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Levante a mão aquele que, ao se deparar com um produto simples, barato, usado no cotidiano de milhares de pessoas, nunca tenha se perguntado ?por que eu não pensei nisso antes? e, em seguida, sentisse um forte desejo de cumprimentar o autor da idéia. Canudos flexíveis, por exemplo, um artigo indispensável em qualquer lanchonete ou bar que se preze. Quem fabrica? E quem faz os palitos de dente, instrumento para saciar o tradicional (e discutível) hábito brasileiro? Também teve quem pensou em colocar a fitinha do Senhor do Bonfim em escala industrial e confeccionar pentes de plástico que viraram vedete nas barraquinhas de camelôs. A lista é enorme: fitas adesivas, rolos de papel alumínio, vassouras e toda sorte de produtos de baixo, baixíssimo valor agregado. Tem até terço para rezar em formato de cartão de crédito. Por que você não pensou nisto antes?
Conheça Waldir, João, Oswaldo, Waldemar, Luís e Fábio. São alguns membros do restrito clube de empresários que, a partir de uma idéia simples, uma estrutura industrial modesta, parcos recursos e muito suor, fizeram fortuna com produtos que custam menos de um real, vendidos no atacado ou varejo. Todos eles já ultrapassaram a barreira do milhão de reais em faturamento. Alguns, com mais tempo de mercado e acesso mais fácil ao crédito, conseguiram montar um bom parque fabril. Outros, ainda estão instalados em galpões na periferia ou no interior de São Paulo, com uma estrutura enxutíssima: poucos funcionários e poucas máquinas, adquiridas de segunda mão. Acompanhe a seguir a trajetória dos empresários ?pop? e a fórmula deles para transformar um real em milhões:

Canudo milionário
Quando o empresário Waldir Fernandes, 48 anos, avisou que iria montar uma fábrica de canudos e de espetinhos de bambu para churrasco há seis anos, ouviu sorrisinhos abafados de pessoas próximas. Hoje, quem ri é Waldir. Sua companhia, a Empresa Brasileira de Plásticos Ltda. fatura R$ 3 milhões por ano, vendendo 1,8 bilhão de unidades de canudos e 108 milhões de espetinhos de bambu. Tudo começou durante uma conversa entre Waldir Fernandes e sua esposa Lurdes. Dispostos a arriscar as economias no ramo industrial, eles souberam que um microempresário da cidade de Itapira (SP) estava se desfazendo de sua pequena fábrica de canudos. A operação resumia-se a uma máquina. O negócio foi fechado por módicos R$ 23 mil, pagos em suaves prestações. ?Cheguei a trabalhar de domingo a domingo por dois anos para dar conta das encomendas ?, lembra Fernandes. Nesta época, Fernandes assumiu as tarefas de operar a máquina, embalar o produto e tentar vendê-lo a pequenos comerciantes da periferia de São Paulo. Para alavancar o negócio, ele decidiu reinvestir os lucros na própria fábrica. ?Vamos partir para a produção de móveis e tábuas para piso, feitos de bambu?, diz.

Ajuda alemã
Uma feira de máquinas, na Alemanha, mudou os destinos da Camponesa Industrial Ltda., fabricante de vassouras e rodos. Foi lá que o empresário João Baptista Forlani Filho comprou, por US$ 120 mil, uma tufadeira (usada para colocar piaçava ou fibra sintética na base do produto). Com este equipamento em mãos ele pôde dar novo ritmo à empresa, credenciando-a a brigar com as líderes Condor e Bettanin. E com preços 10% menores. Da fábrica de Forlani saem cerca de 112 mil vassouras e rodos por mês, que garantem faturamento em torno de R$ 3 milhões ao ano. Forlani ampliou a linha para outros artigos de limpeza (tais como pá para lixo, escova e desentupidor de pia). Para suportar a demanda, ele abandonou o velho galpão e instalou-se em outro de 1.300 metros quadrados no mesmo bairro.

