Felipe Sotto-Maior não foi o típico aluno da tradicional Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Ele descobriu, nas arcadas da São Francisco, que sua vocação era gerir dinheiro. Sotto-Maior montou um clube de investimentos com os colegas e amealhou R$ 1 milhão. Em 2006, o tradicional Centro Acadêmico 11 de Agosto perdeu uma fonte de receita com a implantação da Lei Cidade Limpa, e Sotto-Maior estruturou um fundo de investimentos que garantisse recursos à organização. Tempos depois, ele foi convidado pela Escola Politécnica da USP para repetir o feito.

Das duas iniciativas nasceu o site Comparação de Fundos. Foi o embrião da gestora de investimentos Vérios, uma fintech criada por ele no final de 2015. A proposta é ajudar o investidor a diversificar as aplicações financeiras usando robôs, os algoritmos que acompanham os movimentos de mercado e calculam a melhor alocação de recursos. Antes disponíveis apenas para os clientes dos private banks, os robôs agora são acessíveis a investidores menos endinheirados. Na Vérios, a aplicação mínima é de R$ 12 mil, embora a fintech esteja testando um aporte inicial de R$ 5 mil.

Sotto-Maior não está sozinho nesse mercado. A pioneira foi a Magnetis, fundada em março de 2015 por Luciano Tavares, ex-gestor da Nest Investimentos. No lançamento, a empresa exigia R$ 25 mil de aporte inicial, mas essa cifra caiu para R$ 15 mil. Na média, a tarifa é de 0,76% ao ano. Isso inclui os 0,40% cobrados pela Magnetis e as taxas de custódia das ações e de administração dos fundos que, somadas, podem chegar a 1%. Ao se cadastrar e preencher um questionário, o cliente abre uma conta na distribuidora de valores Easynvest, parceira da fintech. “Nós alocamos os recursos, mas eles não passam por nós”, diz Tavares.

No reino dos lgoritmos: Felipe Sotto-Maior, da Vérios e Luciano Tavares (à direita) da Magnetis, a primeira a apostar no robô advisory
No reino dos algoritmos: Felipe Sotto-Maior, da Vérios e Luciano Tavares (à direita) da Magnetis, a primeira a apostar no robô advisory (Crédito:Felipe Gabriel e Divulgação)

Ele não divulga quanto administra, mas afirma que a aplicação média por cliente é de R$ 150 mil e que 30 mil interessados fazem simulações no sistema todos os dias. “Nossa meta é administrar R$ 1 bilhão até 2019.” Tavares tem alguns pesos-pesados do mercado como sócios. Os fundos de venture capital 500 Startups, Monashees e Red Point, e o investidor Guilherme Horn, fundador da corretora Ágora (que foi vendida ao Bradesco por R$ 1 bilhão), investiram R$ 3,2 milhões na fintech. “Imaginamos que 12 milhões de brasileiros tenham entre R$ 15 mil e R$ 500 mil para investir”, diz Tavares. “Isso é um montante de R$ 600 bilhões e queremos uma fatia desse negócio.” Os investimentos incluem CDBs, fundos DI, multimercados e ETFs e Letras de Crédito Agrícola e Imobiliário (LCA e LCI).

Em outubro do ano passado surgiu a caçula da turma, a gaúcha Warren. Fundada pelos irmãos Tito e André Gusmão e por Rodrigo Grundig, ela tem como investidor Marcelo Maisonnave, um dos fundadores da XP Investimentos. Segundo Tito Gusmão, a Warren tem 30 mil clientes na lista de espera, cinco mil cadastrados e mais de mil ativos. “A indústria de investimentos é cheia de conflitos de interesse, pois muitas distribuidoras recebem comissões de fundos e os bancos nem sempre indicam a melhor solução para os clientes”, diz ele. “Queremos mudar isso com uma plataforma fácil de usar.” A Warren cobra 0,80% dos recursos ao ano – já incluindo a taxa de administração dos fundos – e o investimento mínimo é de R$ 100. Para os gaúchos, o ticket ideal gira em torno de R$ 3 mil.

O quarteto: À frente da gaúcha Warren estão os irmãos Tito e André Gusmão, Rodrigo Grundig e o investidor e ex-fundador da XP Investimentos, Marcelo Maisonnave (da esq. para a dir.)
O quarteto: À frente da gaúcha Warren estão os irmãos Tito e André Gusmão, Rodrigo Grundig e o investidor e ex-fundador da XP Investimentos, Marcelo Maisonnave (da esq. para a dir.) (Crédito:Divulgação)

A Warren – cujo nome homenageia o bilionário americano Warren Buffett – oferece oito tipos de carteiras. As alocações variam desde as que oferecem apenas ativos de renda fixa, indicadas para perfis mais conservadores, até as que combinam fundos multimercados, ETFs de índices no Brasil e no exterior, e fundos de ações. Os algoritmos definem os percentuais de cada ativo financeiro de acordo com os objetivos, recursos e perfil do cliente, com base num questionário que o investidor preenche no site da empresa. Em três meses, o fundo mais diversificado da Warren, que foi aberto em outubro e combina investimentos em títulos públicos e em três ETFs, rendeu 4,87%.

Já na Vérios o investimento inicial caiu de R$ 50 mil para R$ 12 mil em setembro de 2016. Entre as aplicações, títulos do tesouro direto e ETFs. “Estamos estudando incluir fundos imobiliários, LCAs e LCIs no portfólio para os investidores que buscam mais risco”, diz Sotto-Maior. “Mesmo em nossa carteira mais agressiva, o risco é moderado.” A remuneração varia entre 0,20% e 0,55%, de forma que o custo total, que inclui as taxas de administração dos fundos e de custódia, não ultrapasse 0,95% ao ano.

Lá, uma equipe de 11 pessoas administra cerca de R$ 100 milhões em recursos. A fintech possui parceria com a distribuidora Rico, que desde agosto de 2016 também oferece seu próprio robô consultor, chamado de Alkanza. Lá, os cerca de 650 clientes ativos podem ter seus recursos aplicados (a partir de R$ 5 mil) em títulos do tesouro direto e fundos ETFS. A taxa de administração é de 0,50% sobre o valor investido e os clientes pagam também as taxas de custódia dos ativos. O Alkanza que se prepare, pois as carteiras ficarão ainda mais complexas. “Estudamos incluir fundos de renda fixa e de renda variável”, afirma Mônica Saccarelli, sócia da Rico Investimentos.