Demorou mais de um século, mas a tecnologia está finalmente mudando o modo como o ser humano adquire conhecimento. No Brasil, algumas startups já estão envolvidas de formas distintas nessa revolução tecnológica do ensino, principalmente no que diz a respeito à educação corporativa. No lugar de livros e salas de aula, a moda agora são os investimentos em cursos personalizados, a distância e até nas maratonas práticas chamadas de hackathons. Tudo isso com um objetivo simples: qualificar melhor e mais rapidamente o profissional do futuro.

Criada em 2011, a Tamboro é uma das companhias que estão envolvidas nessa empreitada. A startup carioca surgiu no mercado com cursos de educação a distância voltados para o ensino básico com disciplinas como matemática e português. A aposta era na praticidade. Os cursos podem ser acessados por computadores, tablets e até smartphones. Com o tempo, a companhia mudou seu foco de ensino e incorporou disciplinas que Samara Werner, fundadora e CEO da empresa, classifica como “habilidades do século 21”.

Em vez de equações e figuras de linguagem, os alunos aprendem sobre criatividade, trabalho em equipe e técnicas de liderança e de resolução de conflitos internos em equipes. “São coisas que você não aprende na escola”, diz Samara. “É uma necessidade existente hoje no mercado de trabalho.” Para Marcus Quintella, coordenador do programa de MBA em Empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas, trata-se de uma prática que complementa a educação recebida nas escolas e faculdades. “Em geral, as startups deste mercado abordam práticas que não estão nos conteúdos dos cursos. Isso é positivo para o estudante”, afirma Quintella.

Rodrigo Terron, da Shawee: “Não acreditamos no modelo de educação tradicional” (Crédito:Daniel Borges)

A estratégia vem rendendo resultados interessantes. Ao todo, a Tamboro já conta com 60 mil alunos cadastrados em sua plataforma de ensino online, sendo 40 mil interessados em aulas de educação corporativa. A companhia agora quer fisgar as empresas. No fim de 2017, a gigante de cosméticos Natura contratou a startup para criar um curso online com o objetivo de capacitar melhor as mais de 13 mil consultoras que revendem os produtos da marca. “O objetivo é focar nas empresas”, diz Samara. “Queremos terminar o ano com pelo menos 15 clientes do porte da Natura.”

Se a Tamboro aposta no ensino a distância, a paulistana Shawee quer fazer com que os alunos coloquem a mão na massa. Ou melhor, nos teclados. Fundada em 2017, a startup trabalha com a realização de hackathons. São maratonas de programação nas quais os candidatos que estão na busca por uma vaga de emprego no setor de tecnologia são testados na prática e precisam resolver algum problema ou criar algum serviço ou produto usando técnicas de programação. Pelo lado das empresas, as maratonas ajudam os recrutadores a identificarem quais profissionais realmente estão aptos ao trabalho que será exercido. “O mundo cobra uma capacitação profissional cada vez maior”, diz Eduardo Cabrera, CEO da Mazars Cabrera, consultoria focada em desenvolvimento empresarial. “É preciso ter uma visão sistêmica, o domínio da tecnologia e o conhecimento de plataformas digitais.”

Apenas com investimento próprio, a companhia já conseguiu conquistar clientes como o Banco Original e a instituição de ensino SENAI, além de ter realizado serviços para outras universidades, como a Faculdade Impacta. “Não acreditamos no modelo de educação tradicional”, afirma Rodrigo Terron, fundador e CEO da Shawee. “Prezamos pelo compartilhamento de conhecimento entre as pessoas. É algo que pode ser feito com os hackathons”. O preço de cada maratona varia de acordo com fatores como número de participantes, premiação oferecida, local em que o evento será sediado, entre outros. Em média, uma empresa pode gastar entre R$ 15 mil e R$ 300 mil.

Os bons resultados da Tamboro e da Shawee não são por acaso. Em 2016, um estudo realizado pela consultoria Deloitte já apontava um aumento de 42% na quantidade de companhias que investem em práticas de educação corporativa dentro de seus escritórios. A pesquisa, realizada com 126 empresas, revelou que, em média, 0,47% do faturamento obtido já era usado com o objetivo de educar profissionalmente seus funcionários. “As empresas estão em busca de uma mudança e de uma estruturação”, diz Marcos Braga, diretor da Deloitte e responsável pela pesquisa. “Elas precisam assumir e abraçar esse papel de educadores.”


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