O ano era 1923. A pintora paulista Tarsila do Amaral estava curtindo uma temporada em Paris, ao lado do namorado, o escritor Oswald de Andrade. Ela ainda saboreava as glórias conquistadas na Semana de Arte Moderna, realizada um ano antes, em São Paulo. Feliz, realizada e apaixonada, enviou uma carta à família, no Brasil, na qual dizia: “Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo (fazenda onde nasceu), brincando com bonecas de mato, como no quadro que estou pintando”. A tela era A Caipirinha, tida pelos especialistas como um ícone do movimento modernista. Agora, quase um século depois, a obra será colocada à venda, por decisão judicial, pelo preço de R$ 42,5 milhões. A tela pertencia ao empresário Salim Taufic Schahin, envolvido num esquema de corrupção descoberto pela operação Lava Jato. Salim Taufic era um dos donos do grupo Schahin, que faliu há pouco mais de dois anos, deixando dívidas de mais de R$ 6 bilhões. A Caipirinha e outros bens do empresário serão vendidos para pagar parte dessas divídas. Surge, assim, uma oportunidade rara para quem quiser – e puder – ter um legítimo Tarsila do Amaral na parede de casa. Mas é bom lembrar que a Justiça determinou que os R$ 42,5 milhões têm de ser pagos à vista.

E essa não é, nem de longe, a obra mais valiosa da pintora. Seu trabalho mais célebre é o quadro Abaporu, de 1928, que inaugurou o movimento antropofágico nas artes plásticas. Trata-se da tela brasileira mais cara do mundo, com valor em torno de US$ 40 milhões. Arrematada pelo colecionador argentino Eduardo Costantini, por US$ 2,5 milhões, durante um leilão em 1995, está atualmente em exibição no Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (Malba).

(Nota publicada na edição 1179 da Revista Dinheiro)