São seis anos de operação nas malhas ferroviárias pelo Brasil. Mais de R$ 13 bilhões investidos na expansão das operações desde 2015 e a previsão de ao menos R$ 17,5 bilhões a serem aplicados em infraestrutura até 2025. A Rumo, vencedora do anuário AS MELHORES DA DINHEIRO 2021 na categoria logística, cruzou divisas, estabeleceu bases e, apesar do impacto da pandemia nos negócios, superou desafios para atingir marcas históricas, como a renovação por antecipação da concessão da malha paulista, o pagamento antecipado ao governo federal de outorgas de concessões e a emissão de títulos verdes. “Se pudéssemos resumir o ano de 2020 em uma palavra seria desafio”, disse o CEO, João Alberto Abreu.

O desafio destacado pelo executivo está relacionado, entre outras coisas, à reestruturação promovida pela companhia para que as operações não parassem e nem fossem afetadas pelos percalços originados pela crise sanitária. O centro de controle operacional foi adaptado para garantir segurança nas condições de trabalho dos colaboradores, além de distanciamento social. O setor é responsável pelo controle de todo o tráfego dos trens que circulam por mais de 14 mil quilômetros de trilhos em nove estados do País.

Os negócios da Rumo estão divididos em três operações: Norte (com ferrovias em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo), Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e Central (Ferrovia Norte-Sul com passagens por São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Tocantins). Apesar do impacto negativo em volumes movimentados em consequência da pandemia e nos números de 2020 — o Ebitda ficou 8,4% abaixo do registrado em 2019 e o lucro líquido recuou 3,7% —, o volume total transportado em 2020 ficou 3,9% acima ao de 2019, com 62,5 bilhões de Tonelada por Quilômetro Útil (TKU), que equivalem a 59 milhões de toneladas de produtos agrícolas e industriais.

JOÃO ALBERTO ABREU EMPRESA: RUMO. CARGO: CEO. DESTAQUE DA GESTÃO: renovação por antecipação da malha paulista, pagamento antecipado de outorgas ao governo federal e emissão de títulos. (Crédito:Divulgação)

O caixa da empresa também teve proteção. As iniciativas de capitalização foram mantidas, por fazerem parte das estratégias de longo prazo. A estrutura de capital foi aprimorada com a realização de um follow-on de R$ 6,4 bilhões. “É importante destacar também a emissão do primeiro green bond de ferrovias da América Latina, em junho, com valor total de US$ 500 milhões”, afirmou Abreu. “E 25% da emissão foi alocada em fundos de investimento com foco em financiamentos sustentáveis.” A empresa se comprometeu, por exemplo, a direcionar os recursos captados para o financiamento de green projects, como substituição e aquisição de material rodante mais moderno e redução de 15% nas emissões específicas até 2025.

A emissão do green bond foi a cereja no bolo em ano marcado por importantes conquistas. Antes disso, a companhia já havia assinado com a Agência Nacional de Transportes Terrestres a prorrogação antecipada da concessão da malha paulista. O contrato original venceria apenas em 2028 e foi renovado por mais 30 anos, mediante série de contrapartidas que somam investimentos de R$ 6 bilhões. A Rumo também pagou antecipadamente ao Ministério da Infraestrutura R$ 5,1 bilhões referentes a 70 parcelas da concessão da Malha Paulista e 59 parcelas da Malha Central. “Com esse adiantamento, direcionamos o nosso caixa para a concretização de novos projetos”, disse o executivo.

Um deles teve início já neste ano. A empresa fechou com o governo de Mato Grosso o contrato para a construção da primeira ferrovia privada viabilizada por meio de autorização de um estado brasileiro. Dentro dos limites de Mato Grosso, 730 quilômetros de trilhos vão conectar Cuiabá e os municípios de Nova Mutum e Lucas do Rio Verde (ambos ao norte) a Rondonópolis, no sul. A Rumo também deu início à operação da Malha Central com a movimentação a partir do terminal de São Simão (GO) com destino ao porto de Santos (SP). O destaque da iniciativa é a utilização de trens de 120 vagões, um dos principais investimentos em inovação e sustentabilidade feitos pela empresa, com ganhos de eficiência energética.

“É importante destacar a emissão do primeiro green bond de ferrovias da região, de US$ 500 milhões” João Alberto Abreu, CEO da Rumo.

A retomada integral das operações refletiu nos resultados operacionais e financeiros no primeiro semestre de 2021 na comparação com o mesmo período de 2020. A companhia teve um crescimento de 11% no volume movimentado, o Ebitda apresentou alta de 32% quando desconsiderados os efeitos não recorrentes da renovação da Malha Paulista, o lucro bruto subiu 33% e lucro líquido, mais de 100%.

A confiança no crescimento do setor está baseada na reestruturação da matriz logística no País. A intenção do Ministério da Infraestrutura é ampliar a participação do modal ferroviário no transporte de cargas, atualmente em torno de 15%, para 30%. Os investimentos devem ser realizados pela iniciativa privada. E, ao que tudo indica, a Rumo tem tomado o caminho certo para se consolidar como referência no setor e evitar que qualquer intercorrência possa resultar num grande descarrilamento.