Painéis touchscreen de diferentes tamanhos mostram, em tempo real, os lotes de uma determinada fazenda e a ação das máquinas agrícolas naquela área. Basta um zoom e mais um clique para ver também os indicadores de desempenho dos equipamentos. O nível de detalhamento chega até mesmo ao tempo gasto por uma colheitadeira – que pode ser um veículo autônomo – em cada curva para sair de uma linha da lavoura, chamada de talhão, e entrar na próxima. Tudo isso pode ser conferido também na tela do smartphone. Essa integração digital, exemplo da agricultura 5.0, estava entre as principais atrações da Agrishow, uma das maiores feiras globais de tecnologia agrícola. O evento, que acontece em Ribeirão Preto (SP), abriu os portões na segunda-feira (25) e termina na sexta (29), com a perspectiva de receber mais de 150 mil pessoas de diversas partes do Brasil e do mundo.

A Agrishow é realizada por um pool de entidades do setor: Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e Sociedade Rural Brasileira (SRB). Esta edição foi marcada por uma grande expectativa. Após 25 anos ininterruptos, o evento não foi realizado nos dois últimos por conta da pandemia da Covid-19. Ficou estampada na fisionomia das pessoas a demanda reprimida durante essa espera, tanto pelo convívio social quanto pelas oportunidades de negócios. Na última edição, em 2019, as cifras chegaram a R$ 2,9 bilhões. Para este ano, espera-se faturamento em torno de R$ 6 bilhões, mais que o dobro. Ao menos na opinião do presidente de honra da feira, Maurílio Biagi Filho.

Recursos para confirmar esse otimismo não faltaram. De acordo com a organização do evento, a verba disponível para financiar os sonhos de consumo dos produtores rurais foi cerca de R$ 12 bilhões. Só o Banco do Brasil esperava somar R$ 2 bilhões em propostas e sair da feira com pelo menos R$ 500 milhões em negócios fechados. Entre os bancos privados, o Bradesco pretendia superar esse meio bilhão e o Santander, dobrar tal montante. As cooperativas de crédito chegaram ao evento com mais de R$ 7 bilhões já pré-aprovados.

Essa fartura reflete a relevância do agronegócio para as finanças do País. “A indústria do agro produz muito e contribui fortemente para a economia nacional”, disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. Já no primeiro dia da feira, o dirigente chegou a participar de uma reunião operacional com a Caixa Econômica Federal, que pretende ganhar espaço no setor a partir do próximo Plano Safra. “Queriam nossa opinião porque estamos na ponta, ouvimos muito o campo para saber o que é preciso melhorar. Esse é um dos motivos pelos quais estamos na Agrishow.”

BOM MOMENTO Grande parte das negociações da Agrishow envolvem máquinas agrícolas, segmento que está aquecido. De acordo com a Abimaq, as compras desses equipamentos cresceram 9% no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2021. A estimativa era de 5%. Os dados para o ano todo ainda não foram atualizados, mas a projeção deve crescer, segundo o presidente da entidade, José Velloso Dias Cardoso. “A Agrishow está mostrando isso, inclusive com expectativa de quebra de recordes”, afirmou.

Para o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos Agrícolas da Abimaq, Pedro Estevão, esse avanço nas aquisições tem relação direta com o aumento de área plantada. Segundo levantamento da safra de grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), serão cultivados 72,8 milhões de hectares na safra 2021/22, 4,4% a mais do que na última temporada, ou seja, 3,1 milhões de hectares a mais. “Os produtores precisam de máquinas novas para fazer frente a esse aumento”, disse o dirigente.

Uma boa vantagem de estar na Agrishow é que, exceto pelas altas temperaturas de Ribeirão Preto, o agricultor sente como se estivesse em um shopping center. Basta ir de um lado a outro para visitar os estandes e ºconhecer as diferentes opções e versões de equipamentos apresentados pelas principais marcas do setor, tecnologia embarcada, eficiência produtiva, qualidade de serviços e atendimento, modelos de negócio, além de comparar valores e barganhar o quanto quiser. As montadoras estavam preparadas para isso.