No dia 11 de dezembro, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) encerrou sua última reunião de 2019, uma nova mínima histórica da taxa básica de juros (Selic) estava estabelecida em 4,5% ao ano. Dias depois, na terça-feira 17, o mercado financeiro passou a ventilar a certeza de que os rendimentos das aplicações mais seguras (poupança, CDB DI, fundos DI e Tesouro Selic) terão ganhos nominais muito baixos em 2020 — e a depender de alguma mudança brusca na economia, até podem perder para a inflação, ou seja, apresentar prejuízo real.

Caso a Selic permaneça nesse patamar ao longo do primeiro semestre de 2020, será um “novo normal” na economia brasileira. “O BC entra agora na fase de sintonia fina da política monetária, vai ser mais cauteloso e irá avaliar mais os dados antes de decidir sobre um novo corte de juros”, diz Leonardo Porto, economista-chefe do Citi Brasil. Para ele, o PIB (produto interno bruto) do quarto trimestre de 2019 será forte (+0,6%), e o do primeiro trimestre de 2020 também (+0,6%), ainda sob efeito da liberação dos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para o consumo das famílias. “Mas se a economia não responder, o BC terá deixado a porta aberta e ainda haverá espaço para a queda dos juros”, afirma.

Nas projeções do Citi para 2020, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ficar em 3,8%, abaixo da meta de 4% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “Tivemos um choque nos preços da carne por causa da gripe suína na China, mas isso é um choque momentâneo, de oferta, o BC sabe disso. Agora se isso for transmitido para serviços (restaurantes) é um efeito secundário e o BC tende a agir com mais cautela”, afirma.

JUROS AINDA MAIS BAIXOS Em seu relatório macro pós-Copom, o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, prevê que o IPCA ficará em 3,5% em 2020. “Não há ainda qualquer sinal de pressão inflacionária ao longo do horizonte relevante para a política monetária”, diz ele. A projeção anterior era de 3,7%. “Acreditamos que o presente choque no preço da proteína bovina possui viés potencialmente deflacionário à frente, uma vez que parte da alta atual nos preços pode ser devolvida ao longo do próximo ano calendário e que as expectativas de inflação não devem ser impactadas”. Mesquita entende que cenário continua condizente com cortes adicionais na Selic pelo fato de que a atividade econômica ainda apresenta um quadro de capacidade ociosa muito elevada, notadamente no mercado de trabalho. “Dessa forma, mantemos nossa expectativa de juros ainda mais baixos à frente, com dois cortes adicionais de 0,25 ponto percentual em 2020 levando a taxa Selic para de 4% ao ano”.
Se a Selic permanecer em 4,5%, com a inflação em 3,8%, os novos depósitos em caderneta de poupança — que rendem 70% da Selic — terão ganhos nominais de 3,15%, o que significa uma perda real de 0,65 ponto percentual em relação ao IPCA. Vale lembrar que as aplicações que garantam rendimento bruto de 100% da taxa de depósito interfinanceiro (DI) como fundos DI ou CDBs DI também devem mostrar perdas reais após a cobrança de impostos, que podem variar de 15% a 22,5% sobre os ganhos, a depender do tempo de permanência no produto financeiro.

A mesma lógica serve para quem aplicar no título público federal Tesouro Selic, que remunera a 100% da taxa Selic, resultado bruto antes da cobrança dos impostos e das eventuais taxas de custódia e de corretagem aferidas pela bolsa de valores e corretoras autorizadas.

A situação para o investidor de produtos tradicionais fica ainda mais complicada no cálculo feito a partir das estimativas do Itaú (Selic em 4% ao ano e IPCA em 3,5%). A caderneta de poupança renderia 0,23% ao mês ou 2,8% ao ano, com uma perda real de 0,7 ponto percentual em comparação com a inflação. Nesse ambiente, produtos como fundos DI, CDBs DI e Tesouro Selic só teriam a vantagem da liquidez diária em relação à poupança, que possui rendimento creditado a cada 30 dias. Em outras palavras, a chance de se obter algum rendimento real de aplicações a juros pós-fixados em 2020 será muito pequena, o que torna a decisão de escolha um desafio.

Ainda que o cenário pareça desalentador para quem sempre optou pela segurança na hora de investir, ele traz um horizonte promissor para aqueles que não têm medo de correr maiores riscos. Na opinião de Carlos Takahashi, CEO da BlackRock no Brasil, gestora de fundos que administra US$ 7 trilhões no mundo, é essa baixa nos juros para suas mínimas históricas que proporciona outras oportunidades de investimentos. Elas virão atreladas ao crescimento da economia. “A grande estrela dessa mudança é a taxa de juros a 4,5% ao ano. Finalmente a economia ganha tração e temos um cenário macro muito favorável pela frente, de crescimento sustentável, juro baixo e inflação baixa”, diz Takahashi, que já foi diretor da BB DTVM.

ALTA de 100% no PIB Nas estimativas do Citi, o PIB, que deverá fechar em 1,1% em 2019, avançará para 2,2% em 2020. “Será o dobro. O consumo das famílias (+2,9%) vai crescer impulsionado pelo estímulo monetário, pelo crédito. O investimento das empresas é pró-cíclico e já começa a aparecer na construção civil”, diz Leonardo Porto. A projeção do Itaú também é de crescimento de 2,2% do PIB em 2020. “A expansão do crédito ao consumo e ao investimento continua sendo o principal motor de crescimento”, afirma Mario Mesquita.

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