 

Terço em forma de cartão
Rezando, o empresário Waldemar Foschini aumentou seu rendimento anual em R$ 1,2 milhão. Milagre? Não. Waldemar teve a feliz idéia de criar uma versão high tech do terço, um artigo religioso milenar. O Terço Card, como foi batizada sua invenção, é parecido com um cartão de crédito. Confeccionado em PVC, o produto pode ser carregado na carteira e nada deixa a dever para o terço tradicional. Para não perder as contas das ave-marias e padres-nossos a serem rezados, o cartão possui bolinhas prateadas em alto relevo. ?O terço era o mesmo desde o século 13?, justifica o empresário, que cobra R$ 0,80 por cartão. A idéia não surgiu dos céus. Antes de criar a Presscard, há quatro anos, Waldemar já fabricava cartões magnéticos para bancos e administradoras de cartões de crédito. Foi quando ele percebeu que poderia lucrar com produtos de baixo valor agregado, que custam menos de R$ 1 por unidade. Como precisa vender em grande quantidade, a Presscard incluiu entre seus clientes algumas editoras e também bancas e centros comerciais de Aparecida do Norte, cidade do interior de São Paulo que recebe romeiros de todo o Brasil. A próxima tacada do empresário será a fabricação de terços bizantinos para os fiéis do padre Marcelo Rossi. Seu objetivo é bem claro: aumentar a produção mensal de 80 mil para 280 mil terços.

Reis do palito
Foram 100 bilhões de palitos em 45 anos de atividade da empresa Gina. Oswaldo Rela Junior, um dos herdeiros e presidente da empresa que leva o apelido de sua avó, exibe orgulhoso a espantosa marca. O sucesso empresarial foi alcançado graças à praticidade do produto. Em 1976, enquanto os concorrentes vendiam palitos envolvidos em papel celofane, a Gina inovou e começou a vendê-los em embalagens de papelão. Assim, podiam ser levadas à mesa, como paliteiro. A unidade, hoje, é vendida no atacado a R$ 0,15 e garante 40% do faturamento da empresa, de R$ 24 milhões. O restante provém de palitos para churrasco, pregadores de roupa, canudos plásticos e papel alumínio. Nada mal para uma empresa que nasceu a partir de uma oficina mecânica.

Vitória sobre multinacional
Luis Gonzaga Dias montou, em 1967, uma fábrica de fitas celofanes e a batizou com o nome de Adere. Com o irmão fez a sociedade, que hoje é uma das maiores fabricantes de fitas adesivas do País, com faturamento de R$ 40 milhões anuais. A fita crepe, seu carro-chefe, tem 40% do mercado brasileiro. Boa parte das conquistas está associada ao preço, R$ 0,80, cerca de três vezes mais baixo do que o das fabricantes internacionais, como a 3M. Essa vantagem, no entanto, não tem evitado a queda de produção na Adere ? a empresa está produzindo a 60% da capacidade. A melhora nas vendas, segundo Luís, é esperada para este ano.

Aliança com os grandes
Foi em uma garagem de 200 metros quadrados no bairro de Sapopemba, na zona leste de São Paulo, há quinze anos, que o empresário Fábio Guaraná começou sua carreira empresarial. Ele recebeu ajuda da família para montar um pequeno negócio com produtos derivados do alumínio. Vislumbrando alianças com grandes varejistas, Fábio saiu de Sapopemba para montar uma fábrica de 1.800 metros quadrados em Cajamar, interior de São Paulo. Hoje emprega mais de 70 pessoas, abastece os supermercados das redes Sonae, Sendas e Pão de Açúcar com seu produto de R$ 0,75 e exibe uma receita anual de R$ 15 milhões. O próximo passo: inaugurar a fábrica em Campo Limpo Paulista, que consumiu investimentos de R$ 1 milhão. No fim do ano, quando estiver em operação, a nova unidade praticamente dobrará a produção da companhia, para 280 toneladas por mês. Em rolos de alumínio, isso significará passar de 1 milhão de unidades mensais para 2,5 milhões. Dentro deste volume está a produção do rolos Alfa, marca feita exclusivamente para a rede Pão de Açúcar. Campo Limpo fabricará ainda esquadrias, um novo filão a ser explorado pelo empresário. Fábio também pretende exportar para os países do Mercosul. De resto, o dono da Alumileste só quer uma coisa: curtir os 18 cavalos quarto-de-milha que mantém em seu haras, na mesma Campo Limpo Paulista onde vai construir a fábrica.