O veterano mascote Tigre Tony, que ano que vem chega aos 70 anos e ficou famoso no Brasil pela voz do locutor Serginho Leite, rugiu alto no País no ano da crise. A operação brasileira da gigante americana Kellogg cresceu 12% em receita em 2020, bem acima do resultado global, alta de 1,4% – e faturamento de USS 13,7 bilhões. O cereal Sucrilhos e a batata Pringles estão entre os produtos da marca que mais tiveram crescimento em vendas no ano passado. A América Latina responde por 9% do total mundial, e o Brasil, 25% do bloco, o que significa receita de pouco mais de US$ 300 milhões. Além do aumento no consumo em casa provocado pela necessidade do isolamento social, o resultado também está relacionado ao volume de investimentos no parque fabril do País, em Santa Catarina, um dos cinco maiores da companhia no mundo, e em novos produtos. “Nosso compromisso é continuar com crescimento agressivo no Brasil nos próximos anos”, disse o colombiano Alberto Raich, vice-presidente que comanda a Kellogg’s Brasil.

Desde que a companhia comprou a marca de biscoitos e massas catarinense Parati, em 2016, por US$ 300 milhões, o volume de investimentos vem se mantendo forte no País. Foram aportados, entre 2019 e 2020, US$ 70 milhões na montagem de linhas de produção de cereais matinais e de Pringles no parque fabril de São Lourenço do Oeste, além de investimentos nos produtos originários da Parati. Levando-se em conta os valores investidos desde 2016, o montante chega a US$ 100 milhões. Com a aquisição da empresa de Santa Catarina, a companhia americana aumentou de forma significativa sua capacidade produtiva. Antes da compra, eram cerca de 500 funcionários. Hoje, são 4,2 mil. A operação brasileira é a segunda maior da América Latina, atrás da mexicana, e está entre as dez maiores do mundo.

12% crescimento da receita da Kellogg’s
no Brasil em 2020

Parte do investimento também foi direcionado à transformação tecnológica da companhia, principalmente na operação B2B. “Temos rede de parceiros e montamos programas adicionais em nossos sites de compras. Ampliamos presença nas grandes redes de supermercados e tivemos ação intensa de marketing digital”, disse Raich. Um fator de tempo ajudou a aumentar a rentabilidade e diminuir os custos de importação. Até o ano retrasado, toda a quantidade de Pringles consumida no Brasil vinha da Europa. Com a fábrica, o cenário se inverteu e 95% passou a ser produzido em solo catarinense. Trazer a operação para o País antes da pandemia e, portanto, da restrição de circulação de mercadorias, acabou sendo um componente extra no aumento da receita. “Mais do que custo, passamos a ter possibilidade de produzir sabores mais perto do desejo do consumidor brasileiro, como o Pringles churrasco”, afirmou o executivo. Sabores pizza e asa de frango também foram novos produtos lançados no ano passado.

O vice-presidente da companhia disse que, com mais consumo, houve aumento relevante do potencial de brigar por maior participação no mercado. Até para acompanhar mudanças de hábitos por quem compra. “Vimos mudanças importantes do consumidor nesse ano de pandemia. Primeiro houve procura muito grande por estoque e agora as pessoas procuram mais praticidade.” E é nesse cenário que os cereais e os snacks de batata se destacam. Os números refletiram a necessidade da capacidade máxima de produção no ano passado. Categorias como os cereais matinais registraram alta de 30% em 2020, enquanto em Pringles o acréscimo foi acima de 100%. O objetivo da empresa é assumir a liderança neste segmento no fim de 2022. Categorias de biscoitos também subiram, em ritmo menor. O parque fabril em Santa Catarina é o primeiro da América Latina a fabricar produtos da marca.

QUE VENHAM AS BATATAS: Brasil importava 100% da Pringles. Com investimento em Santa Catarina, produção local abastece 95% do mercado

RITMO MENOR Para o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), Cláudio Zanão, a subida menos significativa no faturamento de empresas produtoras de biscoitos no Brasil está relacionada ao fechamento de pequenos comércios e diminuição da presença escolar. “Os produtos deixaram de estar nas lancheiras das crianças e nos escritórios, por causa do home office”, disse. “O fechamento de bombonieres também afetou o consumo.” O segmento de biscoitos no País registrou R$ 20 bilhões em receita em 2020, alta de 6%, e volume de 1,5 milhão de toneladas, acréscimo de 2% sobre 2019.

No ano passado, a Kellogg’s Brasil também realizou doações de 180 toneladas de alimentos a 6 milhões de pessoas impactadas pela pandemia, que somam R$ 3 milhões. Neste ano foram mais 24 toneladas para famílias de Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo, que equivalem a R$ 700 mil. Ainda para este ano, a perspectiva da Kellogg’s é seguir crescendo no Brasil na ordem de dois dígitos. “Com os resultados do ano passado, esperamos um consumo maior em 2021. Hoje o cliente conhece um pouco mais sobre o que significa a pandemia e que irá ficar mais tempo em casa”, disse o vice-presidente da companhia. Com as projeções de aumento, Raich enxerga participação maior do tigre símbolo em outras marcas, como a produção de biscoitos Sucrilhos. “Temos um grande personagem e queremos fazer investimentos para ter mais oportunidades de presença do Tony no Brasil.”