O setor de telecomunicações é um lugar confortável para o mexicano Carlos Slim, fundador da América Movil – dona da Claro, Net e Embratel – a maior empresa do setor na América Latina. Ele é o sétimo homem mais rico do mundo, com um patrimônio estimado em US$ 67,1 bilhões. Slim começou a formar a sua fortuna com os lucros da Telex, estatal de telefonia do México que comprou em 1991 e manteve o monopólio do serviço no país por mais de duas décadas. Com larga experiência no ramo, ele teve a tranquilidade de esperar mais de dois anos para arrematar, na semana passada, a Nextel Brasil, subsidiária da americana NII Holdings, por R$ 3,4 bilhões. A paciência foi recompensada. Com a aquisição, a Claro, que estava praticamente empatada com a Tim na segunda posição do mercado, dá um passo à frente e crava o seu lugar na vice-liderança com 26% de participação. A Vivo se mantém como líder, com 31,9% enquanto a Tim se distancia levemente para o terceiro lugar, com 24,4%.

A participação de 1,4% da Nextel no mercado, apesar de pequena, é valiosa para a Claro. Isso significa acréscimo de 3,3 milhões de clientes com contratos de planos pós-pagos em sua base, ou uma receita anual de R$ 2,4 bilhões. Como a maior parte desses contratos foram firmados em São Paulo e no Rio de Janeiro, os maiores mercados do País, isso fortalece a companhia frente à concorrência. “Mais do que aumentar a participação no setor, as operadoras estão perseguindo o incremento de receitas”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. Analistas afirmam que a Claro pode se tornar mais agressiva nas ofertas de serviços móveis. “Isso porque a maior vantagem que a operadora teve com a compra da Nextel são as frequências adquiridas”, diz Tude, presidente da consultoria Teleco.

Ao adquirir os ativos da concorrente, a Claro não precisa investir em infraestrutura para aumentar a cobertura e pode melhorar a prestação de serviços em relação à velocidade da troca de dados. “O ativo mais valioso é a frequência de 1.8MHz da Nextel, pois possibilita à Claro aumentar a cobertura 4G”, escreve em relatório Carlos Sequeira, analista do BTG Pactual. Ele calcula que o valor atual de todas as frequências adquiridas com o negócio é de aproximadamente R$ 2,7 bilhões.

Carlos Slim: grande parte da fortuna de US$ 67,1 bilhões veio do setor de telecomunicações (Crédito:Bloomberg)

ANATEL O negócio ainda precisa passar pela aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Mas, de acordo com autoridades, isso não será um problema. “O Brasil tem o mercado móvel menos concentrado do mundo”, diz Abraão Balbino, superintendente de competição da Anatel. “Não tenho dúvida de que a compra deve ser aprovada e sem restrição significativa”, diz.

Quem acabou ficando numa situação mais delicada foi a Tim, que disputava a compra da Nextel. “Das quatro principais operadoras de telecomunicações do Brasil, a Tim precisava mais da Nextel, pois tem maior carência em relação à infraestrutura para cobertura móvel, e especialmente das redes de baixa frequência”, apontou Sequeira, do BTG. O cenário alimentou rumores de que a Tim poderia fazer uma oferta pela Oi, que está em recuperação judicial e tem 16,4% do mercado. Para Valder Nogueira, analista do Santander, a compra da Nextel pela Claro não deve ser a mola propulsora para essa eventual fusão. “A principal justificativa para a Tim se fundir com a Oi seria a rede de infraestrutura fixa, e não as faixas de frequência”, escreveu ele, em relatório. De qualquer maneira, a possível compra exigirá um grande investimento. A empresa que se interessar pela Oi terá de estar preparada para pagar entre R$ 15 a R$ 20 bilhões pela operadora.

Após perder a briga com a América Movil pela Nextel e a consequente oportunidade de melhorar sua rede, a Tim passa a olhar para frente, e deve aumentar ainda mais a pressão para que o leilão do 5G – no qual serão ofertadas também faixas de baixa frequência – aconteça conforme o cronograma, em março de 2020. Do outro lado, Vivo, Claro e Oi, que têm uma sólida rede de infraestrutura, devem pressionar para o adiamento. Na avaliação de Balbino, da Anatel, o leilão deve criar cenário para que seja travada nova corrida para as empresas. “Todas as operadoras vão partir do zero nessa disputa pelo 5G, e quem conseguir mais faixas no leilão estará na frente das concorrentes”, diz. Tem mais briga boa vindo por aí.