Um sotaque familiar aos brasileiros tem sido ouvido pelas movimentadas ruas de Nova York. No 39º andar do número 245 da Park Avenue, a carioca Eveline Freire Gerck comanda o banco de investimentos AP International. A moça, porém, não é apenas uma executiva. Em 2000, Eveline uniu-se a Thurmon Williams, ex-CEO da Sears no México e nos EUA, e Daniel Serfaty, ex-presidente da Aptima, consultoria de recursos humanos, para fundar a instituição. Os ativos da instituição somam US$ 800 milhões. Com uma área de private equity e outra de mercado de capitais, eles pouco se aventuravam em investimentos além dos limites da parte norte do continente americano. Mas, enquanto seus sócios desfrutavam as férias de verão, entre julho e agosto deste ano, Eveline desembarcou no Brasil para uma temporada de três semanas de intensos contatos. Trouxe na bagagem um plano de guerra: colocar as ações das grandes empresas brasileiras diretamente no portifólio dos investidores internacionais, driblando a intermediação dos bancos de investimentos. O potencial é enorme. Segundo levantamento do AP, dos 50 mil fundos de investimentos existentes no mundo, apenas 200 investem com freqüência no Brasil. ?O País possui uma economia forte, mas ainda não é um grande mercado de capitais?, diz.

O AP International identificou 16 grandes grupos nacionais com apelo para esse tipo de negócio ? companhias do porte de Petrobras, Vale do Rio Doce, Gerdau e Usiminas. Eveline projeta uma valorização de até 200% em dois anos para alguns desses papéis. Para isso, contará com uma rede de 150 colaboradores e com o tratamento diferenciado que dará a essas empresas. Os grandes bancos de investimentos internacionais reservam uma mesinha espremida para os países emergentes em um canto do andar dos analistas. ?Estamos no corner do mundo financeiro?, diz ela. Outro interesse do AP está no private equity. Um fundo de US$ 350 milhões foi montado recentemente para arrematar participações em empresas. O primeiro negócio foi fechado na Holanda. ?Mas pode ter um pedacinho desse dinheiro para o Brasil, sim?, afirma Eveline. A primeira tentativa, porém, foi frustrante. Ela visitou uma rede varejista que seria um alvo praticamente certo e saiu decepcionada do encontro. A empresa, em sua avaliação, não tem uma gestão para receber um aporte financeiro.

Antes de criar o AP, Eveline acumulou uma rica experiência no setor financeiro. Em 1989, essa carioca torcedora do Fluminense mudou-se para os EUA e lá trabalhou em instituições como o Smith Barney (antes de ser comprado pelo Citigroup) e os japoneses Nomura e Daiwa. Nos três anos anteriores à criação do AP, administrou a área de fusões e aquisições do JP Morgan Chase. Cuidava de clientes do porte dos fundos de private equity KKA e Blackstone. Na volta ao Brasil, desconheceu parte da realidade do próprio país. O trânsito caótico de São Paulo a incomodou, principalmente pelos deslocamentos que foi obrigada a fazer atrás das reuniões agendadas. Mas, no Rio de Janeiro, preferiu não abandonar as raízes e comprou um apartamento na Lagoa. É uma maneira de ficar perto dos familiares que ainda moram no bairro e sentir a brisa da infância pela janela.