Os 27 países da União Europeia estão com suas fronteiras reabertas para os turistas estrangeiros. Essa informação pode ser lida de três formas no Brasil. A notícia é boa por ser a esperança da volta à normalidade e o ensaio para o reaquecimento do tão fragilizado mercado turístico mundial. Também é frustrante porque não estamos incluídos nesse processo de retomada, já que para participar da festinha de reabertura é preciso apresentar o Passaporte Covid-19, com comprovante de imunização. Sobretudo é uma aula sobre boas práticas e gestão em tempos de pandemia. O lançamento oficial da plataforma que liberará a entrada no velho continente aconteceu na terça-feira (1º), e garante autonomia para cada uma das nações escolher a melhor forma de participar da reabertura de uma nova era da forma mais segura para sua população e economia.

Em linhas gerais, ficou definido que o novo sistema de passaporte digital de vacinação só irá aceitar, em um primeiro momento, as vacinas contra Covid que possuem autorização da Organização Mundial da Saúde (OMS), como a AstraZeneca/Oxford – no Brasil produzida e distribuída pela Fiocruz –, Johnson & Johnson, Moderna e Pfizer/BioNTech, já aprovadas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês). Na terça-feira (1), o órgão internacional de saúde aprovou o uso emergencial da CoronaVac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, o que deve dar aos brasileiros mais uma opção de entrada na Europa quando o passaporte começar a valer. Dessa forma, por ora, alguns imunizantes, como a russa Sputik, ficam fora da lista.

Além dos viajantes vacinados, também se decidiu reabrir as fronteiras da UE para países considerados seguros para a Covid-19, como Austrália, Estados Unidos e Japão. A relação será feita com base em critérios epidemiológicos. As regras atuais permitem que apenas pessoas de países onde a taxa de infecção é menor do que 25 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias possam entrar na UE. A ideia é ampliar esse limite para 75 contágios por 100 mil habitantes nas últimas duas semanas. A iniciativa, capitaneada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deve normalizar a decisiva e estratégica indústria do turismo na Europa até o fim deste ano. “Com o avanço da imunização no Hemisfério Norte e a aprovação de novas vacinas pela Agência Europeia de Medicamentos, poderemos ter uma reabertura mais segura”, disse, em coletiva de imprensa, na semana passada.

PREPARADOS PARA REABRIR Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, diz que bloco estará de portas abertas até o final deste ano. (Crédito:Philip REYNAERS/POOL/AFP)

Segundo ela, caberá a cada um dos países do bloco autorizarem internamente suas regulamentações para início oficial do programa. Cada Estado terá a liberdade de ajustar essas medidas se quiserem adotar uma abordagem mais conservadora e exigir, por exemplo, testes negativos e quarentenas para viajantes de alguns dos países. Serão considerados como totalmente vacinados aqueles que receberam a segunda dose num prazo de pelo menos 14 dias.

ABAIXO DO EQUADOR Para economista Luiz Medeiros, especialista em Relações Internacionas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o efeito positivo do início da normalização do velho continente endossa a tese de que não existe contradição entre economia e saúde. “Com um grande porcentual da população já vacinado, os países europeus se dão o luxo de relaxar as restrições e reanimar a economia com a volta do turismo”, disse. “O setor responde por 7% da economia europeia, mas chega a 13% na Itália e a 15% na Grécia.”

A volta do turismo virá pelos países desenvolvidos. A América Latina deve demorar para se recuperar porque a crise prejudicou mais a renda. A população de países mais desenvolvidos, além da vacina, possui disponibilidade de renda para o turismo. Por aqui, enquanto a vacinação segue aos trancos e barrancos, o setor do turismo aposta no gradual reaquecimento da demanda interna, turbinado pelo dólar caro e restrições de circulação mundo afora. Pelo menos nas próximas férias, o turista brasileiro terá de se contentar com as dicas de viagem do ministro Paulo Guedes – como Foz do Iguaçu e Cachoeiro de Itapemirim – sem que haja prazo para a volta dos destinos internacionais.