na atmosfera. Com quem está a verdade?, pergunta-se entre os 160 mil habitantes da cidade. Tudo indica que a interrogação será respondida num plebiscito popular. Para que seja convocado, faltam menos de mil assinaturas.

?Vamos expulsar daqui a idéia da usina e todos os males que ela representa?, assegura, fé inabalável, o aposentado Jonas Santa Rosa, presidente do Grupo de Defesa Ecológica da Bacia do Rio Piracicaba em Americana (Grude), com mil filiados. A réplica é dada com a mesma confiança. ?O plebiscito não sai e a usina vem porque vai representar uma vantagem competitiva para Americana?, diz Nilza Tonalisa, presidente da Associação Comercial e Industrial da cidade, que reúne mil e cem empresários locais.

Só agora, diante da mais grave crise energética dos últimos anos, o Brasil começa a travar contato com a tecnologia das usinas termoelétricas. Há, de fato, muitas dúvidas honestas sobre seu impacto ambiental. ?Elas poluem, sim, o meio ambiente e contribuem para o aumento do efeito estufa?, disse a DINHEIRO o professor Marçal Pires, especialista em Química da Atmosfera da Faculdade de Química da PUC do Rio Grande do Sul. ?Mas também é fato que as usinas movidas a gás agridem menos a natureza do que as de óleo ou carvão?.

?A discussão sobre Carioba II chega a ser histérica e até surrealista?, compara Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL. ?Detemos a tecnologia mais moderna do mundo, iremos gerar riqueza e poluir menos o ambiente do que hoje em dia?, assegura. Ele explica que Americana foi o local escolhido para o empreendimento pela proximidade com as tubulações do gasoduto Brasil-Bolívia. Atento em relação à movimentação dos que querem o plebiscito, Ferreira movimenta um exército de assessores para aplacar as objeções da população de Americana e região e tem olhos postos na Secretaria de Energia e Meio Ambiente, que pode dar um parecer sobre o EIA-Rima da usina a qualquer momento. ?Nossos estudos de impacto ambiental têm oito volumes e, sinceramente, nunca vi nada mais bem-feito?.

O problema é que o líder dos ecologistas não acredita em quaisquer palavras que defendam a usina, por mais que sejam técnicas. ?Não confiamos nas empresas que estão por trás do empreendimento?, resume o deputado Antônio Mentor, do PT, porta-estandarte da turma da oposição. ?Minha opinião está cristalizada.? Ainda assim, Mentor reconhece que dificilmente terá uma vitória completa. Pelo menos outras quatro cidades do interior paulista já se ofereceram à CPFL para abrigar o empreendimento. Afinal, calcula-se que a usina vá gerar cerca de R$ 30 milhões anuais na cota-parte do ICMS que fica no município em que estiver instalada. Parece um filme de Hollywood, mas é vida real e ninguém sabe como vai ser o final.