Apesar de as edições de AS MELHORES DA DINHEIRO terem como princípio enfocar o desempenho das empresas no ano anterior, é impossível não iniciar este texto com uma informação de setembro de 2020. No encerrar do terceiro trimestre, a B3 registrou 3 milhões de investidores individuais em sua base de clientes. Só para comparar, em 2007, último grande momento de euforia do mercado acionário brasileiro, eram pouco mais de 500 mil indivíduos com ações em seus portfólios. No entanto, nos últimos dois anos a bolsa vem conseguindo o que não foi possível realizar nas décadas anteriores: trazer pequenos investidores para a agitação do mercado acionário. “O mais importante é que isso que está ocorrendo simultaneamente no mercado de capital e na nossa companhia, é uma combinação de forças”, disse o principal executivo financeiro (CFO) da B3, Daniel Sonder.

Por que a chegada de muitas pessoas faz diferença? Desde a estabilização dos preços, em 1994, o Brasil deu vários saltos de qualidade. A inserção na economia global aumentou, as empresas e os indivíduos puderam planejar melhor suas decisões econômicas e foi possível comparar as vantagens e as ineficiências de nossos produtos e serviços em comparação com seus pares mundiais. No entanto, a taxa de juros muito elevada durante muito tempo fez com que o mercado acionário demorasse mais para atingir a maturidade notada em outros setores da economia. Agora mais e mais pessoas sentem-se estimuladas a colocar seu dinheiro para participar da agitação dos pregões, ainda que virtual.

Segundo Sonder, o processo em curso é uma transformação estrutural no mercado de capitais brasileiro e a principal causa são os juros baixos. “Isso vem inspirando uma mudança no comportamento dos investidores de forma geral, e no comportamento da pessoa física em particular”, disse ele. “Os juros baixos significam o fim das aplicações financeiras rentáveis e sem risco.” Como resultado, mudou tanto o apetite dos investidores por alternativas mais arriscadas quanto o modelo de financiamento das companhias.

Gilson Finkelsztain Empresa: B3 Cargo: Presidente Destaques da gestão: Principal realização da gestão: Investir na capacidade de processamento para lidar com o aumento do volume de transações.

Essas alterações, que colocam o Brasil em linha com economias mais maduras, foram aceleradas por uma alteração na oferta de crédito para as grandes empresas, tanto com recursos públicos quanto com dinheiro privado. No caso do setor público, a redução na intensidade de atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social (BNDES), que durante décadas foi o único fornecedor de capital de longo prazo para as grandes empresas. Com a mudança na orientação do Ministério da Economia, o banco estatal abriu mais espaço para a concorrência.

Já a mudança junto aos bancos privados decorreu, também, da queda dos juros. Em tempos de juros altos e margens gordas, fazia todo o sentido para os bancos, mesmo os de varejo, emprestar para grandes empresas. O risco era baixo e a rentabilidade, mesmo não sendo comparável à dos financiamentos para pessoas físicas, pagava as contas do banco sem muito trabalho. No entanto, com os juros em queda, as grandes companhias passaram a exigir juros cada vez menores para contrair empréstimos. As margens encolheram. Quando o banqueiro calculava a rentabilidade do negócio e incluía o consumo de capital para fazer frente às exigências dos Acordos de Basileia, a conta passou a não fechar. “Os próprios bancos passaram a encaminhar esses grandes clientes para suas divisões de banco de investimento”, disse Sonder. Assim, em vez de comprometer o orçamento de risco com uma operação estruturalmente pouco rentável, ainda que de baixo risco, os bancos passaram a preferir ganhar a comissão de estruturar uma captação a mercado, na renda fixa ou com ações.

Segundo Sonder, esse fenômeno encontra a B3 preparada. Sob a liderança do presidente Gilson Finkelsztain, a bolsa tem feito investimentos significativos ao longo dos últimos anos em uma plataforma de negociação que permita processar um volume de negócios muito maior do que no passado. “Somando-se ações e derivativos são realizados atualmente 8 milhões de negócios por dia, o que representa o triplo do início de 2019”, disse Sonder. “É muito importante que a companhia esteja preparada, por isso estamos investindo para ampliar a oferta de produtos e serviços disponíveis tanto para os investidores quanto para os emissores.”

As melhores

1. B3 439,13 PONTOS

2. TICKET 417,58 PONTOS

3. CIELO 380,10 PONTOS