A família Safra é uma lenda no mundo das finan-
ças. No Brasil e além. Existe uma mística em torno
do clã que remonta aos tempos em que Jacob, o patriarca, iniciou seu primeiro banco em Alepo, atual Síria, no início do século passado. Os filhos segui-
ram o caminho e também se transformaram em banqueiros de sucesso. Edmond, que morreu num incêndio criminoso em seu apartamento em Mônaco, em 1999, fez do seu Republic National Bank of New York uma referência mundial no comércio de ouro ?
ou ?safra?, como o metal é chamado em árabe. No Brasil, os irmãos Joseph e Moise viraram sinônimo de gestão de grandes fortunas com o banco Safra. Os irmãos estão no topo da lista dos brasileiros mais ricos, com uma fortuna estimada em US$ 4,7 bilhões. Agora, entra em cena o mais novo membro da dinastia Safra. Alberto Joseph Safra, o filho mais
novo de Joseph, está entrando no ramo bancário
e vai comandar o banco J. Safra, que está sendo
estruturado na cidade de São Paulo.

Criado em 1998 por Joseph para administrar seus investimentos pessoais, o J. Safra está tomando outros caminhos. A nova estratégia deverá centrar o foco no segmento de alta renda, tanto administrando fortunas quanto formatando operações para grandes empresas. Procurada por DINHEIRO, a família Safra ? que prima pela discrição ? preferiu não comentar os rumos do novo negócio. O mercado, porém, já sofre abalos provocados pelos movimentos dos Safra. Desde o início do ano, o J. Safra vem fazendo incursões nos principais bancos do País para recrutar um time de profissionais de primeira. Do BankBoston veio o executivo Ricardo Gallo, com a missão de administrar a carteira do próprio Joseph. Da Merryll Lynch desembarcou o ex-presidente Bernardo Parnes, tido como um dos mais experientes banqueiros de investimento do País. Caberá a ele cuidar das participações não financeiras do Grupo (como na Aracruz Celulose) e da área de atacado do banco. Outros bancos como American Express, Itaú e Santander Banespa também não escaparam do assédio. Na semana passada, o mercado tomou conhecimento que o J. Safra havia contratado, de uma só vez, quatro executivos do grupo espanhol, entre eles Marcelo de Sampaio Dória, que respondia pela diretoria de grandes corporações do Santander Banespa. ?O J. Safra teve uma atuação muito agressiva para montar toda a diretoria, que já está completa?, diz Renata Dolabella Fabrini, sócia da Fesa, uma empresa de busca e seleção de executivos. ?Muitos desses profissionais foram levados a peso de ouro?, revela.

ONTEM E HOJE
Alberto (à esq.) com o pai, Joseph, e o prédio onde funciona provisoriamente a sede do J. Safra
Os novos contratados se juntaram a uma equipe de cerca de 200 funcionários do J. Safra. O banco ocupa, no momento, um prédio alugado no bairro da Consolação, região central de São Paulo. Não há nenhuma placa com o nome J. Safra e quem visitou o edifício diz que a decoração também é modesta, bem diferente da exuberância vista na sede do Safra na avenida Paulista. A escolha do endereço ? provisório, já que o banco busca uma sede melhor localizada ? foi aprovada pelo próprio Joseph. A intenção inicial era que o novo banco ocupasse um prédio na rua Augusta, em frente à sede atual do Safra. Mas, durante a reforma, um operário morreu num acidente. Supersticioso, Joseph mandou que seus executivos encontrassem um outro lugar. O atual endereço segue uma outra exigência especial de Joseph: a presença do número cinco. Considerado seu número de sorte, o cinco está presente no endereço, no telefone e até mesmo no andar ocupado pela diretoria do J. Safra.

Os holofotes do mundo financeiro estão apontados, agora, para Alberto. Há tempos que Joseph preparava o filho para a missão. A seu irmão mais velho, Jacob, que vive em Nova York, foi dado o comando da área internacional do J. Safra. ?Alberto fez de tudo no banco, passou por todos os departamentos e foi até office-boy?, conta um funcionário do Safra. ?Além disso, ele teve o melhor professor possível, que é o pai.? Antes de assumir o J. Safra, o jovem banqueiro, tido como uma pessoa séria e introvertida, participava de reuniões e acompanhava o pai em suas raras aparições públicas. Agora, Alberto tem a oportunidade de mostrar ao mercado que aprendeu a lição. ?Os Safra não entram em negócio para perder dinheiro?, afirma Antonio Bento Furtado de Mendonça Neto, vice-presidente da consultoria francesa Solving International. ?Enquanto poucos se tornam banqueiros, eles já nascem banqueiros.?

Colaborou Alexandre Teixeira

Quem veio
Bernardo Parnes
? Ex-presidente da Merryll Lynch (à esq.)
cuidará de participações não financeiras
ASSÉDIO: J. Safra recrutou executivos
nos principais
bancos do País Marcelo Dória
? Diretor do Santander foi para o novo banco junto com três outros colegas
Ricardo Gallo
? Ex-BankBoston (à esq.) cuidará da
fortuna pessoal de Joseph Safra