03/06/2021 - 11:00
Os 27 países da União Europeia estão com suas fronteiras reabertas para os turistas estrangeiros. Essa informação pode ser lida de três formas no Brasil. A notícia é boa por ser a esperança da volta à normalidade e o ensaio para o reaquecimento do tão fragilizado mercado turístico mundial. Também é frustrante porque não estamos incluídos nesse processo de retomada, já que para participar da festinha de reabertura é preciso apresentar o Passaporte Covid-19, com comprovante de imunização. Sobretudo é uma aula sobre boas práticas e gestão em tempos de pandemia. O lançamento oficial da plataforma que liberará a entrada no velho continente aconteceu na terça-feira (1º), e garante autonomia para cada uma das nações escolher a melhor forma de participar da reabertura de uma nova era da forma mais segura para sua população e economia.
Em linhas gerais, ficou definido que o novo sistema de passaporte digital de vacinação só irá aceitar, em um primeiro momento, as vacinas contra Covid que possuem autorização da Organização Mundial da Saúde (OMS), como a AstraZeneca/Oxford – no Brasil produzida e distribuída pela Fiocruz –, Johnson & Johnson, Moderna e Pfizer/BioNTech, já aprovadas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês). Na terça-feira (1), o órgão internacional de saúde aprovou o uso emergencial da CoronaVac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, o que deve dar aos brasileiros mais uma opção de entrada na Europa quando o passaporte começar a valer. Dessa forma, por ora, alguns imunizantes, como a russa Sputik, ficam fora da lista.
Além dos viajantes vacinados, também se decidiu reabrir as fronteiras da UE para países considerados seguros para a Covid-19, como Austrália, Estados Unidos e Japão. A relação será feita com base em critérios epidemiológicos. As regras atuais permitem que apenas pessoas de países onde a taxa de infecção é menor do que 25 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias possam entrar na UE. A ideia é ampliar esse limite para 75 contágios por 100 mil habitantes nas últimas duas semanas. A iniciativa, capitaneada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deve normalizar a decisiva e estratégica indústria do turismo na Europa até o fim deste ano. “Com o avanço da imunização no Hemisfério Norte e a aprovação de novas vacinas pela Agência Europeia de Medicamentos, poderemos ter uma reabertura mais segura”, disse, em coletiva de imprensa, na semana passada.
Segundo ela, caberá a cada um dos países do bloco autorizarem internamente suas regulamentações para início oficial do programa. Cada Estado terá a liberdade de ajustar essas medidas se quiserem adotar uma abordagem mais conservadora e exigir, por exemplo, testes negativos e quarentenas para viajantes de alguns dos países. Serão considerados como totalmente vacinados aqueles que receberam a segunda dose num prazo de pelo menos 14 dias.
ABAIXO DO EQUADOR Para economista Luiz Medeiros, especialista em Relações Internacionas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o efeito positivo do início da normalização do velho continente endossa a tese de que não existe contradição entre economia e saúde. “Com um grande porcentual da população já vacinado, os países europeus se dão o luxo de relaxar as restrições e reanimar a economia com a volta do turismo”, disse. “O setor responde por 7% da economia europeia, mas chega a 13% na Itália e a 15% na Grécia.”
A volta do turismo virá pelos países desenvolvidos. A América Latina deve demorar para se recuperar porque a crise prejudicou mais a renda. A população de países mais desenvolvidos, além da vacina, possui disponibilidade de renda para o turismo. Por aqui, enquanto a vacinação segue aos trancos e barrancos, o setor do turismo aposta no gradual reaquecimento da demanda interna, turbinado pelo dólar caro e restrições de circulação mundo afora. Pelo menos nas próximas férias, o turista brasileiro terá de se contentar com as dicas de viagem do ministro Paulo Guedes – como Foz do Iguaçu e Cachoeiro de Itapemirim – sem que haja prazo para a volta dos destinos internacionais.