Algumas das estrelas mais famosas do cinema se reuniram, na terça-feira 23, em Los Angeles, para uma première muito especial. Scarlett Johansson, Robert Downey Jr, Chris Evans, Chris Hemsworth, entre outros, posaram para fotógrafos e deram entrevistas cheias de piadas. A alegria deles não surpreende. O filme era “Vingadores: Ultimato”, que encerra uma saga de 22 filmes, lançados ao longo de 11 anos e que renderam, no total, U$ 18 bilhões – o maior valor já feito por uma única franquia. Esse número subirá ainda mais quando a bilheteria mundial de “Ultimato” for somada a ele.

Tanto dinheiro assim pareceria impossível para a Marvel dos anos 90, quando ainda era apenas uma editora de quadrinhos à beira da falência. Fundada em 1939 como Timely Comics por Martin Goodman, a empresa teve sua era de ouro nos anos 60 quando Stan Lee virou o editor-chefe e, em parceria com Jack Kirby e Steve Dikto, criou Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, X-Men, entre outros.

O verdeiro capitão: o executivo Kevin Feige elaborou o
conceito de vários filmes individuais mas interligados, modelo inédito em Hollywood (Crédito:Xavier Collin/Image Press Agency/NurPhoto)

Durante quatro décadas, a Marvel liderou com folga o segmento dos heróis de colãs, antes dominado pela DC Comics (casa de Batman, Super-Man e Mulher Maravilha). Nos anos 90, porém, os hábitos de consumo começaram a mudar com a garotada trocando os quadrinhos pelos videogames. E em 1994, a Marvel entrou em recuperação judicial. A fabricante de brinquedos Toy Biz comprou a editora em 1997, por US$ 280 milhões, mas, para fazer caixa, a Marvel já havia vendido para a Fox e Columbia Pictures, os direitos de X-Men e Homem-Aranha, respectivamente. As duas propriedades viraram filme no inicio dos anos 2000 com sucesso de bilheteria e crítica. Foi quando a empresa decidiu estudar a criação de uma unidade de negócios de cinema. Kevin Feige, ex-produtor de X-Men, foi contratado para iniciar o setor. Foi dele a ideia ousada de, em vez de negociar franquias, abrir um estúdio próprio.

Marvel studios A proposta era arriscada. Os personagens mais populares já haviam sido negociados e restavam nomes como Thor e Capitão América. Mas a Toy Biz topou a ideia e foi atrás de um empréstimo de US$ 525 milhões com o banco Merrill Lynch, usando como garantia o copyright de todos personagens da Marvel ainda não vendidos. Em 2005, a Marvel Studios foi fundada e Feige, aos 30 anos, assumiu a presidência da divisão. Lançado em 2008, “Homem de Ferro”, o primeiro filme, fez US$ 585 milhões ao redor do mundo, dando início a um novo modelo de negócios no cinema. Em vez de lançar um filme com infinitas sequências, a ideia do jovem executivo foi transportar para as telas a mesma dinâmica dos gibis: os heróis existem num único universo e, embora tenham aventuras solo, suas histórias compõe um quadro maior.

A estratégia nem tinha sido colocada à prova quando a empresa entrou no radar da Disney. Em 2009, a companhia do Mickey Mouse arrematou a Marvel por U$S 4 bilhões. Seguiram-se sucessos como “Capitão América” (US$ 714 milhões), “Vingadores” (US$ 1,5 bilhões), “Pantera Negra” (US$ 1,3 bilhões), e o mais recente, “Capitã Marvel” (US$ 1 bilhão). “Foi algo nunca visto. Os roteiros eram ótimos, os temas variados e o elenco de primeira”, afirma Kathryn Arnold, consultora de negócios de entretenimento.

Clube do bilhão: A Marvel Studios acumula três filmes que ultrapassaram a barreira mágica de arrecadação de bilheteria. Da esquerda para a direita: “Pantera Negra” (2018), com US$ 1,3 bilhão; “Vingadores” (2012), com US$ 1,5 bilhão; e “Capitã Marvel” (2019), ainda em cartaz no Brasil, com US$ 1 bilhão (Crédito:Divulgação)

Quem assistiu “Vingadores: Guerra Infinita”, lançado em 2018 – e cuja bilheteria de US$ 2 bilhões o transformou n o 4º filme mais visto na história – sabe que o próximo filme é crucial para os mais de 40 personagens da franquia. Mas “Ultimato” apenas encerra uma fase da Marvel, que abre espaço para outros personagens ainda mais obscuros que Thor e Homem de Ferro já foram um dia . Um dos projetos já anunciados é “Os Eternos”, uma criação de Jack Kirby que é desconhecida até por muitos fãs de quadrinhos. Feige continua no comando e a expectativa é que a marca Marvel siga mais forte do que nunca. “Foi tudo graças a ele”, diz Jason E. Squire, professor de cinema da USC e editor do Movie Business Book. “Minha aposta é que o sucesso continuará por muitos anos.”


Stan Lee, o verdadeiro rosto da Marvel

Se algo era garantido nos filmes da Marvel era a aparição rápida, ou cameo em inglês, do homem que começou tudo: Stan Lee, que faleceu aos 95 anos, em novembro de 2018. O escritor começou a trabalhar na Marvel (então Timely Comics) em 1939, como editor assistente. Na época, a editora publicava quadrinhos religiosos e depois passou para os quadrinhos de guerra e ficção científica.

Nos anos 60, Lee foi apontado editor-chefe e criou, com Jack Kirby, uma nova geração de super-heróis com o Quarteto Fantástico. Seguiram Thor, Hulk, Homem-Aranha, X-Men, entre outros. Nas telas, Lee fazia participações como motorista de ônibus, pedestre desavisado ou alienígena perdido. A cada aparição, fazia piada de si mesmo, mas nunca sem deixar de encarnar a persona com a qual grande parte do público o identificava: o criador de todo um universo.