Elas já foram conhecidas como blogueiras, facebookers e instagramers. Hoje, são chamadas de influenciadoras digitais. “Nem é uma questão de mudança de nome”, afirmou a paulistana Consuelo Blocker, 56 anos, com 400 mil seguidores no Instagram. “É a evolução do nosso trabalho e a necessidade de nos reinventarmos e nos adaptarmos às novidades.”

Consuelo é uma das influenciadoras digitais mais conhecidas pelas brasileiras. Seu público predominante tem mais de 40 anos, com alto poder de compra e se interessa por dicas de beleza, moda e estilo de vida. “Minha seguidora não quer se tornar quem eu sou, e sim ser uma versão melhor dela própria, espelhando-se em mim.”

Não à toa, marcas de cosméticos como Nioxin, da Wella, para o tratamento de afinamento e queda capilar, e Clinique, de cuidados com a pele, são parceiras de Consuelo. É a oportunidade de associar a marca à imagem de uma mulher admirada por ser bonita, viajada e segura das próprias qualidades, independentemente da faixa etária.

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“Criamos uma empresa de coquetéis engarrafados e achamos essencial informar que é #blackowned” Xan Ravelli, influenciadora e Empresária.

Seja qual for o público-alvo, hoje é impensável, para qualquer empresa, ignorar o alcance dos influenciadores digitais. Sobretudo no Instagram, ferramenta essencialmente visual, com 1,158 bilhão de usuários distribuídos por praticamente todo o globo. Realidade bem diferente daquela em que as mídias sociais ainda buscavam o próprio modelo de publicidade. “Quando me tornei influenciadora, nem Instagram existia”, disse Lelê Saddi, atualmente com 413 mil seguidores na plataforma. A trajetória como influenciadora teve início em 2008, quando passou a produzir conteúdo para o site da extinta Daslu. Desde então, viu surgir novas mídias e a evolução do marketing de influência. “As marcas começaram a perceber como influenciadores geram vendas e posicionamento”, afirmou. “Eu estava no meio do caminho e entendi que seria uma oportunidade ajudá-las a trabalhar com influenciadores, pois tenho a visão dos dois lados.” Com o amigo Fernando Bento, ela criou, então a PopComm, assessoria de comunicação para marcas e influenciadores. Também está à frente da We Pick Agency, que cuida do marketing e da inserção de marcas no mercado digital, com Dove, Johnson & Johnson e Nespresso entre os clientes.

FÓRMULA PRÓPRIA Influenciadoras construíram uma base peculiar para estratégias de comunicação: há anos, testam produtos enviados diariamente por marcas, mantêm canal direto com potenciais consumidoras e desenvolveram um poderoso networking. Por isso, várias delas, além de divulgar produtos, lançaram marcas próprias, caso de Camila Coutinho, com a linha para cabelos GE Beauty, e Mica Rocha, com os sapatos e acessórios Margaux, entre muitos outros exemplos. Muitas têm o cuidado de não vincular o próprio nome ao produto que lançam. Assim, já consideram a possibilidade de o negócio não dar certo ou de, futuramente, decidirem vender a marca, já bem sucedida, a um grupo maior”. Nenhuma abre números e as agências não divulgam tabelamentos: os contratos dependem de fatores como uso de imagem, projetos e interesses pessoais das influenciadoras.

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“Entendi que seria uma oportunidade ajudar as marcas a trabalhar com influenciadores, pois conheço os dois lados” Lele Saddi, Empresária e influenciadora.

Quando criou no Youtube o canal Soul Vaidosa, em 2013, a terapeuta Xan Ravelli, 39 anos, focava em dicas de beleza. “Sou uma mulher negra e sei que falar sobre beleza para a gente envolve uma série de coisas”, afirmou a influenciadora, que viu o tema de seu canal evoluir naturalmente para assuntos relacionados a autoestima e feminismo negro, conquistando mais de 70 mil inscritos. Resultado: foi convidada para ser colunista do UOL e, no Instagram, surgiram as parcerias comerciais – Xan é embaixadora da Buscofem no Brasil. O trabalho como influenciadora é hoje sua principal fonte de renda, suficiente para empreender em outros segmentos. Xan lançou com o marido, o bartender Paulo Ravelli, a empresa 50/25 Co., de coquetéis engarrafados, no auge do movimento #BlackLivesMatter. “Achamos essencial, então, informar que a empresa é #BlackOwned, com toda a força de trabalho de profissionais negros.”

PROPÓSITO Segundo o estudo Social Media Trends 2021, da empresa de análise de mídias Talkwalker, a tendência nas redes sociais é o crescimento de movimentos que criaram relevância em 2020. Ao dialogar com públicos conscientes, formados pelas gerações millennials e Z, as marcas terão que tratar de temas como diversidade e saúde alimentar para não se tornarem arcaicas. Nessa onda, começam a se destacar os chamados transformadores, que se destacaram nos movimentos de conscientização como o #BlackLivesMatter e #MeToo. É provável, então, que os chamados influenciadores abram espaço para uma nova forma de atuação digital, a dos defensores.